Há três décadas, o Serviço de Gastroenterologia do Hospital Pequeno Príncipe foi oficializado e estruturado. Hoje, essa especialidade é considerada a mais importante do Paraná e uma das principais do país no campo da pediatria. A atuação da equipe é marcada por inovação, dedicação e compromisso contínuo com o avanço da ciência e o cuidado personalizado às crianças e aos adolescentes. Por ano, são mais de três mil consultas, de dois mil procedimentos de endoscopia e de mil internamentos realizados.
A especialidade foi formalizada e estruturada pelo médico Mário César Vieira, em 1994, quando ele percebeu a falta de atendimento especializado na região. “Isto me motivou a me interessar e estudar a complexidade e diversidade dos distúrbios gastrointestinais em pediatria e a buscar treinamento e formação na área. Ao chegar no Pequeno Príncipe, meu objetivo foi implantar uma unidade de subespecialidade adequada no nosso Hospital com alto padrão de atendimento”, relembra o médico.
Além da atuação na prevenção, no diagnóstico e no tratamento de diferentes doenças gastrointestinais de média e alta complexidade em crianças e adolescentes, o Serviço de Gastroenterologia é um espaço de ensino e pesquisa na área. Ao longo dos anos, foram dezenas de artigos publicados em revistas científicas e centenas de participações ativas em congressos, seminários e simpósios, no Brasil e no exterior, com o objetivo de fomentar o desenvolvimento científico da especialidade.
Evolução
Em menos de um ano após a formalização, o Serviço de Gastroenterologia iniciou a realização de procedimentos diagnósticos, como endoscopia digestiva e pH-metria esofagiana de 24 horas. Nessa época, as endoscopias digestivas e colonoscopias eram feitas no Centro Cirúrgico com endoscópio de fibra óptica. “O acesso à sala de cirurgia era limitado, e as endoscopias eram executadas apenas uma vez por semana, aguardando a conclusão de procedimentos de cirurgiões e otorrinolaringologistas”, recorda Vieira.
Até que em 1998 uma significativa mudança ocorreu com o estabelecimento do Serviço de Endoscopia Digestiva, equipado com novos recursos. Essa expansão permitiu um aumento na capacidade de procedimentos diagnósticos e terapêuticos, incluindo a realização nas próprias instalações. Dilatações de esôfago, tratamento de hemorragias digestivas, polipectomias, gastrostomias endoscópicas e retiradas de corpos estranhos ingeridos são algumas das técnicas feitas com segurança em crianças, sempre considerando as diferenças anatômicas conforme a faixa etária.
O médico ressalta as transformações, ao longo das últimas décadas, no perfil dos pacientes, com aumento na complexidade dos casos. Além disso, destaca as modalidades de tratamento para doenças inflamatórias intestinais, que evoluíram significativamente. O surgimento de medicamentos, como anticorpos monoclonais, revolucionou o cuidado dessas condições.
As mudanças no perfil das doenças refletem avanços positivos, mas também trazem novos desafios, como o crescimento de casos de doenças alérgicas no trato gastrointestinal. A esofagite eosinofílica, uma alergia que afeta o esôfago, é um exemplo desse fenômeno. Apesar de ser uma condição relativamente nova, o Serviço de Gastroenterologia tem um papel significativo na documentação e no estudo dessa enfermidade na América Latina desde o início dos anos 2000.
Ao longo dos anos, a equipe se expandiu e atualmente conta com mais cinco especialistas atuando nas áreas de assistência, ensino e pesquisa – Danielle Reis Yamamoto, Giovana Stival da Silva, Luciana B. Mendez Ribeiro, Sabine Krüger Truppel e Amanda Lewandowski da Silva.
O Pequeno Príncipe se notabiliza por fornecer um ambiente no qual a gastroenterologia e a endoscopia são complementadas pela atuação integrada de outras 34 especialidades médicas e serviços multiprofissionais. Essa estrutura colaborativa proporciona segurança no desempenho de procedimentos e no atendimento a pacientes com complexidades diversas. “Essa abordagem abrangente é evidente ao lidar, por exemplo, com um paciente que apresenta uma doença gastrointestinal, uma condição neurológica, uma doença reumatológica ou qualquer outra natureza médica”, exemplifica o médico.
Futuro
No curto e médio prazo, os planos incluem o desenvolvimento de um serviço especializado em motilidade gastrointestinal e a melhoria das condições de endoscopia terapêutica avançada. No âmbito da motilidade gastrointestinal (movimentação coordenada desde a mastigação até a saída do intestino), são reconhecidos diversos distúrbios que exigem investigações especializadas, como os estudos de manometria, que visam a medir a pressão nos órgãos, como esôfago e intestino. Isso é especialmente relevante para pacientes com dificuldades motoras no esôfago e àqueles que passaram por cirurgias complexas, como as de anomalias anorretais.
Histórico
– Em 1994, o serviço foi formalizado com o olhar voltado aos avanços científicos e tecnológicos no diagnóstico e na terapia das doenças gastrointestinais;
– Desde 1994, a equipe passou a integrar o grupo de preceptores voluntários da Residência Médica em Pediatria do Hospital;
– Em menos de um ano, foi introduzido o método de pH-metria esofagiana de 24 horas, e as atividades de endoscopia digestiva eram desenvolvidas no Centro Cirúrgico;
– Em 1998, com novas instalações e equipamentos, foi criado o Serviço de Endoscopia Digestiva;
– Em 2003, foi criado o Programa de Residência Médica em Gastroenterologia Pediátrica, avaliado e reconhecido oficialmente pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).