Estudo coordenado pelo Hospital Moinhos de Vento avaliará prevalência do vírus HTLV em gestantes

O HTLV (Vírus linfotrópico-T humano) é um vírus pouco estudado, apesar de existirem, segundo estimativas, 20 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo. Cerca de 2% a 4% dos contaminados desenvolverão a leucemia de células T — tipo bastante agressivo e potencialmente fatal. Ele é transmitido, principalmente, por meio de relações sexuais desprotegidas ou da mãe para o filho. No entanto, aproximadamente 90% não terão qualquer sintoma, mantendo uma rede de transmissão silenciosa, que inclui ainda transfusão de sangue infectado e compartilhamento de seringas.

No Brasil, os dados existentes sobre esse vírus e seus efeitos são restritos a avaliações regionais, não existindo informações de abrangência nacional. Além disso, ele não consta na lista de notificação compulsória do sistema de saúde. Para compreender a magnitude dessa infecção no país, sua transmissão e, também, estimar a carga de doenças associadas ao HTLV no futuro, será iniciado o estudo Prisma, que integra o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS).

O trabalho será coordenado pelo Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), que conduz uma série de outros estudos do programa. O estudo será realizado em 224 maternidades de todo o país, com a participação de 32 mil parturientes entre 16 e 49 anos, que responderão a um questionário e terão uma amostra de sangue coletada, avaliando a prevalência do HTLV e outras infecções sexualmente transmissíveis na gestação, como HIV, sífilis e hepatites B e C.

A pesquisa terá início em quatro instituições do Rio Grande do Sul e Santa Catarina: Hospital Santo Antônio (Tenente Portela/RS), Hospital Casa de Saúde (Santa Maria/RS), Hospital São Vicente de Paulo (Osório/RS) e Hospital Nossa Senhora da Conceição (Tubarão/SC). Nesse momento, as equipes que conduzirão a pesquisa nos municípios estão sendo capacitadas para o trabalho.

A coordenadora de enfermagem do Hospital Santo Antônio, Regina Reggiori, destaca que o estudo será importante para compreender a prevalência dessas infecções, bem como trocar experiências com outros centros. “Além disso, atendemos a Reserva Indígena do Guarita, a maior da população kaingang do Rio Grande do Sul, que também nos preocupa em relação a essas doenças”, afirma. A instituição é referência para 26 municípios da região, realizando uma média de 75 partos por mês.

Coordenadora da pesquisa, a epidemiologista Eliana Wendland, do Hospital Moinhos de Vento, destaca que a ausência de dados mais precisos sobre o HTLV impede o planejamento de estratégias de enfrentamento. “Com essas informações, o Ministério da Saúde poderá construir políticas de saúde baseadas em evidências científicas, decidindo sobre a incorporação de novos testes na rotina do pré-natal”, enfatiza.

A especialista reforça ainda a relevância de se avaliar a contaminação por infecções sexualmente transmissíveis pelas gestantes. “O número tem aumentado nos últimos anos, levando inclusive o Brasil a decretar uma epidemia de sífilis em 2016”, ressalta Eliana. Ao todo, cada instituição deve recrutar cerca de 150 participantes, num período de três a seis meses. O projeto chegará às demais regiões do país de acordo com o fluxo de disponibilidade dos hospitais.

Redação

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