A síndrome da insuficiência cardíaca (IC) é uma condição que tem várias causas: pode ser consequência de um infarto, de pressão alta mal tratada ou até de processos infecciosos. Atingindo diferentes faixas etárias, traz sintomas como cansaço, falta de ar e dificuldade para deitar — e, conforme sua progressão, compromete o sistema elétrico do coração, exigindo a instalação de um tipo de marcapasso.
Esses equipamentos evitam que o coração bata de forma dessincronizada — ou seja, quando o lado esquerdo não bate ao mesmo tempo que o direito. Tais dispositivos, no entanto, têm alto custo, o que levou pesquisadores a analisarem alternativas para a estimulação cardíaca.
Uma dessas técnicas é o tema de estudo conduzido pelo Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), do Ministério da Saúde. A pesquisa avaliará a chamada estimulação do Sistema His-Purkinje, que supera o bloqueio dos ramos e ressincroniza o batimento com a utilização de apenas um eletrodo, colocado em um local específico do coração, restaurando de forma mais fisiológica essa condição.
“Embora tenhamos vários estudos sobre essa estimulação, ainda não há evidências de que seria mais efetiva do que o marcapasso com dois eletrodos. Vamos avaliar essa alternativa que, além de poder ter o mesmo benefício para o paciente, pode ter menor custo para o sistema de saúde”, destaca a chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital Moinhos de Vento, Carisi Anne Polanczyk.
A estimativa é de que a estimulação His-Purkinje tenha um custo quatro vezes menor somente em relação ao dispositivo. Com os resultados, espera-se contribuir para a tomada de decisão sobre a incorporação dessa tecnologia como alternativa para o tratamento da insuficiência cardíaca. “A pesquisa será realizada dentro das melhores práticas científicas, comparando as técnicas com o que é proposto nas diretrizes nacionais e internacionais”, enfatiza a especialista.
Poderão participar do estudo homens e mulheres com 18 anos ou mais, que possuam insuficiência cardíaca congestiva sintomática, fração de ejeção do ventrículo esquerdo igual ou menor do que 35% e presença de bloqueio de ramo esquerdo no eletrocardiograma com QRS igual ou maior de 130 ms. A seleção de pacientes se dará pela avaliação do médico assistente nos centros SUS e privados localizados em todas as regiões do país.
O líder operacional do estudo, médico Fabiano Barrionuevo, destaca que os projetos no PROADI-SUS focam em desenvolver, analisar e testar novas tecnologias, proposição de processos e tratamentos que qualificam a assistência aos pacientes na rede SUS. “Este estudo não poderia ser diferente. Se a hipótese de melhor custo-benefício deste novo tratamento se concretizar e agregar aos tratamentos disponibilizados na rede, traremos qualidade de vida para muitos outros pacientes com diagnóstico de IC”, complementa Fabiano.