O uso de impressão 3D na medicina apenas começou a ser explorado e promete revolucionar a forma como cuidamos da saúde. Com os recursos oferecidos por essa tecnologia, a equipe do Instituto de Oncologia do Hospital Santa Paula, de São Paulo (SP), realizou uma cirurgia inédita no Brasil para ressecção de osteossarcoma na região da bacia. Pela primeira vez no país, a equipe médica usou um modelo plástico da estrutura óssea da paciente para planejar guias específicos para os cortes precisos e produzir a prótese customizada.
A cirurgia foi conduzida pelo Dr. André Ferrari, especialista em oncologia ortopédica, após cerca de quatro meses de planejamento. A paciente de 51 anos desenvolveu um tumor maligno na região do acetábulo (encaixe da cabeça do fêmur na bacia), condição pouco comum. “É raro que o osteossarcoma acometa ossos da bacia. Além disso, um tumor pode afetar locais diferentes da bacia, o que faz com que cada caso seja único. Dessa forma, não existe um implante apropriado no mercado para reconstruir o defeito criado após a reconstrução”, explica.
Diante desse desafio, Ferrari buscou a tecnologia de impressão 3D para oferecer à paciente mais qualidade de vida após a cirurgia. Usando uma tomografia, foi criado no computador um modelo 3D da bacia da paciente. Ele permitiu estudar exatamente onde estava o tumor e decidir onde deveriam ser os cortes ósseos para ressecá-lo com margens livres. Isso levou à elaboração de um guia de corte personalizado, que foi impresso em uma impressora 3D em PETG (um tipo de plástico). “Isso garantiu que o defeito criado pela ressecção na cirurgia fosse exatamente igual à que fizemos no modelo tridimensional”.
O próximo passo foi o desenvolvimento da prótese. Novamente o ponto de partida foi um modelo virtual 3D com todos os detalhes necessários. A primeira impressão foi feita em plástico, para que a equipe pudesse manipular a peça e finalizar o planejamento. Após ajustes, a prótese definitiva foi impressa em titânio.
“O padrão para ressecções de tumores na região acetabular no Brasil é deixar o quadril ‘balante’, sem reconstrução. Obviamente, isso tem impacto significativo na função e na qualidade de vida, com encurtamento de vários centímetros e necessidade de muletas para o resto da vida”, explica o especialista. Com essa técnica, a expectativa é que a paciente tenha função praticamente normal, sem a necessidade de muletas e sem discrepância de comprimento de membros.
O osteossarcoma é um tumor ósseo maligno primário mais comum em crianças e adolescentes, principalmente na faixa de 10 a 19 anos, com segundo pico de incidência em pessoas acima de 50 anos.