Münchhausen: diagnóstico exige atenção a detalhes além dos sintomas

A síndrome de Münchhausen consiste em um quadro patológico no qual o paciente simula ou provoca, intencionalmente e de maneira compulsiva e contínua, qualquer tipo de sintoma físico ou psicológico para obter atenção e cuidados médicos.

Estima-se que, no Brasil, pouco mais de 1% dos pacientes internados em hospitais tenham a síndrome. Por ser um quadro bastante complexo, tanto o diagnóstico quanto o tratamento são mais desafiadores em comparação a outras condições.

O DSM V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais) classifica a síndrome de Münchhausen no grupo de Transtornos Factícios, predominando os sintomas físicos e os seguintes critérios de diagnóstico: produção ou simulação intencional de sintomas e sinais predominantemente físicos; o papel de doente é o que motiva o comportamento; ausência de incentivos externos para o comportamento (ganho econômico, fuga de responsabilidade legal ou melhora de bem-estar físico).

Como identificar

“Os atos dos pacientes são intencionais e premeditados. Eles conseguem simular patologias ao ler manuais de diagnóstico e livros de medicina, além de terem um conhecimento avançado de práticas médicas”, afirma Monica Machado, psicóloga, fundadora da Clínica Ame.C, pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.

De acordo com a psiquiatra Danielle H. Admoni, preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria); pode ocorrer também a produção deliberada de sinais clínicos a partir do consumo oral ou injetável de substâncias tóxicas ou infectadas e de lesões autoinfligidas. “Ao simular sintomas, a pessoa pode causar danos reais à saúde”.

Segundo um artigo publicado pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, uma das simulações típicas pode resultar na hemoptise fictícia: o indivíduo coleta parte do próprio sangue com uma seringa, aspira o líquido para armazena-lo na cavidade oral e o elimina pela boca, fingindo um sangramento interno.

Os sinais que podem identificar a síndrome de Münchhausen são:

– Comportamentos autodestrutivos

– Presença dos sintomas sem conexão com a patologia de base

– Exagero dos sintomas na presença de outras pessoas

– Incompatibilidade das histórias contadas

– Conhecimento profundo de práticas e terminologias médicas

– Vontade incomum de se submeter a exames e procedimentos médicos

– Resposta ineficiente aos tratamentos

– Evitar que médicos conversem com familiares

Relação com outros transtornos

Ainda não foram identificadas causas exatas para essa síndrome, mas se sabe que a carência afetiva e alguns transtornos estão relacionados:

Transtorno de Borderline

Sua maior característica é a instabilidade emocional, com constante mudança de humor e baixa tolerância a frustrações. “O paciente tem episódios intensos de depressão, ansiedade e até mesmo de raiva, que podem durar minutos, horas ou dias. Por isso, pessoas com Boderline estão mais suscetíveis a desenvolver a síndrome de Münchhausen”, explica Monica Machado.

Depressão

A doença, que também gera alterações importantes de comportamento, é caracterizada por desinteresse pela vida, baixa autoestima, desânimo, isolamento, entre outros. “Muitas pessoas com sintomas de Münchhausen têm diagnóstico de depressão, cuja tendência é iniciar o tratamento e abandonar logo no início”, conta Danielle Admoni.

Traumas na infância

Podem envolver abuso e violência sexual, assaltos, acidentes, agressões físicas e psicológicas, entre outras situações de estresse extremo. Estes episódios também podem desencadear a síndrome na vida adulta.

Tratamento

O diagnóstico tende a ser um desafio e exige atenção a detalhes que vão além dos sintomas, como análise do histórico de saúde física e mental do paciente. Se o transtorno não for tratado logo, a pessoa pode acabar se ferindo gravemente e gerar danos à saúde devido aos constantes procedimentos desnecessários.

Segundo Monica Machado, familiares e pessoas próximas têm papel fundamental no diagnóstico e tratamento do paciente. “Eles costumam ser os primeiros a identificar anormalidades no comportamento e nos discursos do indivíduo”, pontua a psicóloga.

Já o especialista precisa fazer uma investigação extensa da vida do paciente para chegar a um possível diagnóstico. Além do seu histórico, ele deve listar os lugares de internação e quantas vezes ela ocorreu; os tratamentos já realizados e as razões por ter mudado de médico ou instituição de saúde.

“O ideal é sempre evitar o confronto, permitindo que o paciente conheça sua situação gradualmente, visando à cooperação e à aceitação do tratamento. É preciso que ele tenha consciência que sua situação não é física, mas psíquica, para aumentar a chance de aderir ao tratamento. Vale lembrar que o uso de antidepressivos e outros medicamentos é indicado nos casos em que há outro transtorno concomitante”, finaliza Danielle Admoni.

Redação

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