O diabetes mellitus é uma das doenças mais comuns do mundo: atinge, em média, 537 milhões de adultos com idades entre 20 e 79 anos, ou seja, pouco mais de 10% da população mundial, segundo o Atlas Diabetes 2021.
E, se falamos de mundo, não podemos deixar de falar de Brasil: por aqui, a doença é a sexta maior em incidência, colocando o país em primeiro lugar no número de casos na América Latina – são mais de 15 milhões de brasileiros adultos que sofrem da doença e a estimativa é que esse número aumente para mais de 23 milhões até 2045.
Considerar esses fatos é importante porque o diabetes, além de interferir diretamente na alimentação dessas pessoas, pode desencadear complicações graves – inclusive interferindo na saúde ocular dos pacientes. É isso que vamos entender melhor hoje.
Uma breve revisão sobre diabetes
Antes de mais nada, vamos relembrar o que é o diabetes e como essa doença afeta a saúde dos pacientes? “O diabetes mellitus é uma doença caracterizada pelo aumento da glicose no sangue”, explica a endocrinologista e metabologista pela SBEM Dra. Thais Mussi. “Isso pode acontecer tanto pela falta de produção quanto por mau funcionamento da insulina, que é um hormônio produzido no pâncreas, pelas chamadas células beta.”
O papel da insulina é permitir que a glicose entre no organismo de forma a ser aproveitada nas várias atividades celulares. Por isso, quando existe uma falha no funcionamento da insulina ou falta desse hormônio no organismo, a glicose se acumula no sangue, causando hiperglicemia.
O diabetes é uma doença crônica que, no geral, é dividida em dois tipos: o tipo 1 pode ser desencadeado em qualquer faixa etária e costuma surgir desde o nascimento. “É considerada uma doença autoimune, porque o próprio sistema imune destrói as células produtoras de insulina do pâncreas. Dessa forma, como o hormônio não é produzido, a glicose acaba acumulando no sangue.”
O diabetes tipo 2 é o mais comum – acomete cerca de 90% dos pacientes diabéticos. É causado pela resistência à insulina, que diminui a ação do hormônio no corpo, fazendo com que o organismo aumente a produção de insulina para tentar garantir níveis normais da glicose. Esse tipo está associado, principalmente, com o estilo de vida de pacientes: uma alimentação rica em gorduras e carboidratos e uma rotina pobre em exercícios físicos.
“O diabetes é, sim, uma doença incurável, mas com a possibilidade de haver remissão”, explica a médica. “A remissão é quando a doença está silenciada. Ou seja, o paciente, mesmo sem tomar os medicamentos, não tem sinal, sintoma ou alteração laboratorial que indique o desenvolvimento da doença.”
A remissão, possível apenas nos quadros de diabetes tipo 2, acontece quando o paciente ajusta o seu estilo de vida, investindo em bons hábitos alimentares e em uma rotina de atividades físicas adequadas, além de fazer o devido acompanhamento médico e, possivelmente, medicamentoso.
O efeito do diabetes na visão
Depois dessa revisão, hora de entender de que forma o diabetes interfere na visão dos pacientes. Segundo o Dr. Hallim Féres Neto oftalmologista membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e diretor da Prisma Visão, o aumento do açúcar no sangue causa uma lesão nas veias e artérias dentro do olho, aumentando o risco de sangramentos e inflamações na retina – inclusive com o risco de deslocamento. Além disso, aumenta também a chance de desenvolvimento de glaucoma e do aparecimento precoce da catarata.
E tem mais: o diabetes é a principal causa de cegueira em adultos, o que significa que, se não controlada, pode gerar uma queda gigante de qualidade de vida nos pacientes.
“O diabetes altera os vasos sanguíneos da retina, aumentando a chance de oclusão desses vasos, deixando a retina sem oxigênio. Isso vai fazer com que haja a criação de novos vasos sanguíneos, que não são tão bem formados e que têm mais chance de sangrarem dentro do olho”, explica o médico. “Essa é a retinopatia diabética.”
Outra condição comum desses pacientes é o edema macular diabético, uma consequência da retinopatia diabética. Nesse caso, acontece também uma saída de líquido de dentro das artérias e veias para dentro do olho – e esse líquido pode se depositar na mácula, a área mais importante da nossa retina, causando turvação visual e aumentando o risco de perda de visão.
“A coisa mais importante a se fazer é o controle do diabetes”, continua o oftalmologista. “Se o diabetes está controlado, dificilmente haverá lesão nos órgãos alvo (olhos, rins, cérebro, coração e extremidades). Além disso, o acompanhamento com o oftalmologista a cada 6 meses é importante para: 1) detectar alterações precoces, de forma que possamos agir para prevenir complicações sérias; e 2) também alertar o endocrinologista que já há começo de lesão em órgão alvo, para que o tratamento do diabetes possa ser ajustado.”