Ao longo do primeiro trimestre de 2019, 33.984 brasileiros aguardavam na lista de espera por um órgão. Desse total, somente 5.531 conseguiram o transplante – enquanto 806 pacientes morreram esperando pelo procedimento. Para incentivar a doação e buscar a reversão desse cenário, o chamado Setembro Verde é um mês dedicado ao tema.
De acordo com especialistas, o maior problema está em obter o consentimento da família no momento da morte encefálica do potencial doador. Enquanto a taxa de recusa no Brasil é de 42%, o índice é de apenas 13% na Espanha. Esse é um gargalo que o Hospital Moinhos de Vento busca superar em um projeto que capacita profissionais para atuar nessa hora tão difícil.
Envolvendo UTIs de 63 hospitais de todo o Brasil, o DONORS – Estratégias para Otimizar a Assistência aos Potenciais Doadores já qualificou cerca de 1,8 mil profissionais para atuarem na abordagem e comunicação com familiares de potenciais doadores. A iniciativa é realizada em parceria com o Ministério da Saúde, por meio do Programa de Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS).
Líder do projeto, Caroline Robinson explica que “a capacitação desses profissionais é importante para que a família seja acolhida e adequadamente esclarecida, tendo condições de decidir com segurança pela doação de órgãos”. A ação também realiza um estudo para avaliar se um checklist baseado nas recomendações clínicas mais atuais é efetivo em evitar a parada cardíaca no potencial doador que faleceu por morte encefálica. O Brasil tem o maior sistema público de transplantes do mundo, com 96% dos procedimentos pelo SUS – e o segundo lugar em números absolutos. Ainda assim, é importante que as pessoas reflitam sobre a possibilidade de ser doador e comuniquem seus familiares, para que a decisão pela doação não tenha que ocorrer pela família no momento mais difícil.
Transplante de medula
Outro projeto liderado pelo Hospital Moinhos de Vento, o Mais TMO busca qualificar o programa de Transplante de Medula Óssea (TMO) pelo SUS. A ação otimiza processos através de atividades de gestão e educação de equipes transplantadoras, em acordo com a Coordenação Geral do Sistema Nacional de Transplantes (CGSNT).
A doação de tecidos – utilizada para o tratamento de algumas doenças que afetam as células do sangue, como leucemias e linfomas – aumentou significativamente na última década. O médico Fabiano Barrionuevo, líder do projeto Mais TMO, ressalta que, para ser um doador, basta comparecer ao hemocentro para testes. “O transplante pode salvar vidas, independentemente de onde o paciente reside. Tivemos uma medula que veio de Portugal, por exemplo”, destaca. Por isso, segundo ele, campanhas de esclarecimento como o Setembro Verde são essenciais para a conscientização – e, assim, para salvar mais vidas.