Erros médicos podem ser evitados com mais investimentos em laboratórios de anatomia

Um levantamento recente realizado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) revelou que a cada uma hora, seis pessoas morrem por “eventos adversos graves”, ocasionados por erros, falhas assistenciais, processuais ou infecções nos hospitais brasileiros. O mesmo estudo mostra que ao menos quatro desses eventos poderiam ser evitados com a realização dos procedimentos corretos.

Na opinião da professora Tatiana Miranda Deliberador, responsável pelo Centro de Treinamento Cirúrgico da Universidade Positivo/M.A.R.C. Institute, esses números poderiam ser menores, caso os acadêmicos da área da saúde tivessem mais oportunidades de estudar em corpos reais nos cursos de graduação e pós-graduação. No Brasil, não há números oficiais sobre a disponibilidade de corpos para estudos, porém, não são poucos os relatos de instituições que possuem apenas bonecos e simuladores. “É comum o treinamento em bonecos, eles são ótimos, mas nos corpos temos variações anatômicas que não encontramos nos bonecos e podem nos surpreender no dia a dia da profissão”, ressalta Tatiana.

Falta de doações

Os estudantes brasileiros da área da saúde também esbarram em outra situação para aprimorar a prática: a falta de corpos frescos nas instituições. Diferentemente do que acontece nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, onde a população se inscreve em programas de doação voluntária de corpos e avisa às famílias de sua vontade, no Brasil, a maior parte dos corpos para fins de estudo e pesquisas científicas são provenientes de pessoas não reclamadas que tiveram morte natural.

As iniciativas nacionais de doação voluntária existentes em algumas universidades ainda engatinham e, por conta da pouca disponibilidade da população em se inscrever nos tais programas de doação ou mesmo de liberar os corpos – peças anatômicas, como são chamados – de familiares para estudos, a maior parte das universidades que possuem essas peças precisam conservá-las em formol e utilizá-las repetidas vezes, o que, para Tatiana, faz com que os alunos não tenham contato com situações mais próximas do real.

Um passo além

Com o objetivo de desenvolver novas técnicas cirúrgicas, produtos e patentes, a Universidade Positivo, de Curitiba (PR), acaba de firmar parceria com o Centro de Pesquisa Anatômica de Miami – Miami Anatomical Research Center (M.A.R.C. Institute), uma das mais completas e integradas instalações de pesquisas na área da saúde e educacional dos Estados Unidos. A partir de agora, a Universidade Positivo passa a ser uma das quatro instituições brasileiras a receber os chamados fresh frozen specimens para estudo e pesquisa, dando um passo à frente em relação aos cursos que utilizam apenas corpos conservados no formol, mais comuns por aqui.

“Nos chamados fresh frozen specimens, peças anatômicas congelados e conservados em uma técnica que preserva as características orgânicas e a morfologia, diferente do formol, os alunos têm a oportunidade de manipular tecidos semelhantes a um paciente vivo, estudar variações anatômicas inéditas, desenvolver novas abordagens clínicas, além de aprofundar e também de diminuir a curva de aprendizado. É uma simulação real – e isso com certeza vai tornar o profissional melhor e diminuir as chances de erros médicos no futuro”, explica Tatiana.

O diretor médico do M.A.R.C. Institute, Eduardo Sadao, ressalta que a segurança é um dos pontos chave da instituição, visto que “as peças não passam por tratamento químico (são livres de toxicidade), mas por rigorosos testes laboratoriais que evitam a contaminação por doenças, proporcionando um treinamento totalmente seguro”. Outro diferencial é que são peças anatômicas legítimas (espécimes), com tecidos, variações e estruturas preservadas, que permitem a simulação realística em ambiente cirúrgico.

O M.A.R.C. Institute trabalha apenas com corpos provenientes de doação voluntária. As peças anatômicas serão liberadas para as instituições brasileiras conforme a demanda de cada curso.

Novo polo

A parceria entre as instituições traz à Universidade Positivo um laboratório semelhante a um centro cirúrgico, igual ao que o Centro de Pesquisa Anatômica de Miami possui nos Estados Unidos. De acordo com a CEO do M.A.R.C. Institute, Heloisa Ribas Peixoto, o laboratório brasileiro, com inauguração prevista para 29 de novembro, deve fazer com que muitos médicos, inclusive estrangeiros, passem a visitar a capital paranaense.

“Acreditamos que o centro será referência no Brasil e um polo de educação tanto para treinamento, quanto para pesquisa, não só para a América Latina, mas também vemos a possibilidade de atrairmos o público europeu, que deixou de ir à América do Norte devido às mudanças na política de imigração. O Instituto vai tornar Curitiba referência em treinamento cirúrgico, movimentando o setor turístico e hoteleiro, ao aumentar a quantidade de congressos e o fluxo de pessoas (principalmente da comunidade médica), trazendo mais receita para a cidade como um todo”, finaliza Heloise.

Redação

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