Ainda em fase de comprovação de eficácia e eficiência e carecendo de mais estudos, o uso de robôs em cirurgias vem levantando polêmicas. A mais recente pode ser vista em matéria do jornal New York Times, questionando seu uso, com base em estudos publicados no New England Journal of Medicine e em declarações de alerta da FDA (Agência norte-americana de Administração de Alimentos e Drogas).
De acordo com a matéria e com base nos estudos, em alguns casos, como histerectomia, talvez seja melhor não usar a robótica.
Para o Dr. Flavio Hojaij, especialista em cirurgia de cabeça e pescoço, o paciente deve ser prioridade em qualquer decisão. Ou seja, o que é melhor para ele em todos os sentidos.
“Obviamente não podemos ser contra a tecnologia. Mas temos que adequar o que há de mais moderno ao que é melhor ao paciente. Dentro da minha especialidade hoje se fala muito em cirurgia robótica e minimamente invasiva. Cirurgias de retirada de tireoide feitas com incisões na raiz do cabelo ou por dentro da boca, sendo que a única vantagem é a de eliminar uma cicatriz no pescoço. As desvantagens são muitas: cirurgias muito mais demoradas, mais anestesia, recuperação mais lenta, grandes descolamentos de tecidos e grandes incisões internas. E mais: quando existe sangramento pós cirúrgico (raro, mas pode haver), a ação da abertura da incisão tem que ser imediata, para evacuar o hematoma e não provocar insuficiência respiratória. Por onde vai ser feita a abertura com uma incisão à distância? Ou seja, o paciente vai correr risco de vida?”, alerta o médico, que é secretário da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP), Professor livre docente da Faculdade de Medicina da USP e Médico Pesquisador do Laboratório de Anatomia da FMUSP.
De acordo com os estudos publicados pelo New England Journal of Medicine e citados na matéria do New York Times, mulheres com câncer de colo do útero que haviam feito histerectomias minimamente invasivas, incluindo procedimentos auxiliados por robôs, tiveram quatro vezes mais recidivas de câncer e seis vezes mais mortes, comparadas com as que passaram pelo procedimento tradicional.
A FDA já está advertindo para essas questões. De acordo com o New York Times, a diretora de saúde feminina do Centro de Dispositivos e Saúde Radiológica da FDA, Dra. Terri Cornelison, afirmou que: “Queremos que médicos e pacientes estejam cientes da falta de evidências de segurança e eficácia desses usos, para que possam tomar decisões mais bem informadas sobre seu tratamento e cuidados com o câncer”.
Segundo o Dr. Flavio Hojaij, uma cirurgia convencional de tireoide dura cerca de uma hora e o paciente se recupera em 24 horas. Uma cirurgia robótica pode demorar duas ou três vezes mais. Além disso, aqui no Brasil, o custo do robô certamente impacta nos custos. Pode dobrar o valor da cirurgia.
“Acho que a grande maioria dos pacientes pode conviver com uma pequena cicatriz da cirurgia no pescoço. A eliminação dessa cicatriz seria a única vantagem da robótica, no momento”, explica o Dr. Hojaij.