Há 8 anos, o engenheiro Joel de Oliveira Junior perdeu o filho Lucas, que tinha dois anos e meio para o câncer. Em 2017, pensando em evitar que outras famílias passassem pela mesma dor, ele começou a idealizar um dispositivo inovador, que fosse capaz de monitorar e mapear informações sobre o estado de saúde de crianças em tratamento da doença. Dois anos depois, reuniu-se com mais dois sócios para dar início ao protótipo, que se caracteriza por um dispositivo que é colado na pele. Assim surgiu a startup Luckie Tech.
Para funcionar, o dispositivo conta com a ajuda de uma inteligência artificial e outras tecnologias, como sistema de armazenamento de dados em nuvem e report em tempo real para equipes de saúde e familiares, monitorando no início temperatura, mas com possibilidades de medição de outros parâmetros como: batimentos cardíacos, impedância respiratória, quedas, entre outros. “Pacientes em tratamento de câncer ficam com a imunidade extremamente baixa, em crianças, como elas têm mais dificuldade em expressar o que estão sentindo, uma infecção pode causar danos muito rapidamente, o que pode levar a óbito. Por isso, a ideia principal do dispositivo é monitorar tudo o que está acontecendo no corpo da criança, cruzando dados e analisando as informações para identificar alterações o quanto antes”, explica Joel.
O projeto chamou a atenção de grandes empresas, que foram importantes parcerias tecnológicas. A Amazon contribuiu com a plataforma de armazenamento de dados em nuvem, enquanto a Embraer ajudou na arquitetura do sistema. Agora, a startup entrou para o reality show Batalha das Startups, que vai ao ar na Record News, e se prepara para concorrer aos prêmios que são concedidos ao vencedor do programa, com destaque para um plano de aceleração e uma viagem ao Vale do Silício.
“Está sendo muito legal participar do Batalha das Startups porque convivo com outras startups de saúde e de segmentos variados. Essa multidisciplinaridade me ajuda a ter outras possíveis soluções de problemas. Vejo os outros empreendedores como amigos, e não como competidores. Meu maior objetivo é poder mostrar ao Brasil o que fazemos já que são 8500 novos casos sendo diagnosticados anualmente em nosso país e que é possível diminuir a mortalidade de crianças com câncer por meio da tecnologia. Dentre todos os casos de câncer no mundo, somente 2% são infanto-juvenis e não há mais ninguém desenvolvendo tecnologia para essa minoria. Depois do falecimento do meu filho, transformei isso na minha missão. A perda do meu filho me trouxe a resiliência necessária para conseguir criar a startup”, explica.
O dispositivo criado por Joel ajuda mais pessoas e instituições além dos pequenos. Afinal, a big data que acumula e analisa os dados 24h por dia cruza informações para prever quadros e identificar padrões, que podem estar relacionados. Esse tipo de inovação é muito útil na indústria farmacêutica, pois auxilia no desenvolvimento de novos medicamentos. Outras instituições que se beneficiam são os hospitais e planos de saúde, já que o sistema ajuda a reduzir custos mais elevados com UTIs e outros tratamentos, que podem ser evitados.
As perspectivas futuras da startup são otimistas. O dispositivo já foi solicitado por famílias e equipes médicas de diferentes partes do planeta. Em dois anos, os empreendedores pretendem ter 3 mil crianças sendo monitoradas no Brasil; em três anos, gostariam de ver todas as crianças diagnosticadas com câncer no Brasil utilizando o adesivo.
Na última semana, a startup venceu a segunda etapa na categoria Mista do Batalha de Startups e já está classificada para as quartas de final. No início de Novembro a Luckie Tech representou o Brasil no WebSummit em Portugal 2021, maior conferência da Europa em tecnologias e startups.