A FMP/Fase – Faculdade de Medicina de Petrópolis (RJ) sediou recentemente, na serra fluminense, o encontro anual do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) sobre tuberculose. O grupo interdisciplinar de profissionais da FMP/Fase, Fiocruz, Fundação Ataulpho de Paiva, PUC-RS e UFRGS atua pesquisando a vacina BCG e já encontrou algumas respostas positivas da ação da vacina, não apenas contra a tuberculose, mas princípios ativos que induzem sucesso também no tratamento de outras doenças.
“Quando nos encontramos anualmente, com grupos do Rio de Janeiro e de Porto alegre, trocamos muitas experiências. Fico muito feliz por ver que estamos evoluindo. No Brasil, temos a grande vantagem de ter a vacina contra a tuberculose, considerada uma das melhores do mundo, mas descobrimos recentemente que a BCG é um imunomodulador. Então ela é um tratamento de escolha para o câncer de bexiga, em doses e com formulação diferentes, e está sendo testada nos Estados Unidos para prevenção de diabetes. Também temos dados que nos mostram ser interessante para o tratamento da asma. Estamos desenvolvendo as pesquisas em todas essas áreas”, conta Luiz Roberto Castello Branco, diretor científico da Fundação Ataulpho de Paiva.
O objetivo central dos encontros é reunir os pesquisadores para que possam discutir os resultados preliminares, adquiridos ao longo do período de estudos e análises em todos os laboratórios, para que sejam tomadas algumas decisões relativas ao financiamento do projeto.
“A minha linha de pesquisa envolve o que chamamos genericamente de imunomodulação. O seja, o estudo de substâncias e mecanismos que possam regular a resposta imunológica tanto para a potenciação como para a supressão. Entrei nesse grupo há pouco mais de seis meses. Temos alguns projetos com a vacina para tuberculose (BCG) que também não foram publicados ainda, pois estamos realizando a parte experimental”, explica José Mengel, pesquisador e professor da FMP/Fase e Fiocruz.
Segundo os pesquisadores, as recentes descobertas sobre as funcionalidades da vacina BCG para prevenção de outras doenças, além da tuberculose, merecem um olhar mais atento e investimentos contínuos nos estudos.
“A pesquisa sobre a vacina BCG precisa ser contínua e com constantes investimentos. O que nós estamos tentando fazer é reunir pesquisadores especialistas na área, principalmente que têm em comum o entendimento primeiro de como realmente essa vacina funciona. Daqui a dois anos ela vai completar cem anos e não sabemos exatamente como funciona. A proteção que a BCG proporciona contra a tuberculose é apenas a ponta do iceberg, pois estudos preliminares indicam que pode ser usada contra outras enfermidades, como a asma e tumores”, diz Paulo Antas, pesquisador da Fiocruz.
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, as pesquisas buscam na flora brasileira compostos que possam favorecer o desenvolvimento de vacinas mais eficazes na prevenção de doenças.
“Desde 2015, trabalho nesse projeto de pesquisa. O nosso laboratório de fisiologia vegetal colabora desde antes de 2009 com um projeto para prospecção de novos compostos que tenham uma atividade antituberculose, a partir de plantas que são encontradas na Mata Atlântica, por exemplo. Temos uma grande biodiversidade e ainda não a exploramos de maneira sustentável”, frisa Anna Yendo, pesquisadora da UFRGS.
O fato de Petrópolis estar aberta para sediar encontros de pesquisa e promover atividades com pesquisadores de diferentes regiões do país e também do exterior fomenta a vocação do município como Cidade Universitária, projeto que recebe o apoio e o investimento da FMP/Fase.
“Os saberes têm que circular e o nosso papel é proporcionar o acolhimento a esses pesquisadores e os instrumentos necessários para o trabalho dos grupos de pesquisa, de forma que a humanidade possa aproveitar as suas descobertas e beneficiar a saúde da população. Estamos sempre buscando oportunidades para revelar que Petrópolis pode ser uma Cidade Universitária, promovendo a troca de saberes, atraindo pesquisadores de renome que estejam interessados em linhas de pesquisas de importância para a nossa sociedade”, conclui Maria Isabel de Sá Earp de Resende Chaves, supervisora geral da instituição.