O faturamento é um dos processos cruciais da gestão hospitalar, já que dele depende a sustentabilidade do negócio. Ele envolve inúmeras complexidades, evidenciadas por indicadores que, quando monitorados e avaliados periodicamente, podem demonstrar a necessidade de rever a forma de administrar alguns aspectos ou a totalidade da instituição.
Marcelo Fabiano Campos Vieira, gerente financeiro do Hospital Albert Sabin, destaca que o faturamento hospitalar tem como missão traduzir os procedimentos realizados pelo paciente em geração de receita. Para tanto, é necessária uma estrutura com diversos pontos de atenção, já que o processo transita por variados departamentos. “Existem muitos controles a serem realizados e todos os envolvidos devem cumprir eficientemente uma sequência de atividades para que o faturamento execute plenamente suas funções, tendo como pontos de atenção principais a dispensação de farmácia, checagem de enfermagem, cadastros, autorizações, prazos e entregas. É extremamente importante que toda produção seja faturada, a fim de não incorrer em descontrole de fluxo de caixa e apropriação de perdas”, destaca o especialista.
Vieira cita nove indicadores financeiros que devem ser acompanhados pela gestão hospitalar que quiser identificar falhas no faturamento:
1- Faturamento bruto: indica se tudo o que é produzido pelo hospital está sendo faturado. É preciso acompanhar com criticidade a evolução desse indicador, comparando sempre com o que foi produzido, garantindo, assim, qualidade na efetivação do caixa da operação.
2- Lucratividade: aponta se o montante faturado é suficiente para pagar os custos e as despesas e ainda gerar lucro. Deve ser acompanhado a fim de controlar o resultado geral da instituição e avaliar possíveis desvios, melhorando a eficiência da geração de caixa. O especialista indica subdividi-lo em diversas visões – do hospital como um todo, por operadora, em relação ao setor, por procedimento, entre outras.
3- Rentabilidade: baseia-se no lucro líquido e serve para medir o retorno que um investimento pode proporcionar ao hospital. É indicado para avaliar investimentos, novos negócios e acompanhar o crescimento da instituição.
4- Ticket médio: calcula a relação entre o faturamento total e o movimento individual de procedimentos, internações e departamentos. A análise do resultado desse indicador aponta o aumento ou decréscimo do faturamento bruto em função dos preços praticados, envolvendo variáveis importantes como complexidade, faixa etária e comorbidades. Com ele, a administração do hospital acompanha a produtividade e a perspectiva de faturamento.
5 – Custos fixos: são aqueles cujo valor não se altera em detrimento ao aumento ou redução da quantidade de serviços prestados. Os custos fixos se mantêm, mesmo sem produção. Por exemplo, se um hospital atender dez ou 30 pacientes, os custos com pessoal, segurança, contratos ficarão inalterados. Representam grande parte dos custos da organização, em especial naquelas que mantém a operação 24 horas, e por isso devem ser acompanhados de perto pelos gestores.
6- Nível de endividamento: demonstra o comprometimento das dívidas em relação à geração de recurso, medindo, ainda, o impacto para a operação. Em um segmento com inconstância na produção, é fundamental o controle do endividamento para não comprometer as operações.
7- Margem operacional: mede a eficiência operacional do hospital. É um indicador que avalia se a produção é suficiente para manter a operação dentro do resultado esperado para geração de investimento e sustentabilidade do negócio.
8 – Tempo de fechamento da conta após a alta do paciente: trata-se do tempo em que o hospital tem de esperar para receber pelo serviço. Em hospitais maiores e com um processo mais estruturado, esse prazo costuma ser de 70 dias – mas em organizações menores ele chega a 110 dias. Quanto maior o tempo de espera, também maior a necessidade de capital de giro, já que todos os salários, insumos e demais gastos continuam sendo cobrados independentemente da entrada de receitas.
9 – Entrega de contas dentro de uma mesma competência: este item está intimamente ligado ao anterior: quanto mais contas forem enviadas dentro da competência em que elas ocorreram, menor será a necessidade de capital de giro, já que o ciclo financeiro hospitalar vai diminuir. É um ponto importantíssimo para o gestor, estruturado via gestão de processos.
Aliados na gestão
Vieira destaca que a tecnologia é uma aliada estratégica para o processo de gestão financeira dos hospitais. Ela permite reunir informações confiáveis, analisar dados e planejar decisões. “Um sistema de gestão hospitalar é fundamental para a operacionalização da gestão financeira. Devido à complexidade assistencial e administrativa de um hospital, cada vez mais se exige um atendimento de alto nível aos pacientes, com controle de custos, e a otimização de todas as tarefas pertinentes ao atendimento hospitalar. Portanto, ferramentas de controles e agilidade de informações são essenciais para tomada de decisão e mudanças de rotas”, destaca.
O especialista comenta que a tecnologia mais indicada para o acompanhamento desses e de outros indicadores de desempenho é o sistema de gestão hospitalar, que concentra todas as informações necessárias para o monitoramento dos processos do hospital em um só lugar, possibilitando o acesso rápido e fácil aos dados, consolidando informações e automatizando os processos de faturamento. Já o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) compila o histórico de atendimento de cada indivíduo, incluindo os especialistas com os quais passou por consultas, os exames realizados, medicamentos receitados, entre outros. Conforme Vieira, o PEP também tem potencial para otimizar a checagem de dados em processos assistenciais, facilitando a identificação de intercorrências e a correção dos rumos.
Os sistemas específicos para finanças e faturamento, que podem integrar o sistema de gestão hospitalar, também são ferramentas que podem ser utilizadas como apoio ao gerenciamento de processos. Com a automação por meio dessas tecnologias, o acompanhamento dos indicadores passa a ser feito em tempo real, ajudando a localizar gargalos que podem comprometer o equilíbrio financeiro da organização e, assim, promovendo sustentabilidade para o negócio.
Fonte: MV