O mês de fevereiro recebe a cor laranja para alertar sobre a leucemia, um conjunto de doenças malignas que afetam as células do sangue responsável por 11.540 novos casos a cada ano no Brasil – o 10º tipo de câncer mais frequente entre a população brasileira, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Além de conscientizar sobre os sinais de alerta e diagnóstico do tumor, o marco no calendário da saúde é também uma oportunidade de celebrar os importantes avanços nas frentes de tratamento, com inovações relevantes que vem revolucionando a oncologia como um todo.
Segundo Renato Cunha, onco hematologista e líder do programa de Terapia Celular, que inclui o CAR-T, do Grupo Oncoclínicas, a terapia celular e a imunoterapia estão na gama das modernas alternativas que têm mudado a vida dos pacientes. A CAR-T cell (sigla em inglês para Chimeric Antigen Receptor T-Cell Therapy) foi empregada comercialmente pela primeira vez no Brasil em janeiro. A hematologista Luciana Conti, junto com as médicas Jordana Ramires e Patrícia Gonçalves, da Oncoclínicas Rio de Janeiro, foram responsável pelo tratamento. O paciente, de 74 anos, já havia sido submetido a três tratamentos diferentes sem sucesso. Ele reage bem e já recebeu alta. O procedimento promete ser revolucionário para alguns tipos de doenças hematológicas e a leucemia linfocitica aguda é uma delas.
A CAR-T (sigla em inglês para Chimeric Antigen Receptor T-Cell Therapy) é uma terapia celular cujo primeiro resultado de sucesso completou dez anos em 2022. Apesar de vastamente empregada no mundo, em janeiro, o primeiro paciente no país foi beneficiado com o tratamento. Anteriormente, apenas estudos clínicos tinham sido realizados no Brasil. No ano passado, a ANVISA aprovou como um medicamento, indicado para leucemia linfoblástica aguda da infância até 25 anos; linfoma difuso de grandes células B, sem limite de idade e mieloma múltiplo.
Apesar de ter sido aprovado como medicamento, a matéria-prima é o linfócito T do paciente, célula que faz parte do sistema de defesa. O procedimento hematológico começa com a coleta dessas células, através de uma máquina muito semelhante a de hemodiálise. Esta é capaz de separar numa bolsa os linfócitos T e devolver o restante ao paciente num procedimento chamado aférese. A bolsa vai para o laboratório, onde são contadas as células coletadas (linfócitos T), para avaliar necessidade de nova aférese ou fim dessa primeira etapa.
Esses linfócitos coletados viajam internacionalmente até o laboratório da indústria farmacêutica indicado pela equipe médica, onde são modificados geneticamente, ganhando a capacidade de identificar o tumor em questão. Finalizado esse processo, que dura em média quatro semanas, as células, agora em forma de medicamento, viajam de volta ao Brasil para serem administradas ao paciente.
Antes da infusão, é necessário fazer uma quimioterapia, que reduz a defesa do paciente, para que as células modificadas consigam se proliferar e desempenhar o papel esperado. Após este processo, o paciente precisa ficar internado, para monitoramento de possíveis efeitos adversos. Os riscos vão reduzindo ao longo dos dias e, após o 28º dia, se tornam improváveis. A avaliação de resposta ao tratamento pode acontecer de 30 a 60 dias.
A outra terapia celular disponível, atualmente, é o transplante de medula óssea. A diferença é que, no transplante, todo o sistema imunológico do paciente é substituído pelo do doador saudável. O objetivo é que, diante de um sistema imunológico saudável, a célula do tumor seja identificada e destruída por ele. “No CAR-T, não há doador. Além disso, as células modificadas, como são do próprio paciente, não são capazes de desencadear uma doença chamada enxerto versus hospedeiro, que pode ser causada pelo transplante alogênico”, afirma a hematologista Luciana Conti, da Oncoclínicas Rio de Janeiro. A médica lembra que outra diferença importante é que, no transplante, o paciente precisa estar com a doença em remissão. Já no CAR-T, o tratamento acontece com a doença em atividade. O CAR-T cell está disponível hoje no país na rede privada, mas ainda não há previsão pelo SUS.
A leucemia aguda, alvo da terapia celular, pode surgir, literalmente, de repente. Os principais sintomas são um cansaço inexplicável, manchas roxas no corpo, que aparecem sem que se tenha batido em nada, além de febre baixa, principalmente ao entardecer e um pouco de tosse. “Este tipo de câncer pode ter evolução rápida, de dias ou semanas. Por isso, ao perceber essas mudanças, que podem incluir também uma infecção, como urinária, é preciso procurar um médico para avaliação”, diz o hematologista Eduardo Gerk, do Hospital Marcos Moraes, do Grupo Oncoclínicas.