A pandemia acabou? Como e quando o mundo saberá que pesadelo chegou ao fim

Uma pesquisa do Instituto Ipsos em 33 países revelou não haver um consenso sobre qual evento sinalizaria o fim da crise sanitária. Divulgado em dezembro, o levantamento “Covid-19: a pandemia um dia acabará e como saberemos disso?” aponta que 20% dos 22 mil entrevistados acham que as principais restrições poderão ser suspensas quando a vacinação alcançar pelo menos 75% da população. Já 19% acreditam que só quando a transmissão do vírus parar por completo. Para outros 17%, as medidas restritivas só deverão cessar quando os hospitais passarem a operar sem falta de equipamento ou pessoal por pelo menos um mês. Um detalhe importante: as pessoas foram ouvidas antes do surgimento da variante Ômicron.

Para o coordenador científico da Hospitalar Hub, Guilherme Hummel, não haverá anúncio oficial do término da pandemia. “Todos os dias as mídias globais nos comunicam tudo sobre o Sars-Cov-2, sem nos informar quando sairemos dessa enrascada. Uma das conclusões está cada vez mais clara: não haverá o dia da comunicação final, o dia da festa, do choro, da libertação. Tudo ocorrerá numa curva descendente, de forma assíntota e sem conclusões definitivas”, afirma.

Em um estudo divulgado em dezembro pelo British Medical Association (BMJ), os pesquisadores David Robertson, da Princeton University, e Peter Doshi, da University of Marylan, afirmam não existir um indicador clássico e conclusivo que possibilite a identificação assertiva do  desfecho de uma pandemia e isso se estende à Covid-19. Eles entendem que a testagem seria o melhor instrumento de aferição da circulação do vírus, mas como é pouco realizada em muitas nações não há certeza se o mundo está perto do fim ou da próxima variante. “Tão pouco sabemos se alguma ‘comunicação conclusiva’ viria da Organização Mundial da Saúde ou de cada país, ou região ou mesmo de cada cidade”, pondera o coordenador científico da Hospitalar Hub.

Guilherme Hummel ressalta que há dificuldade de se datar o fim de um período pandêmico, como demonstra as literaturas histórica e médica. Algumas correntes de estudiosos entendem que a gripe espanhola assolou o mundo entre 1918 e 1919 em três ondas. No entanto, há referências abundantes documentando que ela se estendeu de 1918 a 1920, incluindo uma quarta onda. Outro caso é a pandemia de gripe asiática, que teria ocorrido em duas ondas entre 1957 e 1958. Mas não são poucos os que englobam uma terceira onda, em 1959.

O especialista da Hospitalar Hub acredita que, quando a pandemia terminar, as pessoas deverão entender que o vírus não terá sido erradicado. Citando William Schaffner, especialista em doenças infecciosas do Vanderbilt University Medical Center, ele explica que o fim da crise sanitária ocorrerá com a redução da transmissão intensa do vírus e melhor controle do Sars-Cov2. “Haverá métricas para isso, como os níveis de hospitalização ou taxa inferior a 5% dos testes positivos”, argumenta.

Redação

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