Quando a Covid-19 sara, não é só o mal-estar físico generalizado que persiste. Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier e membro titular do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) o tratamento deixa marcas na visão. Isso porque, casos moderados e graves recebem alta dose de corticosteroides para combater a inflamação vascular sistêmica. O tratamento leva a um distúrbio metabólico, inclusive nos olhos.
Uma evidência deste distúrbio, comenta, é a flutuação da refração. Vários médicos do hospital estão atendendo pacientes com queixa de piora na acuidade visual, mas o exame de refração nem sempre aponta mudança no grau dos óculos. Recentemente, comenta, atendi uma paciente com alta miopia que apresentou alteração na retina com a tela de Amsler, mas na OCT (Tomografia de Coerência Óptica) estava normal.
A única forma de administrar este problema é com acompanhamento médico e a repetição de exames para que possamos prevenir danos maiores à visão. Queiroz Neto diz que as consequências da Covid-19 na saúde ainda não estão completamente esclarecidas em nenhum lugar do mundo. Todas as especialidades estão fazendo pesquisas contínuas para manter a saúde dos sobreviventes. Por isso, nunca os exames oftalmológicos periódicos foram tão importantes.
Catarata
Queiroz Neto ressalta que em algumas pessoas a visão embaçada após a covid-19 pode sinalizar catarata. A doença opacifica o cristalino, lente interna do olho, pela toxidade do corticosteroide e pode surgir em qualquer idade quando está relacionada ao medicamento. Diferente da senil esta catarata é do tipo subcapsular, ou seja, se forma na parte posterior do cristalino, causando diminuição importante da visão, principalmente nos ambientes bem iluminados. O único tratamento é a cirurgia que substitui o cristalino opaco pelo implante de uma lente intraocular totalmente transparente e aplicação de laser na capsula posterior. O especialista conta que recentemente atendeu uma paciente jovem com catarata depois do tratamento para Covid-19. “Como a refração está instável não pode ser operada de imediato. Vamos ter de aguardar de 1 a 3 meses para realizar a cirurgia”, comenta.
Retinopatia
O oftalmologista esclarece que a retinopatia pode surgir em decorrência da elevação da pressão arterial causada pelo corticosteroide somada a à fragilização vascular induzida pelo medicação. Outro fator de risco é o aumento da glicemia e a formação de trombos induzida pela Covid-19.
Independente da causa, o tratamento pode ser feito com aplicação de injeções de antiangiogênicos. “Este medicamento também é indicado para casos de edema macular, ou seja, inchaço na porção central da retina, responsável pela visão de detalhes”, esclarece.
As aplicações são feitas na cavidade vítrea mediante aplicação de colírio anestésico, pontua. O número de aplicações varia conforme o estágio da doença. Diabéticos que seguem o tratamento conforme a prescrição do oftalmologista dificilmente ficam cegos, mas uma vez que parte da visão é perdida não tem como ser recuperada, adverte.
Para ele, a pandemia deve impulsionar o desenvolvimento de novos tratamentos na Oftalmologia. Hoje, a principal recomendação do médico é prevenir já que quando o assunto é visão, alguns danos são definitivos.