As doenças cardiovasculares (DCV) são a causa número um de mortes em todo o mundo – no Brasil, são cerca de 14 milhões de pessoas acometidas por algum tipo de problema no coração. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)1, estima-se que há cerca de mil óbitos diários decorrentes dessas enfermidades. Diante desse cenário, visando auxiliar o SUS no desenvolvimento de práticas de prevenção a essas doenças, o Hospital Israelita Albert Einstein, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), está conduzindo três estudos avaliativos no país: o OPTIMAL-DIABETES, OPTIMAL Stroke/AVC e o Estudo VIP.
Estudo OPTIMAL-DIABETES
O estudo OPTIMAL-DIABETES visa comparar dois níveis de pressão arterial sistólica em pacientes hipertensos e diabéticos e avaliar se o nível de pressão mais baixo (< 120 mmHg) reduz o número de eventos cardiovasculares, como morte por causas cardiovasculares, infarto, AVC e insuficiência cardíaca, comparado com o nível de pressão atualmente recomendado (< 140 mmHg).
Atualmente, o projeto, que é realizado em 33 centros parceiros em todo o Brasil, já incluiu e vem acompanhando 7.980 pacientes de maneira presencial e também remota, via telemedicina. A previsão é que um total de 9 mil pacientes sejam recrutados até outubro de 2021 e acompanhados até o final de 2023.
Para Dra. Karla Espírito Santo, pesquisadora clínica e líder do estudo OPTIMAL-DIABETES pelo Hospital Israelita Albert Einstein, “os resultados do projeto podem contribuir de maneira favorável ao sistema público de saúde caso consigamos demonstrar que há um benefício em reduzir a pressão desses pacientes para níveis considerados normais. Essa prática pode ser implementada imediatamente em hospitais públicos e postos de saúde, contribuindo com a redução de internações e acometimentos de variadas DCVs nesses locais”.
Estudo OPTIMAL Stroke/AVC
O objetivo do Estudo OPTIMAL Stroke/AVC, por sua vez, é comparar dois níveis de pressão arterial sistólica em pacientes hipertensos e com histórico de AVC isquêmico, avaliando se o nível de pressão mais baixo (< 120 mmHg) reduz o número de eventos cardiovasculares, como morte por causas cardiovasculares, infarto e AVC, comparado com o nível de pressão atualmente recomendado (< 140 mmHg). Ao todo, são mais de 2 mil pacientes acompanhados pelo estudo em 25 centros espalhados por quatro regiões do Brasil.
Mesmo durante o enfrentamento da pandemia do novo Coronavírus, o estudo não foi paralisado, e até 2023, a previsão é que 7.104 pacientes sejam avaliados. De acordo com a Dra. Gisele Sampaio Silva, neurologista líder do projeto, desde 2020, foram entregues aos pacientes aparelhos de pressão para que a medição ocorresse no conforto de seus lares, sendo os ajustes medicamentosos feitos por meio de visitas a pacientes incapacitados de comparecer aos centros de pesquisa. “Os aparelhos são fundamentais para garantir o monitoramento dos casos à distância e essa rotina é adequada à realidade de cada centro, visando a segurança das pessoas atendidas”, diz.
Além da flexibilidade e adaptação das visitas, foi desenvolvido um material de educação para os pacientes, para instruí-los sobre a medição da pressão arterial de maneira adequada. Nessas entregas constam, além de medidas rotineiras no seguimento domiciliar, protocolos de mensuração e instruções para os atendimentos remotos. Outra medida adotada pelos centros é a de orientação àqueles que procuram o hospital em momentos de emergência – uma vez que as internações por AVC caíram drasticamente devido à crise sanitária.
Segundo a Dra. Gisele, “esse é o único estudo no mundo que avalia o nível de pressão ideal pós-AVC, pois nenhum grupo antes conseguiu responder a essa importante questão. Investir em políticas públicas e terapias de prevenção é fundamental para evitar mais mortes e a recorrência de AVC, por isso o OPTIMAL-AVC é tão necessário. Estamos em fase de estimular a entrada de mais pacientes para a randomização e, se conseguirmos demonstrar os benefícios desse controle, o SUS terá uma maneira segura de tratar uma das maiores causas de incapacidade no mundo”.
Estudo VIP-ACS
Por fim, o Estudo VIP-ACS avalia se a utilização da vacina contra a Influenza pode prevenir eventos cardiovasculares futuros, como infarto e AVC. Até o momento, 1.802 pacientes estão no estudo e serão acompanhados ao longo de 12 meses em 28 centros espalhados em todo o país. Os pacientes foram incluídos em até sete dias após um episódio de síndrome coronariana aguda para receberem uma dupla vacinação influenza, durante sua hospitalização, ou uma vacina influenza dose padrão após 30 dias. Este desenho clínico testará a hipótese de inibir a infecção influenza como forma de impedir o gatilho para novos eventos cardiovasculares, além da imunomodulação da vacina ser outro fator de proteção.
Atualmente, o estudo se encontra em fase de análise de dados e desfechos clínicos, com previsão de que, em agosto de 2021, esses resultados sejam divulgados e, em abril de 2022, apresentados na American College Cardiology (ACC), importante associação médica reconhecida internacionalmente no ramo de cardiologia.
“Acreditamos que a pesquisa com vacinas nos mostrará os caminhos para o combate às doenças crônicas não transmissíveis. Por meio de uma solução efetiva, rápida, barata e conhecida pelo SUS, buscamos reduzir a ocorrência de um dos maiores empecilhos da saúde pública: as doenças cardiovasculares”, afirma o Dr. Henrique Fonseca, pesquisador clínico da Academic Research Organization (ARO) da Sociedade Brasileira Israelita Albert Einstein. “Caso demonstre benefício, a intervenção por meio das vacinas influenza poderá ser implementada no SUS, de maneira quase que imediata”, conclui.
Os projetos são megatrials, grandes estudos financiados via PROADI-SUS com participantes brasileiros, em parceria com pesquisadores internacionais, que utilizam tecnologias já existentes e recorrentes no SUS. Além dos benefícios aos pacientes acompanhados, espera-se, com esses três estudos, desestimular a crença de que doenças cardiovasculares são comuns à velhice, esclarecer que se trata de uma condição totalmente evitável, e motivar uma possível mudança de políticas públicas para a prevenção do risco cardiovascular.
“A pesquisa clínica salva vidas. A partir desses grandes estudos identificamos intervenções e tratamentos que têm o potencial de reduzir o risco de complicações importantes para problemas de saúde comuns”, conclui o Dr. Otávio Berwanger, diretor da ARO pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
Referências: