A experiência da Índia no rastreamento com exame físico para identificação do câncer de mama pode servir como exemplo para um projeto nacional de redução da mortalidade pela doença, primeira causa de morte por câncer entre as mulheres em todas as regiões do país, com exceção da região Norte, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). O médico indiano e oncologista cirúrgico Rajendra Badwe, diretor do Tata Memorial Centre em Mumbai, apresentará os resultados do trabalho em um encontro virtual e gratuito para profissionais de todo o Brasil, promovido pelo Clube da Mama, grupo de estudos da Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Santa Catarina (SBM/SC), neste sábado (14), a partir das 9h.
O estudo multicêntrico feito na Índia acompanhou 150 mil mulheres de baixa renda, durante 20 anos. Foi realizado apenas exame físico por profissionais de saúde treinados e não médicos. Os resultados foram expressivos na diminuição da mortalidade. A redução no número de mortes no grupo de mulheres acima de 50 anos chegou a 15%. O trabalho de Rajendra Badwe, considerado um dos maiores pesquisadores sobre câncer de mama do mundo, teve grande repercussão no ambiente acadêmico em 2021 e foi pauta em diversas conferências.
“O conhecimento desse estudo é fundamental para nossas estratégias, pelas características semelhantes às do Brasil, pois ambos são países com históricos problemas sociais e econômicos”, explicou Adriana Freitas, presidente da SBM/SC e coordenadora do evento. “Aqui temos focado na mamografia, contudo, com resultados insuficientes”, avaliou. Os motivos apontados são a precariedade do acesso ao tratamento, a falta de resposta efetiva das mulheres em relação às campanhas, além da baixa realização de mamografias e dos problemas com a qualidade técnica dos exames em diversas regiões do país.
A partir do conhecimento da experiência indiana, a ideia é elaborar novos programas de rastreamento que não sejam apenas os baseados na mamografia como estratégia de redução de mortalidade. “Podemos treinar profissionais da saúde não médicos para um trabalho similar ao que foi realizado na Índia, valorizando o exame físico, além da mamografia, e associando essa prática ao programa de navegação de pacientes, que já existe e vai ao encontro das mulheres para auxiliar a vencer os obstáculos do acesso ao tratamento”, adiantou Adriana Freitas.
O encontro com Rajendra Badwe terá ainda a participação de três dos maiores especialistas em câncer de mama no Brasil, com importantes experiências e resultados positivos em rastreamento: Luiz Henrique Gebrim, diretor do Hospital Pérola Byington (SP); Ruffo de Freitas Jr, coordenador do Programa de Mastologia da Universidade Federal de Goiás; e Sandra Gioia, secretária-adjunta da Sociedade Brasileira de Mastologia e diretora do Núcleo de Mama do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC).
Movimento Rosa
A SBM/SC também anunciou para outubro a segunda edição do Movimento Rosa no estado. A primeira, realizada de outubro de 2020 a março de 2021, proporcionou dos exames preventivos até o tratamento completo do câncer de mama, de forma totalmente gratuita, a mulheres de baixa renda com mais de 40 anos, nos municípios da Grande Florianópolis, Joinville, Blumenau, Chapecó, Lages, Itajaí, Criciúma, Tubarão e Mafra. Foram feitas 960 mamografias, 915 consultas, 91 ultrassonografias e outros exames, 21 biópsias e 10 cirurgias. Para este ano, o Movimento Rosa pretende atender o público represado de biópsias, avaliado como o maior gargalo no tratamento. O evento deste sábado e o Movimento Rosa têm apoio da empresa farmacêutica Libbs.
Números sobre o câncer de mama
Conforme dados do Inca, o câncer de mama é o mais incidente em mulheres no mundo, com aproximadamente 2,3 milhões de casos novos estimados em 2020, o que representa 24,5% dos casos novos por câncer em mulheres. É também a causa mais frequente de morte por câncer nessa população, com 684.996 óbitos estimados para o ano passado (15,5% dos óbitos por câncer em mulheres). No Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama também é o mais incidente em mulheres de todas as regiões, com taxas mais altas no Sul e Sudeste. Para o ano de 2021 foram estimados 66.280 casos novos, o que representa uma taxa de incidência de 43,74 casos por 100.000 mulheres.
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