Acreditado desde junho de 2017 pela Joint Commission International (JCI), o Hospital e Maternidade Santa Joana, de São Paulo (SP), é especializado nos cuidados com a saúde integral da mulher e do neonato. Com serviços de alta complexidade para gestações de risco, a unidade é especializada na prevenção de lesões cerebrais e sequelas neurológicas em recém-nascidos que sofrem asfixia no momento do parto, oferecendo UTI Neonatal especializada no tratamento de bebês com problemas neurológicos. Sua estrutura contempla ainda mais quatro unidades de terapia intensiva neonatais, além da UTI Adulto – todas equipadas com o que há de mais avançado no segmento. A instituição também conta com um Centro de Diagnóstico, voltado para diversas doenças da gravidez e para a realização de exames de laboratório e imagens, além dos centros de Endometriose e Imunização.
Gisely Cristina Pereira Vetuche, enfermeira coordenadora do Serviço de Controle de infecção Hospitalar do Grupo Santa Joana, fala a seguir sobre como a assistência contempla os rígidos padrões de qualidade e segurança.
Desde quando existe a CCIH no hospital?
O Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) do Grupo Santa Joana existe desde 1991. O controle e a prevenção das infecções dentro do hospital sempre foram preocupações da alta gestão, que também viabiliza as condições estruturais e dão autonomia para que o serviço seja resolutivo e atuante.
Como o hospital vem trabalhando para evitar a infecção hospitalar?
Entendemos que prevenir as infecções está associado ao cuidado com a saúde e que é preciso estar em contato com todas as áreas assistenciais de apoio e administrativa. Assim, é possível garantir a vigilância, controle dos indicadores e atualização dos documentos para todos os processos estratégicos e de risco.
Os documentos (normas, protocolos e POPS) direcionam a prática dos colaboradores que, somados à capacitação da equipe, asseguram à assistência padronizada e de excelência.
A identificação dos riscos se baseia no perfil dos clientes interno e externo, nos serviços prestados e recebidos, assim como na manutenção das instalações físicas e da operação, considerando a possibilidade de riscos conhecidos ou potenciais. Os indicadores (resultado, estrutura e processo) e as metas direcionam para a melhor prática e são norteadores da tomada de decisão, intervenção e implementação de ações de melhoria. É preciso atenção especial a esses indicadores, pois qualquer desvio nos resultados requer uma ação imediata. A utilização das ferramentas da qualidade tem nos ajudado na investigação das causas e na busca por melhores resultados. Além disso, há o apoio das lideranças e da alta gestão para a execução de todas as ações.
Como é feito o controle de suplementos médicos/cirúrgicos, dispositivos e equipamentos para garantir a desinfecção?
Para a gestão dos equipamentos, suplementos e dispositivos existe a Comissão de Padronização de Materiais e Tecnologias formada por uma equipe multiprofissional. Todos os materiais são identificados e classificados de acordo com o seu risco e local de uso. A classificação direciona a tomada de decisão, se necessária, garantindo o processamento ideal para cada material. Um controle rigoroso da limpeza, desinfecção ou esterilização é feito por meio de indicadores e o transporte, armazenamento e o prazo de validade também são monitorados e entendidos como pontos críticos. Os desvios recebem tratativas e correções e o cumprimento do processo é garantido por meio de treinamento e capacitação da equipe da central de material e esterilização, farmácia e almoxarifado.
Quais estratégias de segurança utilizadas para diminuir o risco de infecção entre pacientes, colaboradores e visitantes?
Uma política abrangente de controle de infecção garante a proteção desses públicos. Para o colaborador há um programa integrado com a Medicina Ocupacional, que prevê exames de saúde periódicos, com renovação anual e atendimento médico diário, sempre que necessário. A imunização contra doenças infectocontagiosas é prevista já na admissão do colaborador e gerenciada rigorosamente, além da campanha de vacinação contra a gripe, feita anualmente. Gestantes e recém-nascidos são populações de risco, por isso, é garantida a pesquisa viral em colaboradores de áreas críticas com quadro respiratório e afastamento, se necessário, proporcionando assim maior segurança ao paciente.
A identificação do paciente com doença infectocontagiosa também é importante e ocorre já na admissão, pois o protocolo contempla que com as informações clínicas e de prontuário dos pacientes, a equipe assistencial tenha autonomia para iniciar as precauções necessárias. As barreiras devem acontecer antecipadamente para que os pacientes e os colaboradores não sejam expostos aos riscos.
Na admissão dos recém-nascidos, na UTI neonatal, os pais recebem orientação da equipe médica e da enfermagem sobre o procedimento de higienização das mãos, doenças infectocontagiosas e práticas adequadas.
Há ainda um grupo dedicado a higiene de mãos, com ações mensais de educação dentro das unidades críticas, fazendo com que a prática seja abordada sistematicamente com os profissionais e pacientes.
O hospital tem um programa de educação continuada para colaboradores e para pacientes e familiares ou cuidadores, para garantir sua saúde?
Tendo em vista a diversidade de medidas preventivas é fundamental que o SCIH promova um programa educativo que reforce os conceitos já assimilados, bem como acompanhe e oriente as mudanças ou novas recomendações. A capacitação do novo colaborador, chamada de ambientação, é feita antes do início de suas atividades, e é nesse momento que ele recebe orientações sobre os principais protocolos, normas e procedimentos institucionais. Um plano de capacitação para cada área foi desenvolvido para que o gestor local possa acompanhar e garantir o desenvolvimento do novo colaborador durante o primeiro mês de trabalho.
Um programa anual foi criado para o desenvolvimento da equipe e a cada desvio nos objetivos planejados uma nova intervenção é feita. O monitoramento ocorre por meio do acompanhamento dos indicadores e índices de infecção relacionados à assistência, visitas técnicas e vigilância nas áreas críticas, como a UTI Neonatal.
Os pacientes e visitantes têm acesso a um guia de orientação com os 10 mandamentos de prevenção de infecção em maternidades que possibilita a educação desse público em relação ao tema. O programa educacional do SCIH inclui também o aprimoramento técnico e científico dos integrantes do grupo e a tradicional Jornada Científica bianual que é aberta ao público externo a fim de atualizar as medidas preventivas de infecção em maternidades.
Em relação a pacientes de alto risco, inclusive gestantes, quais os tipos de cuidado o hospital tem para evitar infecções, especialmente, as cruzadas?
Para a prevenção de infecção em pacientes de alto risco toda a cadeia de cuidado tem seu processo avaliado. Portanto, existe uma preocupação em várias as áreas como, o controle de pragas, da qualidade da água e do ar, gestão de materiais e equipamentos, garantia de que as medicações e produtos padronizados cumpram as legislações vigentes e sejam corretamente armazenados, cuidados com a cadeia de medicação, gestão do processamento de materiais, educação para pacientes e visitantes, capacitação das equipes em relação aos procedimentos assistenciais, documentos normativos atualizados, monitoramento dos processos de precaução, isolamento e garantia de suprimentos aos pacientes e principalmente excelência na higiene de mãos. Embora essa seja a medida mais importante e reconhecida na prevenção e controle de infecções nos serviços de saúde, colocá-la em prática consiste numa tarefa complexa, pois depende do comprometimento e engajamento dos diversos profissionais da saúde. O nosso serviço promove a educação mensal para todas as unidades de terapia intensiva e monitora a adesão dessa prática trimestralmente por meio da observação direta e entrevistas com pacientes e familiares.
Quais os cuidados de segurança com o ambiente, descarte de material etc?
O Grupo Santa Joana tem uma metodologia de trabalho que possibilita a avaliação e a inspeção dos serviços de apoio e assistenciais de forma programada. Um grupo multidisciplinar faz visitas técnicas periódicas para a avaliação da segurança do ambiente. O SCIH ainda gerencia, monitora, identifica e implementa medidas para controle dos riscos de transmissão ou aquisição de organismos provenientes do ambiente (ar, água, dispositivos e materiais, projetos de manutenções, reformas e novas construções e higienização do ambiente).
Para a garantia e segurança do ambiente a proximidade com o serviço de hotelaria é essencial. No Grupo essa área participa das decisões de aquisição e implantação de soluções relacionadas aos saneantes, normas de descarte de materiais e resíduos, validação dos procedimentos de limpeza e desinfecção de superfícies e auditoria de cumprimentos das práticas recomendadas. Existe um amplo programa de gerenciamento de resíduos que garante o descarte adequado e seguro de todos os resíduos gerados.
Segundo a OMS, cerca de 234 milhões de pacientes são operados por ano em todo o mundo. Destes, um milhão morre em decorrência de infecções hospitalares e sete milhões apresentam complicações no pós-operatório. Quais os dados do hospital nos últimos anos?
A instituição possui cirurgias de alta complexidade, como neurocirurgias, cirurgias cardíacas, cirurgias fetais, além de um número importante de cirurgias obstétricas.
Os nossos excelentes índices são devido ao compromisso das equipes cirúrgicas com as normas de prevenção no pré-operatório, intraoperatório e pós-operatório. As coordenações de enfermagem e anestesia dos centros cirúrgicos e obstétricos garantem com a CCIH o cumprimento às profilaxias cirúrgicas, respeitando o tempo, sangramento, o tipo de intervenção cirúrgica e as condições clínicas do paciente. Um indicador mensal é monitorado para todas essas variáveis.
Os fatores para a aquisição de infecção de sítio cirúrgico são multifatoriais, descritos e devem ser controlados, quando possível. São eles: fatores maternos (tabagismo, pré-natal limitado, obesidade, uso de corticosteroides, nuliparidade e gestações gemelares), intraparto e fatores operatórios (corioamnionite, ruptura prematura de membranas, ruptura prolongada de membranas, parto prolongado, espessura do tecido subcutâneo> 3 cm, hematoma subcutâneo, falta de profilaxia antibiótica, emergência e perda excessiva de sangue). As intervenções eficazes são instituídas em todas as variáveis controladas e os índices são discutidos em um fórum mensal com as equipes cirúrgicas, lideranças do centro cirúrgico e anestesia.
Temos mantido os índices de infecção em cesárea abaixo dos indicadores nacionais e americanos.
De que forma os padrões de acreditação da JCI e as orientações dos educadores do CBA auxiliam no combate à infecção hospitalar?
A implementação do programa de qualidade tem agregado valor nos resultados e garantido metas relacionadas ao controle de infecção, além de ampliar o entendimento e importância sobre o trabalho do SCIH por parte das áreas assistenciais e de apoio. Esses resultados tiveram impactos na mudança do comportamento das equipes, que enxergam o SCIH como parte integrante dos seus processos. O manual da JCI é minucioso, completo e as pontuações de melhorias dos educadores do CBA auxiliam o SCIH acessar todas as áreas. Assim, concluímos que o empenho, dedicação e compromisso da comissão de Controle de Infecção resultante da participação do projeto de qualidade, seguindo os padrões da JCI, foram fundamentais para as melhorias dos resultados e reduções nas taxas de infecção.