Especialistas da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) lançam o Guia Prático de Urticária para crianças, gestantes e idosos. No Brasil, mais de um milhão de pessoas têm urticária crônica, doença que provoca grande impacto na qualidade de vida do paciente devido as lesões cutâneas e coceira, mas podendo também até levar a quadros de depressão e ansiedade.
O Dr. Luis Felipe Ensina, um dos especialistas responsáveis pelo Guia e Coordenador do Departamento de Urticária da ASBAI, explica que, mesmo com diretrizes bem difundidas para o seu diagnóstico e tratamento, o manejo da urticária pode ser desafiador em pacientes pediátricos, idosos e gestantes.
Crianças – Cerca de 20% das urticárias crônicas (UC) em crianças estão relacionadas às formas induzidas, ou seja, provocadas por desencadeantes específicos, como o frio ou atividade física, por exemplo.
A urticária crônica pode ser tão prevalente nas crianças quanto nos adultos. No caso da urticária crônica espontânea (UCE), os primeiros sintomas surgem entre seis e oito anos de idade. “Com base em dados de prevalência internacional, a UCE é o tipo de urticária crônica mais comum em crianças, cerca de 78% dos casos”, comenta Dr. Ensina. É importante ressaltar que a UCE pode acontecer em qualquer idade.
Estudos indicam que a UCE em crianças ocorre, principalmente, por mecanismos autoimunes, assim como acontece nos adultos. O diagnóstico de urticária crônica na infância também é semelhante ao dos adultos, baseado numa história clínica completa e exame clínico detalhado. O especialista da ASBAI diz que é preciso questionar a frequência e a duração das lesões (as urticas, que são fugazes, duram menos de 24 horas no mesmo local e não deixam marcas), a presença de angioedema associado ou isolado, história de atopia, outras comorbidades, e associação com sintomas sistêmicos, como febre, artralgia, astenia, mialgia, diarreia, entre outros.
“Quando as lesões são fixas, duram mais de 24 horas, involuem com lesões residuais, ou são associadas a sintomas sistêmicos, devemos investigar outros diagnósticos, como a urticária vasculite e as síndromes autoinflamatórias”, explica Dr. Ensina.
Idosos – Segundo o Guia Prático de Urticária, nos Estados Unidos, a prevalência estimada de UCE em pacientes acima de 60 anos é de 0,23%.
“Nos idosos, um dos diagnósticos diferenciais importantes é a urticária por medicamentos, decorrente do uso de múltiplos fármacos frequente nessa faixa etária. O curso recorrente, a relação temporal com o uso da medicação e o controle da urticária são informações que auxiliam no diagnóstico. No entanto, é necessária a confirmação por testes cutâneos ou de provocação para que medicações importantes não sejam trocadas por outras mais complexas sem real necessidade”, alerta Dr. Ensina.
Gestantes e lactantes – Dados recentes de um estudo internacional que contou com a participação de vários centros do Brasil indicam que a urticária possa melhorar durante a gestação. Sabe-se que a urticária não afeta o desenvolvimento do feto e não interfere no trabalho de parto, mas pode impactar significativamente na qualidade de vida da gestante.
“Em termos de tratamento, alguns anti-histamínicos de 2a geração podem ser indicados na gestação, porém o aumento da dose deve ser realizado com cautela. Qualquer medicamento deve ser prescrito com cuidado em grávidas, principalmente durante o primeiro trimestre”, conta o médico alergista.
Quando o paciente não responde aos tratamentos convencionais, o especialista pode entrar com o tratamento imunobiológico, como o omalizumabe, que não causa anomalias para o feto e parece ser uma alternativa segura e eficiente para a gestante.
“O omalizumabe é um anticorpo monoclonal, amplamente usado como medicação complementar na asma grave e urticária crônica que não respondem à medicação usual. Vários estudos mostram que seu uso é seguro na gestação. Relatos de casos de mulheres que usaram omalizumabe antes e durante a gestação demonstraram que os bebês nasceram a termo e tiveram desenvolvimento normal”, explica o especialista.
O médico reitera ainda que os corticosteroides são considerados seguros em gestantes e lactantes. Porém, estas medicações não são recomendadas para uso rotineiro na urticária em todos os pacientes, independentemente da gestação ou amamentação.