O comportamento e o interesse das pessoas pela saúde vem acompanhado das transformações do tempo. Desde 2014, nunca tivemos tantos segurados com plano de saúde, sendo mais de 50 milhões de brasileiros, afirma a Agência Nacional de Saúde (ANS).
Quanto maior o consumo, mais os desafios aparecem, o que me faz refletir sobre onde estamos como gestores e prestadores do serviço e qual o caminho da saúde para a próxima década. Mudanças intrigantes já pressupõem a maneira de ofertar saúde e continuarão nesse ritmo nos anos seguintes. Fator humano continua sendo catalisador na relação médico-paciente e em todos os aspectos que envolvem o segmento.
As desigualdades socioeconômicas e de saúde, aliás, continuarão sendo desafios a serem vencidos e não vejo mudanças significativas para reduzir o abismo entre serviço e oferta a quem precisa. Ranking apresentado pelas Nações Unidas mostra que o Brasil está na lista dos 10 países mais desiguais do mundo.
Por outro lado, alguns caminhos já trazem reflexos positivos. Com o maior alcance de brasileiros digitalizados, ferramentas de gestão inteligentes se somarão para reduzir os gargalos operacionais e administrativos do sistema. Num país mais conectado, a telemedicina será levada para pontos hoje inalcançáveis, desde que empenho e subsídios ampliem o acesso para onde a desigualdade social está concentrada.
A inteligência artificial, que hoje traz velocidade na informação, cumprirá um papel importante na prestação do cuidado. Entre 2012 e 2021, o número de brasileiros idosos aumentou em 39%, alcançando 14,7% da população residente no país. A diabetes mellitus e a obesidade têm sido caracterizadas como as doenças crônicas de maior prevalência nas capitais brasileiras, com aumento considerável nas últimas décadas. É fato que os reflexos de hoje prosseguirão nos anos seguintes como desafios a serem enfrentados e exigirão pressa na sua resolutividade. Sendo assim, mais healthtechs estarão dedicadas a compreender o comportamento e o consumo das pessoas para que o sistema de saúde crie políticas contra o aumento de comorbidades e seus fatores de risco.
Na ponta, isso ajudará a manter os pacientes saudáveis por mais tempo. Soma-se a esse ritmo a leitura dada para as informações, que serão analisadas e tratadas conforme elas chegam, passando para o near real time respostas de autorizações para exames e procedimentos, por exemplo, que ainda consomem dias e semanas para tratativas. Velocidade igual se aplicará nas filas de atendimento privado, mas não vejo capacidade para evitá-las radicalmente no setor público, pois implica em outros recursos, como pessoal, logístico e estrutural. O cenário muito mais dinâmico virá acompanhado de questões complexas e, até mesmo, questionáveis. Isso porque o Brasil ainda transita na zona obscura, dada as severas punições contra a proteção de dados, o que torna impraticável a desburocratização. Talvez, em 10 anos, com regramento inteligente, conseguiremos dar velocidade às informações e agilizar processos que esbarram nas severas imposições.
Outro ponto: o crescimento desenfreado, não controlado e não totalmente transparente na confecção de remédios prototipados pela indústria farmacêutica. Se medidas não forem tomadas pela racionalização e equilíbrio, a largada desses custos continuará sobrecarregando o sistema de saúde suplementar, que é refém dos reguladores.
As políticas ESG passarão por um processo de maturidade, saindo do “por que fazer” para “como fazer”. Na próxima década, vejo E e S como consequência e G como impulso transformador. Bem compreendido pelos gestores, o ESG garantirá maior sustentabilidade das operações de saúde, minimizará o impacto ambiental das práticas médicas e contribuirá pelo bem-estar da sociedade.
Tendo em vista os anos seguintes e todos os pontos trazidos até aqui, ainda vejo com certo otimismo os caminhos da saúde no Brasil. Rigor, transparência, integração de sistemas e desburocratização são mecanismos a serem desenvolvidos. Aprender com os erros, observar os acertos e furar a bolha do comodismo dependerão de capacidades, pessoas e talentos, pois as ferramentas existem.
Richard Oliveira é CEO da Unimed Grande Florianópolis e vem se dedicando a estudos e análises sobre o ESG nas organizações. Lidera um time de profissionais na cooperativa médica responsável por trazer uma cultura voltada ao cliente e à sociedade no centro de suas ações