Dados publicados no The Journal of the American Medical Association (JAMA) trouxeram uma nova perspectiva de tratamento e sobrevida para os pacientes pediátricos com um tipo agressivo de câncer – a Leucemia Linfoblastica Aguda infantil, ou LLA infantil – um câncer de sangue que afeta os glóbulos brancos em formação do e interfere na produção de todas as outras células sanguíneas – e está entre os tipos mais frequentes de câncer entre crianças e adolescentes.
O estudo 20120215 de fase 3, avaliou a eficácia, segurança e tolerabilidade da molécula blinatumomabe em pacientes LLA de células B em primeira recaída de alto risco, quando há o reaparecimento da doença após o primeiro tratamento e demonstrou que dos pacientes que apresentavam DRM positiva após o tratamento de reindução, 93% dos que receberam blinatumomabe atingiram remissão molecular em comparação a apenas 24% dos paciente do grupo que receberam apenas quimioterapia padrão.
Realizado pela Amgen, uma das maiores empresas de biotecnologia do mundo, o estudo multicêntrico e randomizado buscou comparar o tratamento de blinatumomabe com quimioterapia padrão antes do transplante de medula óssea para pacientes em primeira recaída de alto risco. Após uma mediana de 22,4 meses de acompanhamento, 69% dos pacientes tratados com blinatumomabe estavam vivos e sem eventos em comparação com 43% dos pacientes tratados com quimioterapia. A estimativa de sobrevida global (SG) de 36 meses no grupo blinatumomabe foi de 81,1% versus 55,8% no grupo de quimioterapia, e a SG mediana não foi atingida.
Apesar de ser considerado raro quando comparado ao câncer em adultos, correspondendo entre 2% e 3% de todos os tumores malignos registrados no Brasil, o câncer infanto-juvenil é a principal doença que causa a morte em jovens de até 19 anos e, anualmente, cerca de 12 mil crianças e adolescentes tem suas vidas interrompidas por essa doença. “A leucemia linfoblástica aguda é o tipo de câncer mais comum em crianças. Infelizmente, aproximadamente 15% das crianças com LLA-B de alto risco recaem após a quimioterapia de primeira linha. Neste contexto, há uma necessidade de novas opções de tratamento para esses pacientes, e os resultados do estudo trazem um cenário promissor”, explica Dr. Claudio Galvão, presidente da SOBOPE (Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica).
No grupo blinatumomabe versus grupo de quimioterapia, a incidência de eventos adversos graves (EAs) foi de 24,1% vs 43,1%, respectivamente, e a incidência de eventos adversos de grau 3 ou superior foi 57,4% vs 82,4%. Nenhum evento adverso fatal foi relatado. Os eventos adversos (EAs) mais comuns no braço de tratamento com blinatumomabe foram pirexia (81,5%), náusea (40,7%; 1 grau ≥ 3), dor de cabeça (35,2%), estomatite (35,2%) e vômitos (29,6%; grau ≤ 2).
“Os resultados do estudo demonstraram que a nova molécula foi mais eficaz, associada a menos toxicidades graves em comparação com a quimioterapia”, disse o pesquisador do estudo, Franco Locatelli. “A quimioterapia tem sido usada como tratamento para pacientes com LLA antes do procedimento de transplante de medula óssea e esta abordagem sendo apenas parcialmente eficaz e associada a toxicidade relevante.”
Também foi publicado no JAMA um estudo de fase 3 do Children’s Oncology Group (COG) avaliando a mesma droga e demonstrou que o tratamento resultou em toxicidades menos graves, taxas mais altas de remissão de DRM, maior probabilidade de prosseguir o transplante de medula óssea e a melhora na sobrevida global.
Este cenário conduz um ambiente favorável para centenas de famílias, considerando que ao descobrir a LLA infantil, tanto pacientes e familiares arcam não apenas fisicamente, mas também emocionalmente com a doença e as consequências clínicas e sociais da doença. “A possibilidade de mais drogas disponíveis também traz um potencial aumento da chance de superação da doença. A humanização desta jornada, assim como lutarmos para todos terem acesso ao melhor tratamento, é essencial para que os pacientes sejam atendidos tanto pelo protocolo já ministrado no país como também por drogas, como a apresentada no estudo, que tem potencial de mudar o tratamento de pacientes com uma doença mais agressiva”, explica Dr. Claudio Galvão
O blinatumomabe pertence a uma nova classe de medicamentos, os anticorpos monoclonais biespecíficos, com um mecanismo de ação inovador chamado BiTE®, que possibilita que o anticorpo monoclonal se ligue a dois tipos diferentes de células; de um lado se liga a uma célula do sistema imune do paciente e do outro lado se liga à célula tumoral. Com isso, o medicamento estimula que o próprio sistema imune do paciente produza mais células sadias e ataque as células tumorais.