Existe pouca coisa que possamos dizer sobre a pandemia que ainda não tenha sido dita e ainda assim, há mais de um ano e meio é quase impossível não esbarrar diariamente em notícias catastróficas na Internet ou em conversas com amigos, colegas e familiares, muitas delas revelando expressões assustadas por trás de telas frias de vídeo chamadas.
A verdade é que ninguém mais consegue pensar nisso e, quando colocamos a cabeça fora da água por um instante, vem uma onda e nos embola em um parafuso de sensações que nos leva até o raso, mesmo assim, não sabemos onde está o fundo e onde está a superfície. Até quando? Haverá um dia em que algum cientista ou político ou algum líder religioso decretará o fim da pandemia e, aí sim, poderemos seguir com nossas vidas normalmente?
Os otimistas afirmam que a humanidade já atravessou momentos semelhantes e sobreviveu. E ainda nem tínhamos as vacinas que temos hoje ou a tecnologia que tanto nos apoia. Os pessimistas enxergam o fim do mundo em teorias conspiratórias de vírus criados em laboratório, capazes de escrever um novo episódio na história, onde dessa vez, as coisas serão diferentes. Qual a verdade?
Dizer que alguém tem a resposta para essa pergunta, eleva qualquer indivíduo ao plano de Nostradamus ou, se preferir, outro profeta qualquer. Ninguém sabe. E assumir a ignorância não é da natureza humana. Sempre surgirá alguém que tem a resposta e como vidente de final de ano, alcançará fama pelos seus acertos e não será lembrado pelos seus erros, já que errar também é da natureza humana.
Assim, me junto a esses falsos profetas, para também fazer de conta que tenho as respostas, afinal, sou médico, passei boa parte de meu tempo enfrentando e estudando a pandemia. Até mesmo escrevi um livro de ficção onde entrego a minha visão de futuro da pandemia. Se eu acertar, quem sabe não ganharei fama? Se eu errar, me juntarei a milhares de colegas, então, não será nenhum demérito.
No meu mundo distópico, a pandemia não acaba. Antes que você me julgue um impostor, tenho boas notícias: ela não acaba, mas ela pode ser controlada e permitir aos cidadãos levar uma vida quase normal. No meu mundo, o vírus mutou e as vacinas precisam ser modificadas ano a ano, mas sozinhas elas não têm a capacidade de controlar a pandemia.
Dá um certo frio na espinha imaginar que nada disso havia ocorrido quando escrevi o livro. Terei poderes de prever o futuro e nem me dei conta disso? Pura análise lógica do que já ocorreu com outros vírus como o H1N1, mas para nossa infelicidade, o vírus da Covid é muito mais agressivo. Mas então onde está a boa notícia? No diagnóstico. Se houvesse uma maneira de sabermos quem está ou não infectado, mesmo nos estágios mais precoces da doença e se essa tecnologia fosse em tempo real e utilizada em massa, poderíamos andar pelas ruas sem máscaras e o isolamento somente seria necessário para os infectados que não escapariam da vigilância.
Então, apresento o HOPE, um sensor implantado sobre a pele, que na minha visão pós-pandemia, tem essa capacidade. Ele consegue identificar não somente o SARS-CoV-2, mas qualquer tipo de agente infeccioso. Parece estarmos distantes disso, mas já há tecnologia que identifica o vírus em testes – como bafômetro.
Não tardará para termos algum dispositivo semelhante aos sensores de glicemia implantados na pele, que funcionarão como scanners microbiológicos. Estaríamos seguros, mesmo frente a qualquer mutação viral, ou surgimento de outros vírus no futuro. Infelizmente, nem tudo relacionado ao HOPE são boas notícias, mas isso é uma outra história.
Marcelo Marçal é escritor, médico nefrologista e gestor em saúde. Formou-se em medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e mais tarde especializou-se em Nefrologia. Gerenciou uma empresa de diálise hospitalar em São Paulo por 21 anos. Recentemente passou, também, a dedicar-se a escrita e lançou seu primeiro romance ‘ICTUS – O prisioneiro sem nome’