No dia 9 de julho é comemorado o Dia do Oncologista. Médico clínico especializado no tratamento do câncer, no cuidado do paciente e na prescrição de tratamentos como quimioterapia, horminioterapia e terapia biológica, a figura do oncologista se tornou ainda mais importante neste momento de pandemia e distanciamento social.
Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), publicadas em 4 de fevereiro, serão 625 mil novos casos de câncer ao ano, para o próximo triênio (2020-2022). Neste cenário de incertezas proporcionado pela pandemia da Covid-19, a identificação precoce nos casos de câncer é de suma importância para o tratamento adequado e a cura da doença. “Pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, para aferir os impactos da pandemia nos serviços do país, apontou uma queda maior que 50% na realização de procedimentos e, apenas 27% dos pesquisados, mantiveram procedimentos ambulatoriais quando justificados pelo médico assistente”, afirma Juliano Cerci, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN)
Dra. Adriana Brasil, presidente do Conselho de Administração da Fundação Ilumina, instituição que atua pelo diagnóstico precoce da doença em Piracicaba (SP) e região reforça: “É consenso ser de extrema importância a população manter-se atenta a sinais que possam indicar o surgimento de um câncer, como surgimento de algum nódulo desconhecido. Pessoas com algum sintoma atípico devem buscar ajuda imediata para diagnóstico precoce”. Dra. Adriana lembra ainda que as consultas regulares ajudam a diagnosticar pacientes assintomáticos e a acelerar o início de um eventual tratamento necessário. “Aqui na Fundação Ilumina, buscamos manter um rastreio de câncer, mesmo no período da pandemia”, completa.
Já projetando os próximos passos, Angelo Maiolino, hematologista, diretor da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) e professor da UFRJ, afirma: “Mesmo com um eventual achatamento da curva de contaminação, para evitar um aumento exponencial e sem controle de outras doenças, como o câncer, é urgente que as esferas governamentais e privadas se atentem para a criação de estruturas livres de Covid-19 para a continuidade de tratamento de pacientes com doenças crônicas. É preciso garantir alas terciárias que possam continuar o atendimento e tratamento. A população, por sua vez, deve compreender que a interrupção de um tratamento e/ou diagnóstico precoce, compromete e muito as chances de remissão” .
Para Raul Canal, presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (ANADEM), além de desafiar a comunidade médica e científica, uma vez que há poucas certezas em termos de tratamento efetivo contra o SARS-CoV-2, a pandemia da Covid-19 irá gerar problemas gravíssimos relacionados ao diagnóstico tardio e ao adiamento ou mesmo suspensão de consultas e tratamentos, especialmente na área oncológica.
“O temor é de que haja um aumento significativo de casos não tratados, o que resultará num crescimento da mortalidade por câncer no Brasil. Isso porque há inúmeros pacientes que deixaram de buscar os serviços de saúde ou até os buscaram, mas não estão conseguindo marcar exames, biópsias, e, com isso, terão reduzidas as suas chances de cura. Aqueles que fizeram sua parte, mas ainda assim foram prejudicados, não só podem como devem lutar por seus direitos”, ressalta Canal.
O presidente da ANADEM lembra ainda que, em outubro de 2019, foi sancionada a Lei dos 30 dias, que visa assegurar a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) com suspeita de câncer, o direito à realização de exames no prazo máximo de um mês. A matéria, no entanto, não foi regulamentada. “No país, a espera pelo diagnóstico é de até 200 dias, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgada no ano passado. Isso num cenário sem pandemia. Hoje a preocupação é ainda maior”, alerta.