Medo e desconfiança são entraves para mudanças nos modelos de custos e remuneração

Diretora executiva da Anahp, Martha Oliveira. Foto: Tchelo Figueiredo

Quando se trata de custos na área da saúde sob a ótica da entrega de valor ao paciente, a grande discussão é sobre como desmontar as estruturas econômicas que o próprio setor criou para sobreviver dentro do atual modelo, cujo foco é econômico. Este e outros temas foram abordados no 3º Simpósio do Hospital Santa Rosa em Gestão Hospitalar, que aconteceu em 3 e 4 de maio, em Cuiabá (MT).

Com mais de 40 anos de experiência em gestão hospitalar e serviços de saúde, Alceu Alves da Silva, que é vice-presidente da MV e membro titular da Academia Brasileira de Administração Hospitalar, explica que a grande dificuldade diante dessa problemática diz respeito ao fato de que será necessário desmanchar o modelo vigente para a construção de um novo – o que exige esforço e proatividade.

“Às vezes, as instituições de uma forma geral, assim como as pessoas, ficam imaginando que o futuro é uma espécie de entidade que vai chegar e dizer ‘eu sou o futuro’. Precisamos ter iniciativas e confiança no processo. É bem provável que a gente tenha que fazer isso por etapas. Porque, acima de tudo, quando a gente fala em entregar valor significa colocar as pessoas e a saúde delas no centro do sistema”, ressalta.

Segundo o diretor presidente do Grupo São Lucas, Pedro Palocci, debater custos e modelos de remuneração não é algo novo. No entanto, ele destaca que apesar de todos compreenderem que mudar é complicado, porém necessário, ninguém assume o papel de dar o primeiro passo por conta do medo.

“Discutimos essa tese o tempo todo e ninguém tem coragem. Porque coragem tem quer ser compartilhada e hoje ‘compartilhar’ é uma palavra que não existe dentro da saúde. O que existe é desconfiança. É o prestador de serviço com medo de perder a margem e a operadora de plano de saúde e as seguradoras com medo de pagar muito por um evento que poderia ser menor”, comenta.

Tal pensamento foi reiterado pelo presidente da Unimed Cuiabá, Rubens Carlos de Oliveira Júnior, que ainda destacou que os atores envolvidos no setor olharam para a “árvore” e esqueceram de olhar a “floresta” – o que estava acontecendo. “Temos que parar de desconfiar. Se não tiver este tipo de maturidade e de resiliência entre os stakeholders, não vejo como bom caminho. Hoje, por exemplo, voltamos a conversar sobre o paciente”.

Para o diretor de Relações Institucionais do Hospital Santa Rosa, Gledson Iuris Anhaia, duas vertentes norteiam o futuro: o compartilhamento de informações e a ousadia. “É preciso estabelecer um diálogo aberto e de forma transparente. Iniciar essa mudança e ter clareza com os números. Sem esquecer também que uma assistência de qualidade oportuniza um melhor custo tanto para as instituições quanto para as operadoras. Mas, para tal, você também precisa investir na assistência”, pondera.

CUIDADO CENTRADO NO PACIENTE – E é sob a ótica do cuidado centrado no paciente que a diretora executiva da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Martha Oliveira, ressalta que, antes de mais nada, é preciso entender o valor que o paciente espera do sistema de saúde. “É isso ou vamos desenhar uma estrutura na qual o paciente não estará no centro. Precisamos entender ainda que o sistema também é responsável por mostrar ao paciente o que é importante para ele”, comenta.

O gerente de Experiência do Paciente do Hospital Sírio Libanês, Marcelo Alves Alvarenga, complementa que, nesse processo de amadurecimento, o que se procura também é um maior envolvimento do paciente e de sua família em todas as etapas do processo hospitalar. “Na criação de novos leitos de UTI, por exemplo, por que não perguntar a opinião dos pacientes que já estão internados?”, questiona.

Para a superintendente executiva do Hospital Santa Rosa, Mara Nasrala, a cuidado centrado no paciente é, sim, uma forma de agregar valor às instituições. “No Santa Rosa, os projetos ‘Fluxo do Paciente’ e ‘Parto Adequado’, por exemplo, buscam melhorar a eficiência operacional e experiência do paciente, além de garantir qualidade e segurança”, exemplifica.

SIMPÓSIO – Promovido pelo Hospital Santa Rosa, o evento reuniu cerca de 500 profissionais da área de saúde, empresários do segmento, médicos e estudantes de medicina em prol de apresentar informações que visem ampliar as relações comerciais, humanas, sociais e tecnológicas. Em sua terceira edição, o simpósio traz como tema central “Relacionamento com Geração de VALOR para o Paciente”.

“Discutir a saúde é o que a saúde precisa. Investir em ações que possam difundir conhecimento é primordial para a garantia de sua qualidade, sustentabilidade e segurança. Se novos olhares guiam o futuro, antes temos como desafio compreender o passado e avaliar o presente. Tanto que temos um tema atual e contamos com palestrantes e convidados de prestígio nacional e internacional que pensam o setor de forma inteligente”, reforça o diretor presidente do Grupo Santa Rosa, José Ricardo de Mello.

ACREDITAÇÃO – Ao completar 20 anos, o Santa Rosa é o único hospital de Mato Grosso certificado pela Acreditação Canadense, nível Diamond – uma das principais certificações de qualidade em saúde no mundo. A instituição também é certificada Excelência, Nível III, pela Organização Nacional de Acreditação (ONA).

Redação

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