Jogos e atividades lúdicas são tratamento alternativo de sintomas neurológicos do pós-Covid-19

Estudos associam problemas de memória e outras deficiências cognitivas como característica comum em pacientes pós-Covid-19

A Covid-19 segue causando problemas, mesmo entre os curados. Além das milhões de perdas humanas e dos gigantescos prejuízos financeiros sofridos em virtude das medidas de contenção do vírus, médicos e especialistas ainda estão tentando entender exatamente quais as causas, gatilhos e tratamentos das sequelas pós-Covid-19 enfrentadas por diversas pessoas que contraíram alguma das diferentes variações do vírus, antes e depois da aplicação das vacinas. Entre os vários problemas de saúde posteriores enfrentados por indivíduos que já contraíram a doença, um dos mais comuns é a perda de memória. Há uma série de estudos recentes mostrando que este é um problema mais comum do que muitos de nós acreditam que é.

Um estudo médico realizado neste ano e coordenado pela Unicamp e pela USP investigou os efeitos da Covid-19 no cérebro dos infectados. A pesquisa, que teve 80 participantes, revelou um cenário alarmante mas já conhecido por médicos que lidam com pacientes recuperados da doença: de acordo com os cientistas, estes indivíduos apresentaram uma atrofia numa área específica do cérebro responsável pela capacidade de atenção e pelo raciocínio. O estudo ainda revelou que os infectados, mesmo com casos leves de Covid-19, tiveram queixas recorrentes de problemas como depressão, ansiedade e disfunções cognitivas como perda de memória.

O neurologista credenciado da Paraná Clínicas, empresa do Grupo SulAmérica, Dr. Eduardo Savoldi, conhece bem esta realidade. Segundo o médico, os relatos de pacientes recuperados de Covid-19 sofrendo com sequelas neurológicas são comuns: “Temos observado um crescimento grande de casos do tipo. Muitas pessoas que tinham sintomas neurológicos leves, toleráveis, sentiram o quadro se agravar depois de se recuperarem da Covid-19. Na minha prática clínica, venho observando que muitos pacientes que já tiveram a doença apresentam sintomas neurológicos”, afirma o médico. Ainda de acordo com ele, os sintomas mais comuns relatados são fadiga, dores de cabeça, tontura, dificuldade de concentração, distúrbios do sono, ansiedade, depressão e perda de memória.

Neste cenário, muitas pessoas que sofrem com os efeitos do pós-Covid-19 têm buscado alternativas complementares ao uso de medicamentos, uma prática recomendada por especialistas. Uma das ferramentas usadas para lidar com o problema e estimular a capacidade cognitiva afetada de pacientes são os bons e velhos jogos educativos/de tabuleiro.

O lúdico no combate ao pós-Covid-19

A gerente comercial da Gemini Jogos Criativos, da Beatriz Ortega Lyng, empresa especializada na produção de produtos lúdicos voltados ao estímulo cognitivo a partir de games de mesa para crianças, adultos e idosos, conta que o número de clientes à procura de jogos que estimulam aspectos ligados a retenção de memória cresceu significativamente nos dois últimos anos:  “À medida em que a quantidade de casos de Covid-19 foi crescendo e as pessoas se recuperando, muita gente começou a nos procurar em busca de produtos que os ajudassem a lidar com sintomas relacionados a perda de memória e esse volume de clientes só tem aumentado. Quando começamos a observar pesquisas apontando a relação da Covid-19 com problemas neurológicos, não nos surpreendemos”, conta.

Mas, de fato, os jogos podem ajudar pacientes de pós-Covid-19 a melhorar suas capacidades cognitivas afetadas? Segundo especialistas, sim: “Nosso cérebro reage aos estímulos da mesma forma que nossos músculos. Quanto mais o estimularmos, mais forte e menos suscetível a sequelas neurológicas ele será. Neste sentido, qualquer atividade que influencie a capacidade cognitiva é altamente recomendada, incluindo jogos. Neste caso, os mais indicados são aqueles que estimulam nossas memórias como caça-palavras, quiz de perguntas e respostas, além daqueles que estimulam o raciocínio lógico como quebra-cabeças e jogos de tabuleiro”, afirma Savoldi.

De acordo com Beatriz, o feedback dos consumidores de jogos do tipo tem sido excelente: “As pessoas nos procuram meio desconfiadas dos efeitos práticos deste tipo de jogo, mas geralmente voltam para nos contar que eles de fato as ajudaram a melhorar em graus variados. É claro que nossos produtos não substituem um tratamento clínico adequado, mas temos colhido muitos relatos de clientes que evoluíram com o uso de nossos jogos”, conta.

Além do uso de games, especialistas também recomendam como alternativas complementares ao tratamento deste tipo de problema o desenvolvimento de novas habilidades psicomotoras como aprender a tocar um instrumento musical ou algum novo idioma. Ainda de acordo com eles, a manutenção de bons hábitos de saúde como alimentação saudável e prática regular de atividade física contribuem para a melhora da capacidade cognitiva dos indivíduos, atenuando possíveis sintomas neurológicos decorrentes do pós-Covid-19.

Redação

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