Coronavac e AstraZeneca são marcas de vacinas mais rejeitadas pelos brasileiros, aponta estudo

O Brasil completou nove meses de campanha de vacinação contra a Covid-19 e segundo o consórcio de veículos de imprensa, junto às secretarias dos 26 Estados e Distrito Federal, ao todo, 41,7% dos brasileiros receberam o esquema vacinal completo. Um dos problemas identificados ao longo deste período foi a recusa de algumas pessoas em tomar imunizantes fabricados por determinados laboratórios. Em alguns casos, essas pessoas preferem deixar de receber a proteção ou procuram outro posto de saúde a fim de encontrar determinada marca. Esse novo fenômeno observado recentemente, apenas para as vacinas contra Covid-19, tendo em vista que fabricantes nunca tinham sido pauta de discussão em campanhas anteriores no Brasil, foi o que motivou uma pesquisa desenvolvida pela Consultoria de Data Science, Ilumeo, chamada Delfos Vacinas, feita em parceria com a Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), que aponta quais as preferências e atributos de marca que mais impactam na hora da imunização.

Compreender por que ainda existem indivíduos que não se vacinam, mesmo sabendo dos benefícios evidentes que elas promovem, tornou-se uma urgência inadiável no enfrentamento da pandemia. Por trás dos antivacina ou sommelier existe uma gama de fatores individuais, culturais, políticos e econômicos. De acordo com o levantamento realizado, a CoronaVac, desenvolvida pela chinesa Sinovac e fabricada pelo Instituto Butantan, figura no topo da rejeição, com 15% menos preferida e 7% mais rejeitada, seguida pela da Astrazeneca com 19% menos preferida e 4% mais rejeitada. Os imunizantes da Pfizer e da Janssen dominam a preferência dos brasileiros, com rejeição de 1%. A AstraZeneca foi a primeira vacina que sofreu com esse problema, quando surgiu a informação de que o imunizante poderia causar trombose. Pfizer e a Janssen são bem aceitas no Brasil porque são usadas nos Estados Unidos e na Europa, e a segunda por ser uma dose única, apesar de não serem acessíveis.

No funil de marcas, que é um método usado para ajudar a identificar a popularidade e possíveis problemas de imagem, mostra como cada marca de vacina se desenvolve desde o conhecimento até a preferência ou rejeição. A CoronaVac e AstraZeneca são vacinas mais conhecidas (Top of mind): a lembrança das marcas passa do nível superficial de pelo menos ouvir falar para um nível mais profundo de conhecimento em 2 a cada 3 respondentes. Pfizer e Janssen apresentam bons níveis de conhecimento, mas não tão consolidado. Covaxin e Sputnik V não estão sendo aplicadas no Brasil, o que reflete um funil incipiente. Percebemos que as marcas têm comportamentos parecidos entre pares. Coronavac e Astrazeneca possuem uma performance parecida entre elas; Pfizer e Janssen são próximas entre si; e Covaxin e Sputnik V possuem comportamento semelhante.

Oito em cada dez respondentes não rejeitariam nenhuma vacina, apesar de possivelmente preferirem uma ou outra e embora seja uma pequena parcela da população, cerca de 21%, esse número pode atrasar o avanço da vacinação. “Nos Estados Unidos, por exemplo, o país voltou a registrar o aumento de casos e morte de junho para cá e atualmente contabiliza mais de 41 milhões de habitantes infectados e 660 mil vidas perdidas. Por lá, a campanha está estagnada e o progresso da vacinação bateu na barreira erguida pelos americanos que resistem à imunização. A ideia da pesquisa é justamente, por meio dos dados, checar as chances do mesmo acontecer aqui no Brasil”, comenta Otávio Freire.

O levantamento mostrou que 42% das pessoas entre 25 a 34 anos, são os que mais rejeitam a vacina contra a Covid. Entre quem não pretende se vacinar vemos mais homens (53%) do sudeste do país (38%), com menores rendas familiares mensais e menos escolarizados. Já quando se consideram só os que têm entre 45 e 54 anos a taxa cai para 7%. Os dados também apontaram que independente do espectro político, a maior tendência em escolher uma vacina são dos negacionistas que rejeitam determinadas marcas e é nesse público que se encontram os sommeliers.

A CoronaVac é a vacina mais penalizada em rejeição entre esse grupo, chegando a atingir 11% entre os conservadores e entre os Progressista Negacionista chega a 8%. Os Negacionistas e pessoas que têm um menor histórico de vacinação também têm um menor conhecimento (awareness/knowledge) sobre as vacinas. Aqueles que não se informam por meios credíveis de informação têm uma maior preferência e rejeição por determinadas marcas. A desconfiança em planos de vacinação por lucro da indústria farmacêutica/governo ou desconfiança em vacinas por acreditar na aquisição de imunização natural são uns dos pilares que sustentam a argumentação dessa parcela entrevistada. 4% não vão se imunizar independente do laboratório e a desconfiança e o medo são os principais argumentos. Percebe-se que nos motivos para a não vacinação há elementos de notícias falsas e desconhecimento básico sobre o funcionamento das vacinas. Essa mistura pode levar ao medo e a repulsa pelos imunizantes. Alguns exemplos dos argumentos mais comuns que embasam a recusa por algumas vacinas vão desde a não credibilidade nos estudos e eficácia, a não conhecimento dos efeitos colaterais a longo prazo.

A metodologia aplicada

Desenvolvida pela Ilumeo, ‘Delfos’ é uma metodologia de brand tracking para mensurar a saúde e a força das marcas, a partir de uma série de teorias amplamente reconhecidas e validadas na comunidade científica internacional, cumprindo o papel de movimentar questões de negócio avaliando pontos como satisfação, recomendação e lealdade. “O ponto central que torna Delfos tão inovador é que, mais do que apenas o retrato da marca em si, essa ferramenta possibilita uma avaliação ainda mais assertiva sobre o impacto potencial que a marca pode provocar nos negócios, permitindo tomadas de decisões mais estratégicas e também gestão de possíveis crises”, comenta Otávio Freire, sócio da Ilumeo.

Os atributos avaliados pela pesquisa derivam de escalas de personalidade e tipologia de marca. Também foi avaliado o efeito país de origem de cada vacina. De artigos publicados na área da saúde foram extraídos o Índice de Confiança em Vacinas e uma escala de preocupação com efeitos adversos. “Fazemos isso por meio da construção de um modelo de equações estruturais, um conjunto de diversos algoritmos de computador, métodos estatísticos e modelos matemáticos que trabalham juntos para que se possa compreender a estrutura de inter-relações entre diferentes construtos [fatores não observáveis ou latentes representados por múltiplas variáveis]”, completa o sócio e head da Ilumeo, Otávio Freire.

WhatsApp é o principal meio de atualização

As redes sociais, que são fontes de informações para a grande maioria dos brasileiros, dão ainda mais força para o movimento dos sommelier de vacinas, uma vez que facilitam o compartilhamento de fake news, influenciando a meta de vacinação no Brasil. WhatsApp e YouTube são as principais fontes de informação das pessoas sobre a vacina durante a pandemia, com 70% e 66% dos entrevistados se informando por esses meios, respectivamente, seguido do Instagram com 56%.

Em último lugar estão os jornais e revistas impressos com 7%. A difusão de informações falsas sobre as vacinas pode desencorajar as pessoas de tomarem suas doses quando chegar o momento. Quem não se informa por meios credíveis de informação têm uma maior preferência e rejeição por determinadas marcas. AstraZeneca e CoronaVac se desenvolvem melhor que Janssen e Pfizer ao passar de conhecimento superficial para o mais profundo. “Esse estudo pretende alertar a associação entre o aumento da desinformação e a lentidão da cobertura vacinal. Embora seja uma porcentagem muito pequena de pessoas que se recusam a vacinar, essa realidade existe. Com a informação correta garantimos a manutenção da saúde de todos. A melhor vacina contra a Covid é aquela que vai no braço”, ressalta Freire.

Redação

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