A medicina personalizada traz soluções a perguntas do tipo “por que determinadas pessoas respondem bem a um certo tratamento e outras não?” Como cada paciente tem características próprias, a individualização, a partir de indicações científicas, leva à maior efetividade de resultados. E por ser o câncer um conjunto de mais de 200 tipos diferentes de doenças, personalizar condutas é um recurso ainda mais valioso na oncologia.
No Dia Mundial do Câncer, celebrado em 4 de fevereiro, o oncologista André Moraes, do Centro de Oncologia Campinas (SP), destaca a evolução dos tratamentos até o ponto de se tornarem individualizados. “Quando falamos de câncer, nos referimos ao sobrenome de duas centenas e meia de doenças totalmente diferentes e que agora, com desenvolvimento das tecnologias e da ciência, ficam cada vez mais diferenciadas”, salienta Moraes.
A ampliação dos recursos e do conhecimento acarreta ganhos significativos aos pacientes. “Como exemplo, cito o câncer de pulmão. Dez anos atrás, a sobrevida mediana para um caso avançado, com quimioterapia, era de seis a oito meses. Hoje temos paciente vivendo de quatro a seis anos com a doença, controlada por estratégias terapêuticas muito bem dirigidas para aquela situação”, especifica.
Além das diferenças entre cada ser humano, Moraes reforça a própria variedade do perfil genético da doença em si para reforçar o valor da individualização das condutas. “A ciência e a medicina personalizada nos permitem hoje destrinchar detalhes biológicos de um determinado tumor, a ponto de poder estabelecer que aquele indivíduo, com aquele determinado tipo, necessita de um tratamento específico”, explica.
O que é?
Testes patológicos e exames complementares revelam características genéticas e proteicas das células cancerosas. A partir do perfil específico, é possível determinar quais drogas e tratamentos serão mais eficientes para aquele tipo de tumor. A abordagem da terapia age diretamente naquele perfil, o que traz melhores resultados e diminuição de efeitos colaterais.
Eficiente no tratamento, a medicina personalizada – também chamada de medicina de precisão – é ainda importante no diagnóstico precoce e prevenção de neoplasias. Informações científicas obtidas por meio de análises genéticas e levantamento de história familiar indicam a propensão de indivíduos a desenvolver determinados tipos de câncer, o que implica em mudanças de conduta de rastreio.
O oncologista André Moraes observa que a medicina personalizada não é recente, embora sua aplicação tenha se expandido apenas nos últimos anos. Há cerca de três décadas já se usa a terapia específica para tratamentos de câncer de mama. Baseada em informações biomoleculares, trouxe um avanço notório ao tratamento do câncer de mama.
“Há 50 anos existia meia dúzia de drogas, no máximo, e se sabia tratar meia dúzia de tumores e com menor sucesso. Hoje há um universo grande de recursos terapêuticos, tanto na quimioterapia quanto na terapia biológica, terapia alvo dirigida e imunoterapia. Antes havia grandes avanços a cada oito ou dez anos, hoje se nota dez ou 12 avanços no mesmo ano. Isso reflete diretamente na perspectiva de beneficiar mais as pessoas e alcançar níveis de cura mais aceitáveis”, compara Moraes.
Para efeito de comparações, há 50 anos, indica o oncologista, a expectativa de sobrevivência de cinco anos para o diagnóstico geral do câncer era da ordem de 35% a 40%. “Hoje, com os recursos atuais, a expectativa de cinco anos alcança a casa dos 70%.”