Considerada pauta prioritária pelas principais organizações de saúde, a luta pela redução da mortalidade materna requer mobilização das entidades públicas e privadas de todo o país. Este foi o tema do debate promovido pela Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados) na quarta-feira (31), em edição especial do Anahp ao Vivo, que contou com a participação da coordenadora da Atenção à Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, Monica Iassana, entre outros convidados.
Segundo Monica, os números preocupam e pedem ações imediatas. Considerando o RMM (Razão de Mortalidade Materna), indicador que aponta a taxa referente ao número de mortes de pessoas por causas ligadas à gestação, parto e puerpério por 100 mil nascidos vivos, o Brasil teve um aumento de 57% de 2020 a 2021, chegando a uma taxa de 117,4.
“Foram mais de 3 mil mulheres que morreram em 2021 por problemas relacionados à gestação. Essa taxa não era tão alta desde a década de noventa”, destaca. Estão entre as principais causas a hipertensão, hemorragias, infecções, complicações no parto e abortos inseguros.
Diante deste cenário, o Brasil assumiu a meta, junto às Nações Unidas, de reduzir a RMM para 30 mortes a cada 100 mil nascidos vivos até 2030, um compromisso que vem sendo incorporado aos protocolos e ações, com importantes impactos.
Conforme apontam os dados coletados entre os 121 hospitais associados à Anahp, apresentados no Observatório 2023, no ano de 2022, foi registrada uma taxa de RMM de 17,4. No período anterior, o número foi de 26,89.
Segundo o diretor-executivo da Anahp, Antônio Britto, A prioridade da Anahp é contribuir para o aperfeiçoamento estratégico dos processos, bem como para a qualificação dos profissionais de saúde. “Nosso objetivo é a promoção da saúde e melhoria contínua do cuidado. Já realizamos, em parceria com a OPAS, oficinas junto aos hospitais da Anahp e a parceria com o Ministério da Saúde neste evento mostra que o trabalho não se resume ao setor suplementar, mas a saúde de forma macro””, frisa Britto, que moderou o debate sobre o tema.
Para Linus Fascina, gerente médico Materno-Infantil no Hospital Israelita Albert Einstein, que participou do painel trazendo sua visão e perspectivas em relação à meta assumida pelo país, embora os hospitais privados de grande porte já contem com números bastante reduzidos em relação à média brasileira, é preciso unir esforços para que este montante chegue a zero óbitos.
“Nós não podemos olhar para estas pacientes como dados estatísticos, pois cada óbito representa uma desestruturação familiar, dentro da comunidade em que ela está inserida”, comenta.
Outros dados apresentados pela representante do Ministério da Saúde revelam, para além das principais causas de óbitos maternos, a importância de atuar no enfrentamento de fatores agravantes.
“Os números de partos em crianças e adolescentes de 10 a 19 anos são elevados, e é esta a faixa etária que mais apresenta mortes. Além disso, mulheres pretas e em situação de vulnerabilidade, habitantes e trabalhadoras de áreas rurais compõe o quadro daquelas que entraram para a estatística”, aponta.
Também integrando o debate, a diretora médica do Grupo Santa Joana, Monica Siaulys, defende que as entidades públicas e privadas devem se unir em uma grande ação estratégica para propagar a informação e capacitar profissionais de saúde.
Para ela, o esforço conjunto na definição de protocolos assistenciais bem desenvolvidos, voltados para o atendimento de quadros de risco – sobretudo de sepses, pré-eclâmpsia ou hemorragias –, bem como a educação e conscientização de profissionais e pacientes para que aprendam a identificar sinais precoces e saibam como proceder em cada situação pode derrubar as taxas em todo o país.
“Não é necessário ter grandes recursos financeiros, o rigor nas ações de práticas rotineiras do cuidado a essas doenças pode mudar o destino de uma família e da sociedade”, defende.
Monica Iassana reitera seu comentário, reforçando que o Ministério da Saúde, neste momento, está voltado para a revisão das políticas a fim de promover esta mudança. “Estamos considerando três pontos fundamentais: o primeiro é fornecer informação de qualidade à paciente, empoderando-a sobre seu cuidado; a segunda é melhorar as condições de acesso às unidades de atendimento; e a terceira diz respeito à estrutura das unidades, recursos adequados e qualificação profissional”.
Ela ainda lembra a importância dos aprendizados adquiridos durante a pandemia da Covid-19, que reforçou a importância da articulação entre Atenção Primária e Atenção Especializada. Sobre isso, Fascina traz, ainda, a questão do entendimento a respeito das fragilidades do sistema.
“A pandemia nos mostrou que qualquer coisa que pudesse desorganizar o sistema naquele momento teria um grande impacto em todas as outras áreas. Com isso, aprendemos a trabalhar juntos, SUS e saúde suplementar. Essa união é a grande resposta para começar essa luta”, finaliza.