Um resumo apresentado no Congresso Europeu de Câncer de Pulmão, que aconteceu de 30 de março a 2 de abril, virtualmente, forneceu um roteiro das principais ações que devem ser tomadas para igualar as práticas, ajudar a possibilitar o diagnóstico precoce e oferecer acesso equitativo aos cuidados relacionados ao câncer de pulmão.
O consenso foi alcançado por uma comunidade clínica de câncer de pulmão dentro da International Cancer Benchmarking Partnership (ICBP), uma colaboração que reúne médicos, formuladores de políticas, pesquisadores e especialistas em dados para medir e entender a variação internacional na incidência e nos resultados do câncer. A nova pesquisa foi iniciada por causa dos resultados do estudo Survmark-2, da ICBP, encomendado pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, que havia revelado uma considerável variação na sobrevivência da doença em estágio inicial na comparação entre sete países de alta renda (Austrália, Canadá, Dinamarca, Irlanda, Nova Zelândia, Noruega, e Reino Unido).
“As comparações de sobrevida de câncer de base populacional entre países são importantes para avaliar a eficácia geral do tratamento do câncer”, afirma Carlos Gil Ferreira, oncologista torácico e presidente do Instituto Oncoclínicas. Para obter informações sobre as diferenças na prática clínica e no tratamento que poderiam ajudar a explicar essas disparidades entre os países, foi feita a pesquisa liderada pela equipe interna do ICBP com base no Cancer Research UK.
“É inédita e muito importante a publicação de um consenso internacional sobre os componentes críticos que contribuem para a variação nos resultados e as etapas necessárias para otimizar os serviços de câncer de pulmão e melhorar a qualidade das opções e o acesso equitativo ao tratamento com o intuito de, finalmente, melhorar a sobrevida”, explica Carlos Gil.
Foram entrevistados nove informantes-chave de equipes multidisciplinares nos países que fazem parte do ICBP, com o objetivo de desenvolver um roteiro para otimizar o tratamento do câncer de pulmão sob uma perspectiva internacional. Os membros da rede sugeriram e classificaram recomendações para otimizar o manejo do câncer de pulmão.
As recomendações definem um roteiro para ajudar a alinhar e concentrar esforços na melhoria dos resultados e no gerenciamento de pacientes com câncer de pulmão em todo o mundo.
Resultados
Cinco Chamadas à Ação e treze Pontos de Boas Práticas foram desenvolvidos e alcançaram 100% de consenso. Os apelos à ação incluem:
- Implementar iniciativas de rastreio do câncer do pulmão eficazes em termos de custos, clinicamente eficazes e equitativas;
- Garantir o diagnóstico de câncer de pulmão em 30 dias do encaminhamento;
- Desenvolver Centros Torácicos de Excelência;
- Realizar uma auditoria internacional do tratamento do câncer de pulmão;
- Reconhecer as melhorias nos cuidados e resultados do câncer de pulmão como uma prioridade na política de câncer.
Mesmo em países de alta renda, a sobrevivência da doença ainda é baixa. “É hora de focar em políticas específicas de câncer de pulmão que facilitem a colaboração, impulsionem o desenvolvimento de serviços e melhorem os resultados na mesma medida em que vimos com outros cânceres comuns”, afirma o oncologista.
Segundo Carlos Gil, apesar de melhorias em outras áreas, como prevenção, por meio de iniciativas de cessação do tabagismo e campanhas de conscientização, e até tratamento, graças à chegada de medicamentos mais eficazes, a sobrevida no câncer de pulmão não melhorou na mesma medida. “O diagnóstico tardio continua a ser um problema generalizado e é crucial que os pacientes sejam diagnosticados o mais cedo possível para que tenham melhor chance de receber tratamento curativo”, afirma.