A sigla ESG tem ficado cada vez mais em evidência no mundo empresarial, não somente como uma espécie de “selo” que garante um status privilegiado para uma companhia, mas como uma necessidade em tempos de profundas mudanças na sociedade, alterações climáticas e valorização crescente dos aspectos humanos nas relações de trabalho. Seu significado, Environmental, Social and Governance (em português, Ambiental, Social e Governança) parte de uma provocação da ONU a grandes empresas do setor financeiro sobre como integrar esses três fatores no mercado de capitais, o que foi transportado a todo o mundo corporativo como forma de promover a sustentabilidade e ampliar a consciência das empresas sobre seus impactos na sociedade – e de como agir em relação a eles.
A adoção de padrões que seguem o ESG mostra capacidade de ampliar a competitividade das instituições por refletir suas características em termos de solidez, redução de custos, resiliência e reputação. Relatório da consultoria PwC prevê que quase 60% dos ativos mútuos europeus estarão, até 2025, em fundos que seguem os critérios ESG, num volume que deve atingir US$ 8,9 trilhões (aproximadamente R$ 50,6 trilhões). A B3, bolsa de valores brasileira, tem entre as companhias que fazem parte de seu Índice de Sustentabilidade Empresarial 83% de empresas que carregam o ESG em seus planejamentos, objetivos e resultados.
A atração de investidores é uma das maiores consequências da adoção de ESG por empresas dos mais variados portes. Valores como respeito aos direitos humanos, dignidade no trabalho, proteção ambiental e combate à corrupção têm feito parte do DNA de startups, que convivem numa realidade em que aplicadores de capital dão preferência a empresas que baseiam suas ações nesses parâmetros – na realidade, até recusam injetar recursos em novas, pequenas e médias corporações que ignoram o ESG.
“As preocupações com a sustentabilidade não são novas, mas a sua valorização como item essencial – que, às vezes, resulta na própria sobrevivência – de uma empresa é recente. Estar alinhado e, de fato, aplicar no dia a dia práticas de valorização humana, sustentáveis e que sejam saudáveis para a continuidade da companhia em termos financeiros e sociais é condição para que uma empresa seja vista pelos grandes nomes e grandes projetos para o planeta. A prática do ESG é essencial para a existência e, ao mesmo tempo, é uma grande oportunidade de mercado”, analisa Diogenes Silva, CEO da Anestech, healthtech que desenvolveu uma plataforma de gestão da informação voltado a anestesiologistas que registra de forma prática todos os dados relevantes sobre o paciente e seu plano operatório, eliminando o uso de papel da rotina do profissional durante as cirurgias e dando espaço para que o anestesiologista concentre sua atenção às necessidades do paciente.
O produto desenvolvido pela healthtech, o AxReg, faz parte da rotina de mais de 3.500 anestesiologistas e foi essencial em mais de 520 mil procedimentos cirúrgicos realizados no país, em 2021. Ele utiliza inteligência artificial para compilar o enorme nível de dados e informações a que um anestesiologista está submetido antes e durante a cirurgia, o que era impossível de ser feito pelo profissional manualmente, poupando tempo do anestesiologista e salvando uma quantidade exorbitante de papel. A estimativa é de que, só em 2021, cerca de 7,8 toneladas de papel deixaram de ser utilizadas por anestesiologistas no Brasil, evitando um relevante desgaste ambiental.
“A digitalização parece um caminho óbvio, até mesmo natural, nos processos de qualquer setor. Mas precisa ser planejada para atender às reais necessidades das diversas áreas de atuação humana. O diferencial do AxReg na saúde está na sua aplicabilidade em todo o momento perioperatório, ou seja, antes, durante e depois do procedimento cirúrgico, trazendo histórico, e registrando as inúmeras informações essenciais para que o anestesiologista tenha além de apoio à tomada de decisões, capacidade preditiva através de inteligência artificial e tome as melhores decisões. Isso otimiza os resultados e humaniza a relação com o paciente, que tem mais conforto e segurança durante os procedimentos”, explica o executivo.
Desde março de 2021, vinte e um hospitais brasileiros passaram a utilizar a plataforma que é considerada um AIMS (Anesthesia Information Management System), cuja implantação é rápida (leva três dias para ser integrada aos seus sistemas de prontuário eletrônico hospitalar e monitores multiparâmetros), reunindo a ficha anestésica e o plano operatório de forma totalmente digital, melhorando o fluxo de trabalho do anestesiologista e oferecendo a ele uma gestão de dados de alta performance em tempo real dentro da sala de cirurgia. Ao direcionar o foco do profissional aos cuidados com o paciente em um momento crítico, a plataforma oferece mais segurança ao profissional e, também, ao paciente, muitas vezes inseguro quanto à anestesia que será submetido. Como explica Diogenes Silva: “O papel da tecnologia é fazer com que a medicina volte a ser humanitária, deixando a máquina fazer o seu trabalho e focar no que nos propomos a fazer enquanto médicos, que é olhar no olho e ter empatia pela dor do outro”.
O impacto ambiental trazido pela substituição do papel no ambiente hospitalar o aumento da humanização da relação entre paciente e profissional, promovidos pelo AIMS da Anestech, são reconhecidos pelos principais nomes do setor, o que resulta em uma maior captação e investimentos pela empresa. A startup já recebeu alguns dos maiores prêmios nacionais e esteve sob os holofotes de um robusto ecossistema de investidores da União Europeia, ao representar o Brasil no e-talent week, semana de inovação realizada em novembro em Madri, como vencedora da sétima edição do Prêmio Empreenda Saúde, referência de inovação e empreendedorismo no mercado nacional e etapa brasileira do Global eAwards, premiação internacional da Everis/NTT DATA global.