A cardio-oncologia se tornou um ramo da medicina essencial no acompanhamento de pacientes com câncer, devido aos possíveis efeitos colaterais do tratamento oncológico, cujo alguns medicamentos podem causar danos ao coração. Além disso, com o aumento da expectativa de vida da população, as doenças cardiovasculares e neoplásicas se tornaram responsáveis pela maior parcela de mortalidade total. Segundo relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em setembro de 2022, 74% das mortes em todo o mundo são causadas por doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) – como as cardíacas, o câncer e a diabete.
De acordo com a médica cardiologista, especialista em cardio-oncologia da Oncoclínicas São Paulo, Marina Bond, a especialidade visa o acompanhamento cardiovascular específico do paciente com câncer, com a união de oncologistas e uma equipe multidisciplinar, objetivando principalmente a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das complicações cardiovasculares (cardiotoxicidade) relacionadas a cirurgias, quimioterapias, imuno, rádio e endocrinoterapia que são realizadas no combate aos tumores.
“O principal objetivo da cardio-oncologia é resguardar o coração do paciente durante e após o tratamento oncológico. O uso de certos medicamentos, como as antraciclinas, por exemplo, utilizadas no tratamento do câncer de mama, linfomas e sarcomas, podem causar insuficiência cardíaca e resultar em um prognóstico grave. Essa complicação pode ocorrer até anos depois do término do tratamento oncológico”, explica a Dra. Marina.
Além disso, diversos fatores de risco como idade avançada, tabagismo, obesidade e sedentarismo também estão relacionados à doenças cardíacas e ao surgimento de tumores. O paciente cardiopata está mais sujeito a desenvolver neoplasias, assim como o paciente onco-hematológico fica mais vulnerável a desenvolver uma cardiopatia.
“A cardio-oncologia não visa suspender quimioterapia, mas sim permitir que o paciente complete o seu tratamento de forma segura, eficaz e com saúde cardiovascular, o que se torna possível por meio do estabelecimento do acompanhamento e controle clínico adequado e individualizado, reduzindo assim o risco de complicações cardíacas desde o início do tratamento”, enfatiza Dra. Marina.
Outros riscos e formas de prevenção
A endocrinoterapia (administração ou subtração de hormônios), bastante utilizada nos tratamentos de câncer de próstata e mama, podem causar piora do perfil de colesterol, ganho de peso e maior propensão ao diabetes, aumentando o risco de doenças cardiovasculares.
A insuficiência cardíaca, ou seja, o “coração fraco” também é frequente com o uso de Trastuzumabe, um anticorpo que revolucionou o tratamento dos tumores de mama HER2 positivos, necessitando de acompanhamento de perto com ecocardiograma trimestral. Ou ainda, com o uso do 5-Fluoruracila ou capecitabina, que são amplamente utilizados na terapia neoadjuvante e adjuvante do câncer de cólon, e podem causar vasoespasmo coronariano (contrações involuntárias que afetam a circulação coronária, causando dor no peito) e infarto agudo do miocárdio, que ocorre quando um coágulo bloqueia o fluxo sanguíneo para o coração, fazendo com que o tecido perca oxigênio e leve o paciente à óbito.
No entanto, de acordo com a Dra. Marina Bond, a melhor solução é a educação e o trabalho de conscientização da população, que deve ser alertada sobre a importância da prevenção tanto do câncer quanto das doenças do coração – e a melhor saída é manter hábitos saudáveis contínuos. “Praticar atividade física, não fumar, não beber em excesso, ter uma alimentação balanceada e a diminuição do estresse ajudam muito a prevenir esses dois problemas, assim como equilibrar a diabetes, hipertensão arterial e dislipidemia. Além disso, pacientes com câncer devem seguir à risca as medidas protetoras da saúde do coração, devido a maior ocorrência de dano cardíaco e por gerar melhores resultados no tratamento oncológico, o que pode significar uma vida longa e com mais qualidade”, finaliza.