Desenvolvido na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (RS), o trabalho Presença de sepse na admissão na UTI como fator de risco para doença crônica: uma análise pareada por escore de propensão recebeu o prêmio de “melhor trabalho oral na categoria clínica” no XV Fórum Internacional de Sepse, em São Paulo. Durante a atividade, mais de 70 palestrantes nacionais e oito internacionais apresentaram seus recentes estudos sobre sepse.
O estudo visou identificar a incidência e o impacto da sepse em pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). “Muitos pacientes gravemente doentes sobrevivem a sua doença aguda inicial, porém progridem para a falência de órgãos, necessitando de cuidados intensivos prolongados, uma síndrome conhecida como doença crítica crônica (DCC). Projetamos esta análise para avaliar a presença de sepse na admissão na UTI como um fator de risco independente para o desenvolvimento de DCC”, explica o coordenador do estudo, o médico intensivista Thiago Lisboa. A pesquisa foi realizada pela Rede de Pesquisa e Inovação em Medicina Intensiva da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, composta por profissionais das UTIs do complexo hospitalar.
Método
O método utilizado pelos pesquisadores foi a análise de pacientes graves internados em três UTIs da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Foram avaliadas duas definições de doença crônica crítica e se verificou o papel da sepse na internação como fator associado à DCC por modelo multivariado. A integridade do modelo foi examinada usando estatísticas e gráficos de diagnóstico padrão e o bom ajuste para cada modelo para resultados e com o teste de Hosmer-Lemeshow. Depois, foram comparados os pacientes de acordo com a probabilidade de desenvolver doença crônica crítica conforme o escore de propensão e a presença de sepse na internação e avaliar os desfechos.
Resultados
Foram analisados 2.223 pacientes internados em UTIs (unidades especializadas em oncologia, transplante e cirurgia torácica). Deste total, 392 (17.6%) já tinham sepse na admissão na UTI. Nesta coorte, 724 (32.4%) pacientes necessitaram de vasopressor (medicamento que aumenta a pressão arterial) durante a permanência na UTI. Segundo os critérios de PROVENT, 262 (11.8%) pacientes desenvolveram doença crônica crítica. Segundo critérios de Kahn et al, essa taxa é de 13,7% (302 pacientes). A mortalidade geral na UTI foi de 22,8% e a mortalidade hospitalar de 30,9%. Após o procedimento de pareamento, considerando 392 pacientes sépticos e 392 controles, a presença de sepse na admissão foi independentemente associada com o desenvolvimento de doença crítica crônica em ambas definições, no modelo de regressão multivariada.
O estudo premiado concluiu que, em UTI cirúrgica, a presença de sepse na internação foi um fator de risco independente associado ao desenvolvimento de doença crítica crônica.