Impedir o desenvolvimento do câncer colorretal é uma questão de escolhas individuais. Não apenas no que tange a uma vida de hábitos saudáveis, tais como praticar exercícios físicos com frequência, regrar a alimentação (se puder, com ênfase em frutas, verduras e legumes), não ser tabagista, entre outros. Mas, ainda, no sentido de ficar atento à realização de exames.
Obviamente, isto vale para qualquer tipo de câncer. Porém, no “Março Azul-Marinho”, mês de alerta para esta específica patologia, é fundamental disseminar a importância da colonoscopia. Ao contrário de outros, não se trata de um exame de investigação, quando já há algo concreto ocorrendo no corpo. É uma análise de rastreamento. Por meio dela, o médico consegue visualizar ou buscar por pólipos (pequenas “verrugas”) na parede interna do intestino. Eles conseguem ser removidos durante a própria colonoscopia e são enviados para biópsia, que determinará o resultado.
No Brasil, a recomendação é de que o exame seja feito de tempos em tempos a partir dos 50 anos de idade, tanto para homens quanto para mulheres. Pessoas sem histórico familiar da doença e com um estilo de vida mais saudável dificilmente irão apresentar anomalias. Para quem tem parentes próximos com diagnóstico confirmado ou doenças inflamatórias do intestino (como retocolite ulcerativa ou doença de Crohn, por exemplo) e indivíduos com certas doenças hereditárias (como a polipose familiar), a orientação sobre exames de rastreamento deve ser individualizada e realizada com antecedência. Em alguns casos, é recomendada a avaliação por especialista. Ficará a critério do médico decidir a periodicidade e quais análises laboratoriais solicitar de cada indivíduo.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de cólon e reto é o terceiro mais comum no Brasil, com um total de aproximadamente 40 mil casos diagnosticados ao ano. A padronização internacional para medir a gravidade de um câncer vai de 1 a 4. O índice de cura para pacientes que seguem as diretrizes do diagnóstico precoce e detectam a patologia nos estágios iniciais (1 e 2) é de 90%. Quando a descoberta acontecer na fase intermediária (3) ou na avançada (4), em que ganhou a capacidade de se metastatizar, o tratamento tem boas chances de ser bem-sucedido, haja vista os grandes avanços da medicina e da tecnologia, além de enormes progressos nas práticas e procedimentos com o próprio câncer colorretal, que vêm evoluindo substancialmente nos últimos 15 anos.
Conhecer os sinais e sintomas mais frequentemente associados ao câncer colorretal também é relevante. Deve-se buscar avaliação médica, sem demora, nos seguintes casos: se observar a presença persistente de sangue nas fezes; se as fezes passarem a ter formato fino ou achatado; se acontecer mudança inexplicável no hábito intestinal, especialmente se forem períodos de diarreia intercalados com períodos em que o intestino para de funcionar; se surgir dor ou desconforto abdominal recorrentes; se detectada tumoração abdominal, anemia, fraqueza e/ou perda contínua de peso sem motivo.
Por isso a reflexão sobre deixarmos de lado certa negligência para fazer a colonoscopia. Entendemos a dificuldade do preparo, que exige a ingestão de laxante e dieta por 24 horas para deixar o intestino “limpo” para o procedimento, fatores desagradáveis que contribuem muito para evitarmos e protelarmos em demasia sua realização. Porém, o que são essas 24 horas frente aos benefícios futuros, tendo em vista que é uma análise que contribui de forma extraordinária no impedimento ao surgimento desse tipo câncer? É melhor prevenir do que remediar. Neste caso, literalmente.
Prof. Dr. Paulo Eduardo Pizão é coordenador do Vera Cruz Oncologia, de Campinas (SP)