Após a pandemia da Covid-19, nada será como antes, principalmente na área da saúde. Uma das piores crises da história do setor mostra a necessidade de o segmento buscar eficiência e se reinventar, pontua o diretor técnico da Planisa e especialista em gestão de custos hospitalares, Marcelo Carnielo. A Planisa é especializada em gestão de resultados para organizações de saúde, se destacando como referência em consultoria especializada.
Uma das readequações necessárias, por exemplo, neste período e que deve perdurar mesmo depois do fim da pandemia, é a consulta médica à distância. “Houve redução do número de registros em Pronto-Atendimento e assim deve permanecer no período pós-pandemia, principalmente com o advento da Telemedicina, que passou a ser utilizada exponencialmente pelos usuários, pois muitos pacientes que antes iam a um Pronto-Socorro passaram a resolver parte de seus problemas com a consulta à distância”, fala Carnielo.
O especialista ressalta que readaptações como essa evidenciam a necessidade de o setor hospitalar reduzir os desperdícios de recursos e tempo dos pacientes, “que é um dos pilares do sistema de saúde baseado em valor, com prováveis readequações na oferta e demanda, não só em Unidades de Emergência, mas também reflexos importantes em unidades de diagnóstico e na própria oferta de leitos”.
Rede privada
O medo do contágio do Coronavírus fez com que as pessoas deixassem de ir ao hospital, o que impactou significativamente a receita dos hospitais privados. Soma-se a isso a redução de registros de outras enfermidades sazonais, com o fechamento das escolas, que diminuiu a circulação de outros vírus. Diante da queda de atendimentos, Carnielo observa que a pandemia também deixou clara a necessidade da mudança do modelo de remuneração. “O que para muitos o fee for service (pagamento por serviço) significava segurança, na pandemia tirou o sono de muitos administradores hospitalares na rede privada hospitalar”, fala. “Acredito que modelos como orçamentos globais ajustados por volume e case mix podem ser uma alternativa interessante para o período pós-pandemia”, avalia o diretor técnico da Planisa.
Neste modelo, especificamente nas internações, o orçamento e o bônus se baseariam no histórico recente da volumetria das internações da unidade hospitalar, controlado e com preços ajustados pela variação da complexidade e criticidade, o case mix da população atendida no hospital. O case mix é uma medida de complexidade e criticidade assistencial hospitalar baseada na idade, doença que determinou a internação, nas doenças pré-existentes e nos procedimentos realizados, usado em todo o mundo desde a década de 80 e mensurado pela metodologia DRG (Diagnosis Related Groups). “Esse é o perfil de pagamento predominante em serviços hospitalares nos sistemas nacionais de Saúde da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em países como Reino Unido, Portugal e Espanha. Além de ser uma forma também de estimular a entrega de valor, tão falada e discutida, mas ainda incipiente no cenário nacional”, destaca.
Na análise de Carnielo, outras questões importantes devem ganhar força ao fim da pandemia, como os avanços na conectividade entre as plataformas, o prontuário eletrônico de saúde e o investimento em tecnologia custo-efetivas, como forma de diminuir as variações de assistência, seja pelo médico, seja pelo lugar de atendimento.
“Se nossos governantes, fossem mais humanos, a nossa sociedade teriam uma chance.”.