A partir de 1ª de janeiro de 2022, a Síndrome de Burnout será classificada como doença do trabalho pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A doença, anteriormente considerada como uma condição psiquiátrica, será oficializada como “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”.
A alteração afeta a rotina de empresas, tornando-se mais um fator de risco financeiro e jurídico. “A reclassificação da Síndrome de Burnout exige que as empresas tomem medidas para prevenir o desgaste de seus colaboradores, garantindo programas preventivos ao Burnout”, explica a advogada Aline Cogo Carvalho, do GBA Advogados Associados.
Segundo Aline, na Justiça do Trabalho, a responsabilização da empresa será avaliada a partir de um laudo médico comprovando a Síndrome de Burnout, histórico do trabalhador e avaliação do ambiente laboral, inclusive relatos testemunhais. Serão buscadas comprovações de uma degradação emocional e fatores causadores da síndrome, como assédio moral, excessivas metas ou agressivas cobranças e competitividades.
Na visão da advogada, uma estratégia que pode ser adotada é a reunião do grupo de colaboradores e gestores, dando oportunidade para que aqueles que se sentem sobrecarregados possam expor a situação e solicitar medidas para a resolução do problema. Outra possibilidade para aproximar coordenadores e suas equipes são os encontros fora do ambiente de trabalho, como o happy hour. “Reunir-se fora da empresa gera a oportunidade de conversas mais descontraídas, podendo ser consideradas terapêuticas para eliminar o estresse após um dia desgastante de trabalho”.
Problema mundial
Roberta Von Zuben, psicóloga do Vera Cruz Casa de Saúde, explica que Síndrome de Burnout é um problema mundial e que exige atenção, sendo muitas vezes difícil de perceber e trazendo consequência não somente para o indivíduo. “Essa síndrome traz consequências para a própria pessoa, para o seu trabalho e para a sociedade”, afirma a psicóloga.
Para o indivíduo, explica Roberta, a síndrome representa uma fadiga constante e progressiva, imunodeficiência grande, resfriados e gripes constantes, problemas cardíacos e de pressão alta. Além disso, essa pessoa apresenta falta de concentração, alterações de memória, lentificação, sentimento de solidão, impaciência, impotência e outros. Essas características, conta a psicóloga, afetam também a vida social do indivíduo e até mesmo familiar. “Ele passa a ter um distanciamento socioafetivo, não tem mais aquele entrosamento familiar com seu cônjuge, com seus pais ou com seus filhos”, diz.
A síndrome traz ainda consequências para a pessoa no trabalho e, em razão disso, para a própria organização que ela trabalha. “A doença impede que a pessoa consiga dar o melhor de si, gerando um desgaste muito grande que, por diversas vezes, leva ao desligamento da empresa”, exemplifica. “Temos que começar a colocar os nossos recursos a favor da saúde mental, tomando decisões baseadas em evidências científicas. As empresas precisam alterar suas políticas e benefícios de recursos humanos, focando na saúde mental e dando apoio ao colaborador”, conclui.
Arquitetura como aliada
A arquitetura do ambiente de trabalho pode ser uma importante aliada para garantir a saúde mental dos colaboradores. Em seus projetos, a AKMX Arquitetura e Engenharia tem aplicado técnicas da neuroarquitetura, dentre elas a biofilia e experiência do usuário, como estratégias para uma melhor qualidade de vida no trabalho. Intervenções biofílicas tendem a resgatar os laços originais entre a natureza e o ser humano. Para escritórios, essa relação orgânica, aliada à qualidade de uso dos espaços e suas funções, que estão diretamente relacionados à experiência do usuário, por exemplo, potencializa sensações positivas, minimiza o estresse e fomenta o bem-estar entre as pessoas.
“Como um ambiente físico pode impactar o nosso cérebro? É importante pensar em espaços corporativos mais humanizados, afinal, o ambiente de trabalho influencia diretamente na motivação e no comportamento do funcionário”, explica Denise Moraes, líder de projetos e sócia da AKMX. Ela lembra que a arquitetura biofílica vem sendo aplicada cada vez mais em ambientes de trabalho, transformando espaços com a utilização de elementos naturais ou que remetam à natureza, como o uso de vegetação ou de formas orgânicas, por exemplo.
Os benefícios que elementos biofílicos proporcionam aos ambientes de trabalho vão muito além da estética e da decoração. Um estudo feito pela Universidade de Hyogo, no Japão, em uma empresa, mostrou que a frequência do pulso dos colaboradores, coletada em dois períodos distintos, variava após a colocação das plantas perto deles, colaborando para a redução do estresse fisiológico e psicológico dos funcionários.