O avanço da vacinação contra a Covid-19 e a consequente desaceleração da pandemia fizeram com que os hospitais privados brasileiros voltassem a registrar crescimento em importantes indicadores, mostrando sinais de recuperação e de retomada do atendimento às demandas represadas durante o isolamento social. De acordo com a 8º Nota Técnica do Observatório Anahp, no 3º trimestre deste ano, a taxa média de ocupação geral dos 124 membros da Associação Nacional de Hospitais Privados foi de 75%, superior à do mesmo período do ano passado (69%) e ligeiramente inferior as taxas de 2019 (77,5%) e 2018 (76,7%). As internações, por sua vez, registraram um aumento de 24,1% de julho a setembro deste ano, em relação ao mesmo período de 2020. Os dados foram analisados por especialistas e executivos da associação durante o “Anahp Ao Vivo – As incertezas e os cenários para a pandemia de Covid-19 no Brasil” e o documento completo está disponível neste link.
Ary Ribeiro, editor do Observatório e da Nota Técnica do Observatório Anahp e CEO do Sabará Hospital Infantil avalia que o aumento da taxa de ocupação operacional “indica a recuperação da demanda hospitalar que tinha sido reduzida durante o ano de 2020”. Além disso, o executivo destacou a redução significativa da necessidade de alocar leitos (enfermaria, apartamento e UTI) para pacientes com Covid-19. “Ao longo do ano, também verificamos as mudanças no perfil do paciente internado, com quedas das hospitalizações por moléstias infecciosas – onde está classificada a Covid-19”, completa.
Analisando o perfil epidemiológico das hospitalizações, as condições mais frequentes em 2021, considerando a participação relativa no terceiro trimestre, são das doenças do aparelho geniturinário (10,8%), doenças do aparelho digestivo (10,1%), seguido das neoplasias (9,6%) e gravidez (9,2%). As principais mudanças na participação relativa das doenças nos dois períodos analisados são caracterizadas pela queda na participação relativa da gravidez, moléstias infecciosas e dos sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e laboratoriais.
Com o retorno dos pacientes, os hospitais privados associados à Anahp registraram um aumento na margem EBITDA de 1,2 p.p. no terceiro trimestre de 2021 (13,1%), na comparação com o mesmo período do ano passado (11,9%). “A partir desse dado é possível observar uma resiliência dos hospitais na recuperação dos indicadores”, explica André Medici, editor e coeditor do Observatório e da Nota Técnica do Observatório Anahp.
Indicadores Covid-19: perspectivas sob a ótica do avanço da vacinação e nova variante Ômicron
A taxa de pacientes com suspeita de Covid-19 atendidos no pronto-socorro (PS) e que tiveram o diagnóstico positivo confirmado para a doença alcançou o pico em março (45,1%) e teve queda gradual ao longo dos meses seguintes. Em setembro de 2021, a taxa chegou a alcançar 14%, o que reforça o efeito do avanço da vacinação.
Sob a perspectiva da nova variante Ômicron, Médici afirma que, a partir das informações dos países africanos, observa-se um aumento muito elevado da transmissibilidade do vírus, mas os níveis de hospitalização e severidade são muito baixos. “No entanto, se não houver oportunidade de vacinar toda a população, vamos continuar enfrentando o desenvolvimento de novas variantes”, alerta o especialista. “Países ricos tem que destinar recursos e orientação sobre a dispensação, capacitação profissional e logística da vacina para os países mais pobres. É um esforço geral para evitar mutações. Não é só solidariedade, é sobrevivência global, todos ganham”, conclui.
Teresa Navarro Vannucci, subsecretária de Atenção Hospitalar, Urgência e Emergência da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, reforçou que mesmo diante de uma variante menos grave, a vacinação pode ser efetiva no controle. “Acreditamos na ampliação da cobertura vacinal, na manutenção da vigilância epidemiológica para nos anteciparmos aos fatos”, afirma.
A infectologista do Emílio Ribas e do Hospital e Maternidade Santa Joana, Rosana Richtmann, lembrou que a capacidade de mutações são processos naturais de vírus, principalmente respiratórios, em cenários de pandemia. “Estamos diante de uma variante muito diferente do que a gente tinha antes, é quase um outro vírus, uma união das outras mutações, mas há uma perspectiva de que ele esteja perdendo a sua capacidade de causar doença grave, para continuar sobrevivendo”, prevê a especialista.
Os especialistas responsáveis por conduzir o debate do Anahp Ao Vivo concordaram que somente com a cobertura vacinal equalizada no mundo inteiro será possível enfrentar as novas variantes da Covid-19.