Massa muscular pode prever resultados oncológicos em pacientes com câncer de pulmão

Dois importantes estudos brasileiros foram apresentados na Conferência Mundial sobre Câncer de Pulmão (WCLC 2022), a maior conferência internacional do mundo para médicos, pesquisadores e cientistas na área de câncer de pulmão e oncologia torácica, que ocorreu de 6 a 9 de agosto, em Viena, na Áustria.

O oncologista torácico Carlos Gil Ferreira, é autor sênior dos dois estudos. O primeiro, Do in Screening – Calf Circumference and Muscle Strength is Predictive of Outcomes in Lung Cancer Treatment (Fazer na triagem – circunferência da panturrilha e força muscular é preditiva de resultados no tratamento do câncer de pulmão), mostrou que a baixa massa muscular contribui para uma maior ocorrência de efeitos colaterais do tratamento, pior funcionamento físico, qualidade de vida e mortalidade em pacientes com câncer de pulmão. “A recuperação da massa muscular pode ser revertida com intervenções nutricionais e multimodais desde que detectadas precocemente, o que pode melhorar os desfechos desses pacientes”, diz Carlos Gil Ferreira. “O problema é que os métodos de avaliação, como tomografia computadorizada, por exemplo, são caros, nem sempre disponíveis e não são fáceis de usar na prática clínica. O que observamos nesse estudo foi que o uso de uma medida simples e de baixo custo, como circunferência da panturrilha e força de preensão manual no diagnóstico, também é preditivo de resultados negativos no tratamento do câncer de pulmão e não pode mais ser negligenciado”, afirma.

Foram incluídos 50 pacientes com câncer de pulmão, sendo 62% do sexo feminino, 94% idosos, 88% com câncer de pulmão de células não pequenas, 88% com diagnóstico de doença em estágio III e IV e 64% tabagistas. Na avaliação da sobrevida global, pacientes com baixa massa muscular e baixa força tiveram sobrevida significativamente menor em 349 dias contra 1247 para aqueles com parâmetros acima dos pontos de corte definidos.

O segundo estudo, Real-world Evidence of Durvalumab for Stage III NSCLC: Survival Outcomes and Patterns of Care Post-progression (Evidências do mundo real de Durvalumab para CPNPC em Estágio III: Resultados de Sobrevivência e Padrões de Cuidados Pós-progressão) avaliou a eficácia do tratamento de imunoterapia com durvalumabe, um tipo de proteína concebido para reconhecer e se ligar a uma determinada substância alvo no corpo. É indicado para o tratamento de pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPNPC) em estágio III. “Nesse estágio, geralmente a doença já se disseminou para os linfonodos ou estão próximos do outro pulmão ou pescoço e pode ser que não seja possível a remoção cirúrgica. Neste caso, havia poucas opções terapêuticas além da combinação de quimioterapia e radioterapia até que a consolidação da imunoterapia com durvalumabe mostrou melhora na sobrevida global e se tornou um padrão de tratamento, apesar de ainda haver escassez de evidências do mundo real sobre a eficácia do durvalumabe”, diz o oncologista.

Foram incluídos 158 pacientes com seguimento médio de 13 meses. Apenas 20 pacientes (13%) completaram 1 ano de durvalumabe, enquanto 112 (71%) descontinuaram o tratamento planejado após uma média de 7 meses. No geral, 36 pacientes (23%) receberam terapia pós-progressão, mais frequentemente quimioterapia (45%, exclusivamente em pacientes que descontinuaram durvalumabe prematuramente), seguida de combinação de imunoterapia e quimioterapia (33%, principalmente em pacientes que completaram durvalumabe) e inibidores de tirosina quinase (22%). A média de descontinuação do tratamento oferecido pós-durvalumabe foi de 4 meses. “As evidências do mundo real mostraram resultados de sobrevida comparáveis aos dados de ensaios clínicos randomizados, apesar do acompanhamento mediano mais curto”, afirma Carlos Gil.

“O câncer de pulmão é a principal causa de morte relacionada ao câncer em todo o mundo e um evento como o WCLC, para especialistas em câncer de pulmão de todo o mundo e em todas as disciplinas, oferece oportunidades para aprender e compartilhar os mais recentes desenvolvimentos em pesquisa, prevenção, diagnóstico, tratamento e gerenciamento da doença”, conclui.

Redação

Redação

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.