O câncer de mama já é o mais comum no mundo e sua incidência vem numa crescente também no Brasil, cuja estimativa do Instituto Nacional do Câncer é de mais de 66 mil novos casos a cada ano. Essa é a notícia que, além de não ser novidade, é ruim, porém há outra que pode e deve sempre ser lembrada frequentemente, pois representa esperança para toda a população: quanto antes diagnosticá-lo, melhor para a sobrevida da paciente e suas chances de cura. O câncer não espera e o de mama, se diagnosticado precocemente, tem mais de 95% de possibilidade de ser curado.
Por mais que que o Outubro Rosa seja um movimento já consolidado no mundo inteiro, cada vez mais é preciso deixar claro que a atenção a essa doença deve ser permanente e intensificada. Estamos falando de um problema de saúde pública e sobre a segunda maior causa de morte da mulher brasileira, com um saldo de mais de 18 mil óbitos todos os anos, também segundo o INCA.
Num mundo de tanta tecnologia, internet e redes sociais parece inacreditável, mas há muita gente morrendo por falta de informação. Com as dimensões territoriais do Brasil, se faz necessário fazer com que circule orientação, chegando em todo canto, do Oiapoque ao Chuí. São muitos os problemas que as mulheres encontram e em cada região eles são diferentes devido as suas peculiaridades locais. Portanto, conscientizar e disseminar informação qualificada é essencial. Para isso, seria importante que as políticas públicas das três esferas de poder caminhassem alinhadas não só entre si, mas, prioritariamente com as sociedades médicas. Afinal, são os médicos, especialistas e pesquisadores que conhecem não só o que ocorre na ponta do atendimento, mas as possíveis soluções e caminhos para mitigar o drama vivido pelas pacientes, seja no acesso à prevenção, seja no tratamento da doença.
O movimento criado pela Sociedade Brasileira de Mastologia, intitulado Quanto Antes Melhor, considera de forma estratégica, ampla e assertiva várias nuances que envolve o tema junto à sociedade brasileira. Desde as medidas ligadas ao estilo de vida que certamente podem contribuir para evitar a doença, até o que se espera das autoridades e unidades hospitalares públicas. O Sistema Único de Saúde, o SUS, é um exemplo de sucesso no Brasil, embora saibamos que há muito a se aperfeiçoar e avançar. Com isso, no que diz respeito ao câncer de mama, o nosso SUS pode também fazer a diferença. Basta alguns ajustes e diretrizes.
Espera-se que o Quanto Antes Melhor possa alertar a mulher para a adoção de um melhor estilo de vida, com a prática diária de atividade física e a reeducação alimentar. O sedentarismo é um fator de risco, assim como a obesidade e o consumo de álcool. Portanto, uma alimentação saudável e exercícios ajudam, sim, a evitar a doença. Assumir uma postura de saúde preventiva, algo ainda tímido no Brasil, é de extrema importância, pois isso envolve a ida regular ao médico para exames de rotina e acompanhamento e, no caso do câncer de mama, um rastreamento que, via mamografia, é fundamental para o diagnóstico precoce. Para se ter ideia, nossa cobertura de mamografia gira em torno de 25%, muito aquém dos 70% recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
A Sociedade Brasileira de Mastologia preconiza a mamografia anual para todas as mulheres a partir dos 40 anos. Técnica e cientificamente essa recomendação é inquestionável e pode fazer a diferença para salvar vidas e evitar diagnósticos tardios. No Brasil, cerca de 30% dos casos já chegam em estágio avançado e isso pode ser mudado.
E o que carece de mudanças também é o tratamento. A navegação das nossas pacientes precisa ser potencializada, iniciando com a mamografia em sai, passando pela marcação da biópsia e chegando ao início do tratamento. Mesmo com leis garantindo todo esse acesso, na realidade, muitas demoram meses para iniciar o tratamento, comprometendo sua saúde diante do avanço da doença.
Enfim, nos orgulhamos do crescimento do outubro rosa, mas alertamos que esse rosa deve dar o tom ao longo de todo o ano. Isso é um direito de toda mulher, garantido por lei. Quanto antes garantirmos que essas normas sejam cumpridas, quanto antes informarmos toda a nossa população e quanto antes nossas autoridades direcionarem esforços para as melhorias necessárias para o combate ao câncer de mama no país, melhor será para as nossas mulheres que são as verdadeiras protagonistas dessa história, muitas com final feliz, mas outras, infelizmente, não tendo a mesma sorte.
Vilmar Marques é Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM)