A grande maioria dos pacientes com câncer necessita de internações hospitalares ao longo de sua trajetória de doença. O hospital é imprescindível quando pensamos em tratar essas pessoas, não só porque é lugar-comum à realização de cirurgias, mas também porque os tratamentos são tóxicos, os pacientes têm média de idade mais avançada e, por ser uma doença grave, leva muitas pessoas a falecerem, o que geralmente ocorre durante uma internação.
Os pacientes com câncer comumente descobrem sua doença a partir de uma biópsia ou mesmo uma cirurgia, de urgência ou não, e, portanto, são internados para tais procedimentos. Ao longo da trajetória da doença, podem precisar de novos procedimentos cirúrgicos, levando a novas visitas ao hospital.
Após o diagnóstico, inicia-se o tratamento e, então, podem ocorrer os efeitos colaterais. Como exemplo, algumas vezes, pacientes têm vômitos e diarreia intensos com quimioterapia, ficando desidratados e necessitando comparecer ao pronto socorro.
As emergências oncológicas também contribuem para internações, que geralmente são prolongadas. A neutropenia febril, uma complicação da quimioterapia, é um diagnóstico recorrente em pacientes em tratamento com quimioterapia. Outro exemplo, a compressão medular é um quadro em que a equipe deve atuar rapidamente a fim de evitar sequelas como a paraplegia.
Os pacientes com câncer têm, felizmente, vivido mais tempo com os tratamentos mais avançados. Por outro lado, o câncer e suas terapias muitas vezes aumentam o risco de trombose, problemas renais, hepáticos ou cardíacos. Sendo assim – e adicionando o fato de que a maioria são idosos – outros problemas de saúde, como pressão alta e diabetes, podem piorar o quadro clínico e ensejar internações.
Mais à frente, quando a doença está aumentando e torna-se resistente aos tratamentos disponíveis, os sintomas decorrentes dela levam a quadros de infecções, desnutrição, incapacidade de deglutição, comprometimento neurológico, dentre outros problemas. Nesse ponto, a internação muitas vezes torna-se prolongada e a alta para casa, mais difícil de conquistar. Os pacientes, na grande maioria das vezes, vão a óbito na internação e a capacidade de oferecer uma morte digna é um importante indicador de qualidade hospitalar.
Dados do SUS mostram que mais de R$ 13 bilhões foram gastos em 10 anos com 7,5 milhões de internações de pacientes oncológicos. A maioria desses pacientes são de estágios avançados da doença. No grupo SOnHe, tivemos 1.000 internações em 3 anos, com média de idade de 52 anos, 55% mulheres e 20% com câncer de mama. Mais de 50% têm estágio avançado de doença e temos orgulho de termos indicadores de óbito dentro dos padrões internacionais.
Por conta dessa diversidade de situações que envolvem a internação do paciente com câncer, é muito importante que todo o hospital esteja preparado para oferecer o melhor tratamento. Para isso, a equipe multidisciplinar é fundamental, com o apoio da psicologia, nutrição, fisioterapia, serviço social, fonoaudiologia, farmácia e enfermagem. Não só isso: a capacitação dos médicos do pronto socorro faz a diferença na agilidade para identificação de tratamento dos mais variados quadros clínicos.
Por fim, a equipe médica oncológica dedicada é de suma importância para conduzir cada caso da melhor forma possível, ponderando quais tratamentos vão trazer mais benefícios que malefícios em cada fase da doença, com base, claro, em evidências científicas atualizadas. Tudo isso sempre pensando no melhor para nosso paciente, que está em um momento difícil, principalmente quando está internado, e, por isso, deve receber o melhor cuidado possível.
Origem da data
O Dia do Hospital é celebrado em 2 de julho em homenagem à reinauguração da Santa Casa de Misericórdia de Santos-SP, realizada em 1945. Este é considerado o primeiro hospital do Brasil. Em 1543, a Santa Casa de Misericórdia de Santos foi fundada por Brás Cubas (1507-1592), um fidalgo português. Ao longo dos séculos foram sendo reconstruídos e inaugurados vários conjuntos no Hospital, mas apenas aquele inaugurado por Getúlio Vargas em 1945 existe ainda hoje.
Rafael Luís Carmo é Mestre em Oncologia pela Unicamp. Tem graduação e residência em Clínica Médica e Oncologia Clínica também pela Unicamp. Realizou Fellowship no MD Anderson Cancer Center Madrid. É membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e da Sociedade Europeia de Oncologia Clínica (ESMO). Rafael faz parte do corpo clínico de oncologistas do Grupo SOnHe e atua no Radium – Instituto de Oncologia, no Hospital Santa Tereza, Hospital Madre Theodora, Hospital PUC-Campinas e UNACON em Americana