Qual é a chance de uma pessoa ser diagnosticada com aneurisma cerebral sem que haja um sangramento – um AVCh (Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico) – que a deixe com sequelas ou a leve a óbito? Pequena, já que o aneurisma cerebral é uma doença silenciosa, que se manifesta, na maioria dos casos, quando a artéria se rompe e acontece o sangramento, deixando o paciente em estado grave ou podendo levar a morte. O que fazer, então, para que os pacientes com aneurismas sejam diagnosticados e possam se tratar preventivamente? Mais do que isso: por que entre 2% e 4% da população brasileira sofre com o rompimento de aneurismas cerebrais anualmente, já que existem exames que detectam a doença previamente?
“São muitas as perguntas – e existem respostas para todas elas”, diz o Dr. Renato Tosello, Neurorradiologista Intervencionista, especializado no tratamento endovascular de Aneurismas Cerebrais e de outras doenças cerebrovasculares.
Para começar, o Dr. Renato Tosello explica que o aneurisma cerebral é uma “dilatação” que se desenvolve em um local de fragilidade da parede de um vaso sanguíneo (artéria ou veia) que irriga o cérebro. Frequentemente, se forma na bifurcação das artérias intracranianas. “Por causa da dilatação, a parede do vaso fica mais enfraquecida e afilada à medida que aumenta de tamanho, como se fosse a borracha de uma bexiga que vai ficando mais fina e frágil enquanto se enche, até romper. Ao se romper e sangrar, o aneurisma causa um AVC hemorrágico”.
O aneurisma normalmente não causa sintomas enquanto está pequeno, não comprime tecido cerebral ou nervos adjacentes e mantém sua parede íntegra (ou seja, quando não há ruptura).
A localização e o tamanho do aneurisma pode aumentar o risco de ruptura, como também pressionar o tecido cerebral e os nervos ao seu redor, podendo gerar alguns sintomas, como dor de cabeça; dor acima e atrás de um olho; dilatação da pupila de um olho; mudança na visão ou visão dupla e dormência de um lado do rosto.
“Quando o paciente desconfia desses sintomas e procura ajuda principalmente de um Neurorradiologista Intervencionista, pode-se detectar a tempo a presença do aneurisma (que não sangrou) e tratá-lo de forma segura. A angiografia cerebral é o exame padrão-ouro, ou seja, o mais confiável para realizar o diagnóstico de um aneurisma”, explica o médico.
Se a pessoa não procura assistência médica, mas o aneurisma cresce e um dia se rompe e sangra, os sintomas podem variar conforme a seriedade do quadro. Quando o sangramento ocorre, o primeiro sintoma pode ser uma dor de cabeça súbita e intensa. Pode haver, ainda, perda de consciência ou outros sinais de alteração neurológica. Esses são sinais de alerta para procurar um hospital imediatamente. Das pessoas que sofrem de aneurisma roto, cerca de 30% a 50% morrem e ao redor de 20% a 25% ficam com algum déficit neurológico moderado ou grave. Por isso, os aneurismas não-rotos devem ser acompanhados de perto e tratados de maneira eletiva. A única maneira efetiva de se prevenir um aneurisma romper é tratá-lo cirurgicamente. “Hoje, a cirurgia endovascular é um tratamento minimamente invasivo e muito seguro, com alto índice de sucesso e baixo risco de complicação, proporcionando ao paciente uma rápida recuperação”, comenta.
Por que o diagnóstico ainda é pequeno
Pertencem ao grupo de risco para aneurisma cerebral as pessoas que têm diabetes, hipertensão arterial, sobrepeso ou obesidade, um familiar com histórico de AVC (derrame) ou de aneurisma, se é fumante ou faz uso de drogas ou álcool.
Portanto, todos esses pacientes deveriam realizar, a cada cinco anos, uma angiorressonância magnética cerebral (ou uma angiotomografia), um exame parecido com uma ressonância/tomografia, que mapeia o cérebro em busca de aneurismas. Esse check-up neurológico é imprescindível para o diagnóstico de aneurismas.
Caso seja detectado o problema, uma consulta com Neurorradiologista Intervencionista deve ser agendada, para que ele avalie se o aneurisma pode passar por embolização (a cirurgia endovascular) ou deve ser apenas acompanhado ambulatorialmente todos os anos. Esse paciente deve controlar a pressão arterial, o diabetes e o peso, mantendo um estilo de vida saudável.
Os diagnósticos precoces do aneurisma cerebral são poucos porque, justamente, não existe uma recomendação médica para esse checkup neurológico preventivo – um erro que pode custar uma vida. “A cada dia, percebemos que é necessário fazer uma correlação entre as doenças e as cardiológicas estão diretamente ligadas às cerebrais. Por isso, é importante realizar um checkup cardiológico e um neurológico anualmente”, aconselha o Dr. Tosello.
Diferença entre a cirurgia endovascular e a cirurgia aberta (clipagem)
Segundo a Sociedade Brasileira de Neurorradiologia Diagnóstica e Terapêutica, a porcentagem de complicações neurológicas relacionadas ao tratamento endovascular de aneurismas cerebrais (embolização) é de 1,9% para complicações neurológicas transitórias ou leves; 2,6% no pós-operatório imediato e 1,4% em 30 dias de complicações neurológicas permanentes. De 0,5 a 1,1% dos pacientes vão a óbito no pós-operatório imediato e 1,7% em 30 dias após uma embolização.
Os baixos índices de complicações colocam a cirurgia endovascular (embolização) como a opção mais segura para o tratamento definitivo e duradouro dos aneurismas cerebrais.
A cirurgia endovascular (embolização) dispensa a abertura do crânio. A técnica é feita a partir de um minúsculo corte na artéria femoral (cerca de 0,5 cm), que fica na virilha, ou, em alguns casos, até pelas artérias do braço. O procedimento é parecido com um cateterismo, já conhecido por muitos pacientes.
A partir desse pequeno corte, uma finíssima cânula é colocada pela artéria e espirais metálicas, balões, stents ou outros dispositivos endovasculares são utilizados para que o aneurisma deixe de ser alimentado e, em pouco tempo, se feche.
O tempo de internação de um paciente embolizado é menor e a recuperação se faz rapidamente. Vale lembrar que a cirurgia endovascular é um procedimento que faz parte do rol da ANS, sendo coberta pelos planos de saúde. Inclusive, também faz parte dos procedimentos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Para realizar a cirurgia tradicional, também conhecida como cirurgia aberta, é preciso fazer uma incisão no crânio, para que cirurgião tenha acesso ao cérebro do paciente e ao aneurisma, que será clipado. Trata-se de um procedimento bastante invasivo e que demanda mais tempo de internação e recuperação.
Estima-se que 98% dos pacientes com aneurisma cerebral detectado antes do rompimento (AVCh), quando passam pela cirurgia endovascular (embolização) têm suas vidas preservadas. A embolização também é realizada em muitos pacientes que sofreram rompimento de aneurisma, de forma a recuperar as artérias após o AVCh.