Doença silenciosa, a hepatite acomete um número significativo de brasileiros. De acordo com o Ministério da Saúde, no país, mais de três milhões de pessoas estão infectadas com o tipo C, que é o mais comum. Por conta disso, o Julho Amarelo surge para conscientizar a população sobre a patologia que, se não for descoberta e tratada precocemente, pode evoluir, em alguns casos, para uma cirrose ou câncer. Pensando nisso, em alusão ao período e abraçando a causa, o Hospital São Rafael (HSR), de Salvador (BA), realizou, na tarde de sexta-feira (27), uma campanha interna para pacientes, visitantes e colaboradores, oferecendo testes rápidos de detecção da doença e distribuição de material educativo, em parceria com o Grupo de Apoio aos Portadores de Hepatites Virais – GVV.
Segundo o hepatologista do HSR, André Lyra, a hepatite viral provoca a inflamação do fígado, sendo desencadeada após contato com vírus, classificando-se como aguda ou crônica. Dentre os sintomas clássicos das hepatites agudas, destacam-se o mal estar, falta de apetite, moleza, febre, icterícia (olho amarelo) e colúria (urina escura). Nos quadros crônicos, como por exemplo em relação à hepatite C, o cuidado tem que ser redobrado, pois habitualmente são assintomáticos. “Na maioria das vezes, os pacientes recebem o diagnóstico após exames de rotina. Por isso, a importância de fazer o teste de triagem da doença, pelo menos em uma ocasião durante o check-up médico, para a maioria dos indivíduos”, detalha o especialista.
Ainda segundo o hepatologista, a transmissão do vírus da hepatite C ocorre, principalmente, através de sangue contaminado. “Um meio importante de contaminação é o compartilhamento de material perfuro-cortante, destacando-se, nestes casos, a partilha de material habitualmente usado no consumo intravenoso de drogas ilícitas, como agulhas e seringas. Aqueles que utilizam drogas ilícitas inalatórias, através do mesmo tubo compartilhado, também podem contrair este tipo de hepatite, se houver contato com lesões das mucosas nasais. É válido ressaltar que, de um modo geral, todo material partilhado, não devidamente esterilizado, pode ser um veículo de transmissão do vírus, incluindo lâmina de barbear, piercing, tatuagem e acupuntura, entre outros. A hepatite C não se dissemina pela saliva nem através dos alimentos”, esclarece.
Outros meios de transmissão
A via sexual é outro meio possível de contágio, mas pouco comum da hepatite C. A transmissão vertical, isto é, da mãe para o filho, também não é frequente. Este risco aumenta se a genitora estiver infectada pelo vírus HIV e apresentar carga viral muito alta. A Organização Mundial de Saúde (OMS) não contraindica amamentação de mulheres com hepatite C para os seus filhos, entretanto é necessário levar em consideração que não pode haver nenhum tipo de ferida na região periareolar (bico do seio). Se houver ferimentos expostos, a amamentação deve ser evitada.
Se o vírus causador da hepatite C não for diagnosticado e tratado precocemente, o paciente poderá continuar tendo o fígado agredido e, em alguns casos, chegar ao quadro de cirrose descompensada, ou seja, o órgão para de funcionar adequadamente, o que traz consequências clínicas relevantes. Os sintomas que podem ocorrer nesta fase avançada são edema nas pernas, ascite (líquido dentro da cavidade abdominal), icterícia e manchas características nas palmas das mãos e tórax.
Novos tratamentos
O anti-HCV é o exame de triagem inicial que deve ser realizado para começar a investigação diagnóstica da hepatite C. Uma vez ele sendo positivo, é necessário realizar um teste confirmatório denominado de HCV RNA quantitativo. Somente se este último for positivo é que o diagnóstico da hepatite C pode ser estabelecido.
Segundo André Lyra, até pouco tempo atrás o tratamento da doença era feito com drogas parenterais e orais que provocavam efeitos colaterais muito intensos e a eficácia variava de baixa a intermediária. Mais recentemente, o Governo brasileiro disponibilizou, através do SUS, novas combinações terapêuticas orais que são utilizadas em vários países, mais eficazes, com menos efeitos colaterais reduzidos e clinicamente não relevantes.
“Com a redução do custo desses novos tratamentos nos últimos anos, as regras para sua liberação pelo SUS foram flexibilizadas e mesmo pacientes com fibrose hepática leve ou sem fibrose podem ser considerados para a terapia”, detalha o hepatologista, André Lyra, afirmando que a doença pode ter cura. “As chances variam de 80 a 100%, a depender do quadro clínico do paciente e do genótipo viral. Uma vez obtida a cura, o teste anti-HCV permanecerá positivo por vários anos ou até mesmo por toda a vida, mas o paciente continuará curado”, conclui.