No mês em que se comemora o Dia do Idoso, uma recente pesquisa feita por pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), traz novas descobertas e perspectivas em torno do envelhecimento humano e doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
Publicado na revista científica Translational Psychiatry e realizado em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) e The Broad Institute of MIT and Harvard, o estudo busca elucidar os mecanismos envolvidos nos déficits cognitivos do envelhecimento, considerando a ação de moléculas no combate à processos inflamatórios em doenças neurodegenerativas como o Alzheimer.
A inflamação faz parte da defesa do organismo, mas sua ação desregulada tem um papel importante em doenças crônicas e neurodegenerativas. O controle da resposta inflamatória ocorre, entre outros fatores, por mediadores lipídicos como as lipoxinas, e a perda deste controle pode levar a problemas inflamatórios crônicos, como a neurodegeneração.
Conhecida como lipoxina A4, essa molécula vem sendo estudada pelos pesquisadores há anos e este é o primeiro estudo a demonstrar a sua origem no sistema nervoso central. A pesquisa avaliou os possíveis efeitos desse bioativo em cérebro de camundongos, em células humanas neurais desenvolvidas em laboratório, chamados de organoides cerebrais, e no líquido cefalorraquidiano (líquor) – fluido presente em todo o sistema nervoso – extraído de pacientes idosos com demência e outras doenças neurodegenerativas.
“Este estudo faz uma contribuição importante em estabelecer a presença local da lipoxina no sistema nervoso central, assim como o declínio dos seus níveis ao longo do envelhecimento, algo que vinha há muito sendo debatido pela comunidade científica. Junto com uma pesquisa anterior do nosso grupo, conseguimos definir que esta substância é um fator importantíssimo de proteção anti-inflamatória no cérebro humano, provavelmente evitando a ocorrência de neurodegeneração nos indivíduos que envelhecem de maneira saudável”, comenta Dr. Fabricio Pamplona, autor principal do artigo e pesquisador do IDOR.
Resultados
No estudo, os pesquisadores observaram que a LXA4 diminui no líquor de acordo com o envelhecimento e com a severidade de comprometimento cognitivo dos pacientes. A diminuição de LXA4 no líquido cefalorraquidiano também se mostrou relacionada ao acúmulo da proteína beta-amiloide (Aβ42) no cérebro, um dos marcadores neurotóxicos da Doença de Alzheimer.
Outra novidade deste estudo é que a LXA4 possui um mecanismo inovador, envolvendo uma potencialização do sistema endocanabinoide. Este sistema promove o equilíbrio do organismo (conhecido como homeostase), fazendo um controle fino da neurotransmissão, com impacto em uma série de processos fisiológicos que vão desde o controle do apetite, liberação de hormônios, cognição, dor e inflamação, entre outros.
“Os receptores canabinoides do tipo CB1 são a principal chave do sistema endocanabinoide, que promove uma regulação fina dos sistemas de neurotransmissão cerebral. Sabendo que a lipoxina promove uma ativação do sistema endocanabinoide, a informação de que ela é produzida e liberada por células imunológicas no cérebro (a micróglia), nos permite situar sua ação em um cenário de interação entre sistema nervoso central e sistema imunológico. Essa regulação é mais um papel chave do sistema endocanabinoide, mostrando que o equilíbrio inflamatório é essencial para a saúde do nosso cérebro, particularmente durante o envelhecimento”, explica Pamplona.
Com esses resultados, pode-se perceber que prevenir a diminuição de LXA4 pode preservar a saúde do ambiente cerebral e a cognição, além de ser uma descoberta importante para o desenvolvimento de futuras terapias voltadas para doenças neurodegenerativas.