O nascimento de um filho é, sem dúvida, um dos momentos mais inesquecíveis da vida de qualquer pessoa. Até pouco tempo atrás, era também um momento de “descobertas”, quando se podia, pela primeira vez, avaliar por completo a saúde da criança os exames de ultrassom, por exemplo, se popularizaram somente a partir dos anos 1970. Hoje em dia, porém, o cuidado com a saúde do bebê começa muito antes, ainda no útero, e leva o nome de Medicina Fetal, que tem como missão evitar diversos problemas que podem ocorrer ao longo da gravidez, seja com o bebê ou com a mãe.
O coordenador da especialidade no Vera Cruz Hospital, Renato Ximenes, explica que existem condições que podem levar ao parto prematuro, deixar sequelas no bebê e até mesmo causar a morte da criança. “A tecnologia e o conhecimento médico atuam em conjunto para identificar os problemas o quanto antes e fornecer soluções, buscando um desenvolvimento mais saudável e completo para a criança”, pontua.
A importância da Medicina Fetal foi vivenciada pela família do Murilo, por exemplo, após a descoberta de uma malformação na 22ª semana de gestação – a hérnia diafragmática congênita. O menino precisou passar por duas cirurgias intrauterinas e, hoje, a família comemora a vida do pequeno herói. “Pensei várias vezes em desistir. Mas, vendo que tinha a possibilidade de salvar a vida do meu filho, lutamos e corremos atrás para que fosse feito o procedimento. Hoje, ao olhar a carinha do meu bebê, vejo o quanto tudo foi importante. Eu me emociono todos os dias com ele. Ele é uma bênção na minha vida, é tudo para mim”, conta a mãe, Eliane Lázara Barbosa Miranda, sobre os obstáculos enfrentados com o filho ainda no ventre.
Ximenes explica que durante o desenvolvimento da gestação, o diafragma do Murilo não se fechou completamente. Por isso a necessidade das intervenções. “O diafragma é um músculo que separa a cavidade torácica (onde ficam os pulmões) da cavidade abdominal (em que se encontram órgãos como o estômago e o intestino). Quando ele não se fecha por completo, forma-se um orifício, em que os órgãos da cavidade abdominal podem se deslocar para a cavidade torácica. Isso diminui o espaço para o desenvolvimento dos pulmões, que ficam ‘apertados’ em meio aos demais órgãos e não crescem de forma adequada. Enquanto o bebê está no útero materno, isso não traz problemas, pois o pulmão não é utilizado nesta etapa da vida. Porém, assim que ele nasce e precisa dos pulmões, os impactos da hérnia diafragmática são percebidos. Quanto menores e menos desenvolvidos estiverem os pulmões, menores as chances de sobrevida do bebê”.
A primeira cirurgia do garoto foi realizada durante a 28ª semana de gestação: um pequeno balão foi inserido na traqueia e permaneceu ali até a 34ª semana, quando, em uma segunda cirurgia, foi retirado. “O procedimento é conhecido como cirurgia de oclusão e desoclusão traqueal. O balão faz com que o líquido produzido pelos pulmões permaneça ali na região, servindo como um tipo de ‘contraponto’ à pressão exercida pelos órgãos que ‘subiram’ pelo orifício no diafragma. Isso dá um ‘fôlego’ para que os pulmões se desenvolvam melhor, ampliando os prognósticos de um nascimento sadio”, esclarece Ximenes.
Malformações congênitas
Entre as principais atuações da medicina fetal está a identificação, o diagnóstico e o tratamento de anomalias congênitas, como: mielomeningocele (espinha bífida, um defeito no fechamento da coluna vertebral); transfusão feto-fetal (onde a placenta é compartilhada entre os fetos, e o sangue passa desproporcionalmente de um bebê para o outro); hérnia diafragmática congênita (como no caso do Murilo); e obstrução da bexiga. Essas condições podem ser causadas por fatores genéticos, infecciosos, nutricionais, ambientais, ou a combinação deles, e afetar diversos órgãos e sistemas do corpo.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 6% dos bebês em todo o mundo nascem com uma anomalia congênita, e cerca de 240 mil recém-nascidos morrem por ano pela condição. No Brasil, a estimativa do Sinasc (Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos) é que, a cada ano, aproximadamente 24 mil bebês tenham alguma anomalia congênita diagnosticada no nascimento, número que pode ser cinco vezes maior, dado que as subnotificações são muito comuns em diversas regiões do país. No mundo, as anomalias congênitas ocupam a quinta principal causa de mortes em crianças com menos de cinco anos de idade.
Para que as mães possam ter uma gravidez mais saudável e com menor risco, logo no início da gestação, os profissionais especializados em medicina fetal orientam e esclarecem as dúvidas das pacientes. Ao longo dos meses, mães e filhos são acompanhados de perto para rastrear, diagnosticar e tratar quaisquer problemas que possam surgir. “Um dos grandes aliados nesse processo é o ultrassom, uma técnica que tem evoluído muito nas últimas décadas, permitindo, hoje, que médicos identifiquem problemas antes visíveis somente após a criança vir ao mundo”, adiciona o especialista.
A área, em especial, tem alta relevância quando a gravidez é considerada de risco, que pode acontecer quando a mãe possui alguma doença crônica prévia à gestação, como: diabetes, doenças renais ou epilepsia; mães que tiveram uma gravidez anterior de alto risco; ou que identifiquem, ao longo dos nove meses, uma doença ou sintoma que pode oferecer algum perigo para ela ou para o bebê.
“O tratamento do feto avançou muito nos últimos anos, e o Vera Cruz Hospital é um dos poucos hospitais no país capacitado com uma equipe multidisciplinar de medicina e cirurgia fetal para receber e intervir em casos que necessitem de terapia ou cirurgia fetal intrauterina”, conclui o coordenador do serviço.
Medicina Fetal do Vera Cruz Hospital
Desde 2020, o hospital possui o Centro de Gestação de Alto Risco e um serviço de medicina fetal localizado no Vera Cruz Centro Clínico – Unidade Guanabara. A clínica é referência para gestações com complicações para a mãe, para o feto, ou para os dois, e foi projetada para proporcionar um atendimento personalizado, ágil e eficiente, do agendamento à realização da consulta, oferecendo o que há de mais moderno de ultrassonografia, ecocardiografia fetal, neurossonografia fetal, além de procedimentos cirúrgicos que promovem a saúde mesmo antes do nascimento.