A genética é uma ciência básica, mas nem por isso simples. Atualmente, frente a tantos desafios impostos pela pandemia, a genética tem se mostrado ferramenta fundamental na luta e no entendimento deste vírus causador da Covid-19. Muito tem se ouvido falar em desenvolvimento de vacinas, genoma sequenciado do SARS-Cov-2, resistência bacteriana, entre tantos atributos que são necessários para o entendimento mais profundo deste novo cenário. Porém, a genética abrange muitas outras vertentes tão importantes quanto essas.
Nesse contexto, os estudantes do 7º termo da Medicina Jaú (SP), João Lucas Contador Furtado e Pedro Júnior Pauli, realizaram uma pesquisa sobre a Bioética e Regulamentação da Edição de Genes com CRISPR-CAS9. O estudo foi selecionado para integrar o 1º Congresso Brasileiro de Genética Multidisciplinar, voltado para a genética a serviço da sociedade. Todo conteúdo do evento foi transformado em e-book, onde o capítulo 28 leva o trabalho desenvolvido pelos acadêmicos da Unoeste, sob orientação do professor e coordenador do curso, Dr. José Oliveira Filho. O e-book publicado pela Editora Science é gratuito e está disponível neste link.
De acordo com a pesquisa, a edição de genes inclui mudanças poderosas nos genomas de um indivíduo. Considerando os benefícios que podem trazer, esse fato despertou o interesse do mundo e da comunidade médica científica. Seu uso em pesquisas é relativamente novo e foi aprovado para o primeiro estudo em humanos nos Estados Unidos em junho de 2016, com o objetivo de fortalecer a luta contra o câncer de pacientes com melanoma e outras formas de câncer letal.
Preocupação ética
Embora a tecnologia forneça uma opção de tratamento viável e tenha sido usada em ensaios clínicos globais, como na China, para o tratamento de câncer de pulmão agressivo, os pesquisadores demonstraram preocupações éticas sobre esse tipo de edição de genes, mesmo que o experimento tenha sido bem-sucedido, uma vez que é difícil prever todos os resultados esperados e inesperados, porque a aplicação clínica dessas etapas ainda é muito precoce.
Por mais que o uso correto da técnica possa curar milhões de pessoas e estar de acordo com o princípio bioético da beneficência, ainda existe um grande impasse ético, que leva o CC9 dos laboratórios para os tribunais. Isso porque, a parte técnica encontra-se avançada, enquanto a supervisão e regulação pelos órgãos moderadores ainda é precária, fato que preocupa os profissionais da área. A experiência chinesa que iniciou com um projeto incorreto contrariando as recomendações feitas por um grupo de especialistas em edição de genes, concluiu que as técnicas empregadas na edição genética ainda não são totalmente seguras para serem utilizadas em linhagens de células reprodutivas humanas. Embora os benefícios do uso do sistema CC9 sejam inimagináveis, o tema ainda demanda discussão dos limiares éticos da manipulação de genes para o uso consciente do CRISPR-Cas9.
João Lucas comenta que se tratando de engenharia genética e CC9, é impreterível que as questões éticas ganhem pontos de atenção. “Por mais que exista um consenso sobre a sua infinidade de possibilidades em que possa ser utilizado para benefícios da população, como exemplo o experimento chinês que ‘criaram’ os primeiros bebês geneticamente modificados imunes ao HIV, a comunidade científica ainda aponta alguns pontos de preocupação e receio frente aos padrões técnicos e as normatizações éticas, temendo risco às futuras gerações e até levantando questionamentos de que se essa tecnologia seria acessada por todos, visto que por ser algo novo, é algo caro e restrito”, explica.
Tema de interesse mundial
Para João Lucas, esse assunto sempre despertou grande interesse. “A primeira vez que ouvi falar sobre a técnica de edição de DNA, ainda estava no cursinho. De início já achei bem interessante, e como naquela época já pensava em prestar medicina, lembro que conversei com o professor sobre até que ponto isso era correto, uma vez que com o CRISPR é possível criar indivíduos sem determinadas doenças ao suprimir esses genes na edição genômica”, comenta.
O estudante menciona que a ideia do trabalho surgiu ao ver uma propaganda do congresso. “Na hora lembrei do tema, relacionei com o curso e com a matéria que tivemos de Ética Médica, foi aí que convidei o Dr. José para nos orientar e auxiliar no trabalho. Para então iniciar a pesquisa, eu e o Pedro delimitamos o assunto, e queríamos entender como estava o cenário mundial frente à regulamentação e os princípios éticos envolvidos nesse processo”.
João Lucas diz que participar desse projeto foi muito satisfatório. “Estamos muito felizes com o trabalho, pois acreditamos que essas experiências são extremamente importantes para nossa formação acadêmica, mas também para ganharmos vivência em relação à escrita científica e organização das referências. Somos muito gratos também pelo apoio do Dr. José que nos orientou em todo o processo e foi nos ajudando desde a formatação até a submissão do trabalho finalizado para a publicação”.
Segundo o estudante Pedro Júnior Pauli, apesar de ser um grande desafio, ter uma publicação enquanto acadêmico é uma grande conquista. “Ao nos depararmos com a oportunidade, não deixamos passar. Foi um tanto desafiador, principalmente pela bibliografia internacional, mas felizmente conseguimos acertar as arestas e concluir o trabalho de forma satisfatória. Fomos bem orientados pelo Dr. José, que prontamente nos ajudou, e agora, graças a Deus e a todo nosso empenho estamos colhendo o resultado. Isso é muito recompensador, estamos muito felizes e já pensando nas próximas possibilidades” relata.
O Dr. José destaca que a universidade sempre incentiva os acadêmicos a se desenvolverem tanto no ensino, quanto na pesquisa e na extensão. “Esses trabalhos são de extrema importância para a formação acadêmica, por isso, nós como instituição de ensino sempre encorajamos os alunos a buscarem por novos desafios. O João Lucas e o Pedro estão de parabéns pelo trabalho, eu estou muito orgulhoso por toda dedicação e pela conquista da publicação, que é um resultado muito importante para a construção do currículo deles e também para o desenvolvimento profissional na área médica”, finaliza.