A revista científica New England Journal of Medicine publicou os dados de fase II e fase III do estudo FIREFISH com bebês de 1 a 7 meses de idade portadores de atrofia muscular espinhal (AME) tipo 1, a forma mais grave da doença. O estudo demonstrou que 29% dos bebês tratados com risdiplam, um medicamento de administração oral que promove o aumento da síntese da proteína SMN (produzida em menor quantidade nos pacientes com AME), conseguiram se sentar de forma independente por pelo menos cinco segundos após 12 meses de tratamento, um marco não observado no curso natural da doença.
Além do alcance desse importante marco do desenvolvimento motor, o estudo FIREFISH também demonstrou que o tratamento com risdiplam ajudou na sobrevida dos pacientes. Após 12 meses de tratamento, 93% dos bebês estavam vivos e 85% não precisavam de suporte ventilatório permanente. Esses dados chamam a atenção quando consideramos que, sem tratamento específico, a idade mediana de morte ou necessidade de ventilação permanente em pacientes com o mesmo perfil é de 10,5 meses.
O estudo incluiu 41 bebês de diferentes países, sendo três deles brasileiros. No Brasil, o FIREFISH é conduzido desde 2019 no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo pela equipe do Dr. Edmar Zanoteli, professor do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e chefe do Grupo de AME do Hospital das Clínicas de São Paulo.
“A importância de o Brasil participar de estudos como esse, que ampliam as opções terapêuticas para tratar uma doença de prognóstico bastante desafiador, é ter dados que embasam melhor as decisões regulatórias e de oferta no país, além de proporcionar o tratamento para os participantes do estudo”, explica Dr. Edmar.
O ensaio também alcançou outro desfecho que demonstrou que 78% dos bebês tratados foram classificados como respondedores ao Módulo 2 do Exame Neurológico Infantil de Hammersmith, que avalia a capacidade do bebê controlar a cabeça na posição vertical, sentar, agarrar voluntariamente, chutar, rolar, engatinhar, ficar de pé e andar. Esses resultados foram confirmados adicionalmente na avaliação de 24 meses, ainda não publicados, que mostram que os bebês tratados com risdiplam continuaram a ganhar função motora, dobrando a porcentagem de bebês capazes de se sentar sem apoio em comparação à avaliação de 12 meses.
“Temos um desfecho no qual uma porcentagem conseguiu sentar-se, o que normalmente não acontece com a AME tipo 1, e o mais importante é que, depois de dois anos de seguimento, a criança mantém essa capacidade. A sobrevida é outro dado relevante de observarmos. Os pacientes com atrofia muscular espinhal, assim que começam a desenvolver a doença, vão perdendo funções neurológicas rapidamente e falecem até o segundo ano de vida. Mas o estudo mostrou que 80% das crianças se mantiveram vivas em dois anos, o que é um desfecho completamente diferente quando você não trata os pacientes”, comenta.
A Roche lidera o desenvolvimento clínico de risdiplam como parte de uma colaboração com a SMA Foundation e a PTC Therapeutics. O medicamento tem aprovação da Anvisa desde outubro de 2020.
AME tipo 1
A AME tipo 1 é uma doença neuromuscular grave e progressiva que pode ser fatal. Afeta aproximadamente um em cada 10.000 nascidos vivos e é a principal causa genética de morte infantil. A AME é causada por uma mutação do gene de sobrevivência do neurônio motor 1 (SMN1), que leva à produção de níveis reduzidos de proteína SMN. Essa proteína é encontrada em todo o corpo e é essencial para o funcionamento dos nervos que controlam os músculos e os movimentos. Sem ela, as células nervosas que controlam os movimentos morrem, o que provoca fraqueza muscular progressiva. Dependendo do tipo de AME e do curso da doença, a força física de um indivíduo e sua capacidade de andar, comer ou respirar podem ser significativamente reduzidas ou perdidas.