‘Ligação do Coração’: tecnologia reduz distâncias criadas pela pandemia

A pandemia do novo coronavírus mexeu com a rotina de todos os hospitais brasileiros. Além de reforçar os cuidados com a higiene e a proteção das equipes de trabalho, para achatar a curva de contaminação e garantir o bem-estar também dos pacientes que demandam atendimento médico por outros sintomas, foi preciso reforçar os protocolos de segurança, controlar o trânsito de acompanhantes e proibir o acesso de visitantes – principalmente nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

Na UTI Neonatal do Hospital Santa Cruz, de Curitiba (PR), por exemplo, antes da pandemia, mãe e pai conseguiam entrar e sair quantas vezes quisessem da unidade durante todo o dia. Depois da chegada do vírus, apenas uma pessoa pode entrar e ainda é preciso respeitar outras regras. “A mãe ou o pai pode permanecer por até 12h, mas só pode sair uma vez para almoçar e, mesmo assim, não pode deixar o hospital”, explica a psicóloga, Patrícia Ferrari. Para ampliar o suporte ao acompanhante e evitar o uso do restaurante interno, o Hospital Santa Cruz passou a oferecer as refeições diárias de forma gratuita.

Mas com todas essas restrições de segurança, ficou mais difícil revezar a visita ao bebê internado. “Na maioria das vezes, quem entra é a mãe, pois esta tem preferência devido a necessidade de esgota do leite e ou amamentação do bebê. Assim o pai fica sem acompanhar o desenvolvimento do filho e sem sentir-se presente nesse momento tão delicado e importante da vida da família”, completa a psicóloga.

Para diminuir essa distância e ajudar a tranquilizar os pais, a equipe multidisciplinar da UTI Neonatal desenvolveu o projeto “Ligação do Coração”, que consiste em uma vídeo-chamada diária para acompanhamento do pequeno paciente pelo pai ou outro familiar. “Todo dia, às 11h, as mães são autorizadas a entrar na UTI com o celular e fazer uma ligação por vídeo para quem desejarem. Todo o processo é acompanhado pela equipe multidisciplinar, inclusive a ação de higienização dos aparelhos e das mãos na entrada e na saída da unidade”, enfatiza a enfermeira coordenadora da UTI Neonatal do Hospital Santa Cruz, Paula Mara Bordim Lopes. “Trabalhamos para manter a humanização durante a pandemia, mas sem deixar de lado a segurança do paciente”, completa a enfermeira.

Experiência

A restrição das visitas impactou de forma significativa o dia a dia dos pais do pequeno Valentim, a Juliana Gonçalves Pereira e o Rodrigo Zanardini Martins. O pequeno nasceu de 25 semanas com apenas 570g – sendo que uma gestação completa tem duração aproximada de 40 semanas – e, há mais de 60 dias, recebe cuidados intensivos na UTI Neonatal do Hospital Santa Cruz.

“Eu gostava das visitas presenciais, de compartilhar esses momentos com meu marido. Acho que era mais fácil porque a gente acolhia um ao outro. Estamos nos adaptando, mas fico com o coração mais apertado ao vê-lo triste por não visitar mais o nosso pequeno. Ele espera ansioso pelas notícias, pelas fotos e muitas vezes chora de saudades”, conta Juliana, a mãe do Valentim.

Segundo ela, apesar de não substituir o contato ao vivo e a cores, o projeto “Ligação do Coração” tem sido um alento. “Pela vídeo-chamada, o Valentim pode me ouvir e quem sabe reconhecer minha voz. É o melhor momento do meu dia”, confirma o pai. Mas em função do trabalho, nem sempre Rodrigo consegue participar da vídeo-chamada no horário agendado. Nesses dias, Juliana aproveita para ligar para outros familiares.

“Já telefonei para os avós e para a bisa do Valentim, que está internada em outro hospital e também não pode receber visitas”, conta a mãe. De acordo com Patrícia, além de ajudar a reduzir a distância e minimizar ansiedades causadas por esta, o projeto tem incluindo no processo outros integrantes da família que antes não podiam entrar na UTI Neonatal, como os irmãos e os avós.

Redação

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