O impacto da Covid-19 no tratamento de pacientes com câncer será um dos temas que prometem movimentar o 9º Simpósio Internacional Oncoclínicas e Dana-Farber Cancer Institute. O evento, gratuito e 100% virtual, acontece entre os dias 29 e 30 de outubro e já conta com mais de 5 mil inscritos. Ao longo da programação, médicos e pesquisadores também vão apresentar dados em oncologia que tendem a alterar a forma de tratar diferentes tipos de tumores e debater os últimos avanços nos tratamento e prevenção à doença em meio aos desafios impostos pela pandemia.
“Próximo de completarmos dois anos dos primeiros casos reportados da Covid-19, cientistas coletaram dados suficientes para entender como a doença impacta a vida de pacientes com câncer – não apenas fisicamente, mas também em suas rotinas e saúde mental. Com estudos de referência em câncer de mama, colo do útero, melanoma, próstata, colorretal, esôfago, endócrino e de pulmão, o Simpósio Oncoclínicas 2021 pretende demonstrar como a pesquisa oncológica ganhou ímpeto depois de ser temporariamente interrompida pelo surto do vírus”, comenta o oncologista Carlos Gil Ferreira, presidente do Instituto Oncoclínicas.
Para discutir os últimos avanços da medicina nos processos diagnósticos, novas formas de tratamento e a democratização do acesso à saúde, o evento reunirá mais de 300 palestrantes nacionais e internacionais em 14 salas simultâneas onde serão debatidos temas relativos a 16 áreas de especialidade – ginecologia, mama, urologia, hematologia, gastrointestinal, pulmão, medicina de precisão, sarcoma, pele, cabeça e pescoço, sistema nervoso central (SNC), multidisciplinar, cuidados paliativos, neuroendócrinos, oncohemato-pediatria e radioterapia.
Entre os estudos de destaque que serão apresentados está uma análise que explora os efeitos das sequelas deixadas pela infecção pelo Coronavírus em pacientes com câncer que contraíram a forma grave da doença e sobreviveram. Com base em dados de 1.557 pacientes, coletados entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2021 por meio do registro OnCOVID, pesquisadores da Imperial College de Londres descobriram que ao menos 15% deles passaram a apresentar sequelas da Covid-19, sendo os mais comuns sintomas respiratórios (50%), como falta de ar ou tosse, e fadiga crônica (41%). O risco de apresentar sequelas é maior em homens, indivíduos com mais de 65 anos, portadores de mais de uma comorbidade e aqueles com histórico de tabagismo.
Nessa mesma linha, serão apresentados dados do VOICE, que analisou o impacto da vacinação em pacientes oncológicos, evidenciando a eficácia comprovada dos imunizantes entre pessoas em tratamento ativo. Com 791 participantes que receberam diferentes tipos de terapias no combate ao câncer em vários hospitais da Holanda, o levantamento mediu as respostas imunológicas depois das duas doses da vacina produzida pela Moderna. Após 28 dias da administração da segunda dose, níveis adequados de anticorpos no sangue contra o novo Coronavírus foram encontrados em 84% dos pacientes recebendo quimioterapia, 89% dos pacientes recebendo quimioterapia em combinação com imunoterapia e 93% dos pacientes em imunoterapia isolada.
“A grande contribuição do estudo VOICE foi diminuir um pouco as dúvidas de que os pacientes com câncer, considerados imunossuprimidos, sejam tratados com quimioterapia, imunoterapia ou a combinação de ambos, teriam uma pior resposta imune ou uma resposta imune insuficiente à vacina”, explica Carlos Gil.
Para o médico, a descoberta do estudo não é nenhuma surpresa, mas é um importante passo para avaliar o grau de proteção entre aqueles que têm câncer e abrir frentes para novos estudos nos próximos anos que apontem para planos efetivos voltados a planos futuros relativos à vacinação para esses casos. Além disso, os resultados até aqui demonstram a importância do impacto da vacinação contra a Covid-19, especialmente quando o assunto é evitar formas graves da doença em pacientes com câncer.
“Essas e outras análises realizadas nesses pouco menos de dois anos de pandemia mostram como a prevenção, o reconhecimento precoce e o tratamento das sequelas provocadas pelo Coronavírus seriam um passo importante para evitar interrupções na continuidade dos cuidados de pacientes com câncer no futuro”, diz Carlos Gil.
Caminhos para lidar com o aumento na incidência do câncer
O Simpósio promovido pela Oncoclínicas em parceria com o Dana-Farber traz ainda dados que confirmam a necessidade de continuar a priorizar os pacientes oncológicos sob uma perspectiva ampla de saúde pública. O cenário global da doença, apresentado no relatório divulgado em fevereiro de 2021 pela Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer (IARC, da sigla em inglês) – entidade intergovernamental que faz parte da Organização Mundial da Saúde (OMS) – e pela Sociedade Norte-Americana de Câncer (ACS), aponta para um aumento considerável no número de novos casos em todo o mundo. A organização informou que nas duas últimas décadas o número total de pessoas com neoplasias malignas quase dobrou, saltando de 10 milhões estimados em 2000 para 19.3 milhões em 2020.
As projeções indicam ainda que nos próximos anos há uma tendência de elevação dos índices de detecção do câncer, chegando ao patamar de quase 50% a mais em 2040 em comparação ao panorama atual, quando o mundo deve então registrar algo em torno de 28.4 milhões de casos de câncer. Isso significa que a cada 5 pessoas, uma terá câncer em alguma fase da vida. Nos países mais pobres e em desenvolvimento, a incidência da doença deve ter um crescimento superior a 80%.
Apesar da incidência aumentada, segundo Carlos Gil, os resultados que serão demonstrados durante o Simpósio soam como uma esperança para quem enfrenta um diagnóstico e tratamento de câncer.
“Muitos dos estudos apresentados este ano em congressos internacionais e que traremos para o debate dentro do que observamos aqui no Brasil vão mudar ou influenciar nossa prática clínica atual. Há grandes avanços feitos especialmente no contexto da genômica, com bons resultados no que chamamos de medicina de precisão, ou seja, evoluímos para possibilidades cada vez mais amplas de individualização dos tratamentos para que possamos estabelecer as linhas de cuidados certas, na hora certa, para o paciente certo. Essas são estratégias importantes que a comunidade de oncologistas, em todo o mundo, vem destacando como essencial para continuar a fazer progressos nas terapias contra o câncer e, assim, melhorar os resultados para os nossos pacientes”, afirma.
Outras novidades que serão mostradas no evento dão conta do reconhecimento da imunoterapia como um caminho para novos tratamentos, em particular para o câncer de pulmão e de pele. “O evento também lançará luz sobre a necessidade de caracterização molecular mais abrangente em todos os tipos de câncer, com bons resultados para pacientes com tumores de origem desconhecida. Esse tipo de fórum é essencial para olharmos para frente e traçar estratégias que tragam impactos positivos para o bem estar dos pacientes com câncer”, resume Carlos Gil.
Premiação elege melhores iniciativas no combate ao câncer
A abertura do 9º Simpósio Internacional Oncoclínicas e Dana-Farber Cancer Institute será marcada ainda pela solenidade de anúncio dos vencedores do Prêmio Marcos Moraes de Pesquisa e Inovação para o Controle do Câncer. Voltado para profissionais de saúde, pesquisadores e técnicos que atuam na área oncológica, a premiação promovida pela Fundação do Câncer, em parceria com o Instituto Oncoclínicas, perpassa todas as linhas de cuidado do câncer, desde pesquisa básica, de bancada, de laboratório, até inovação para controle do câncer.
“Esse é um reconhecimento às iniciativas de instituições nacionais que implementaram medidas para o controle do câncer, sejam elas abordagens inovadoras do ponto de vista de gestão, do ponto de vista do cuidado integral ao paciente ou da atenção em todas as linhas de enfrentamento da doença”, aponta o presidente do Instituto Oncoclínicas, Carlos Gil.
O prêmio, cujo nome presta homenagem ao médico Marcos Moraes – cirurgião oncológico de renome internacional que foi diretor-geral do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) durante quase dez anos, além de criador da Fundação do Câncer – considerou a avaliação de três temáticas: promoção da saúde e prevenção do câncer, cuidados paliativos e iniciativas para o controle do câncer.
Os três trabalhos vencedores de cada categoria receberão medalhas e certificados de participação. Adicionalmente, os primeiros colocados receberão um prêmio em dinheiro como forma de reconhecimento à sua contribuição para o setor da saúde e estímulo ao contínuo desenvolvimento de iniciativas voltadas ao enfrentamento do câncer no Brasil.
Informações e programação completa: www.simposiooc.com.br