No dia 26 de maio de 1968, o Brasil entrava no rol dos países pioneiros do transplante de coração. Começava ali, nos primeiros batimentos do coração transplantado de João Boiadeiro (João Ferreira da Cunha), no Hospital das Clínicas da FMUSP, uma nova etapa na cardiologia brasileira e latino-americana.
O feito histórico das equipes dos Professores Euryclides de Jesus Zerbini, na cirurgia cardiotorácica, e Luiz Venere Décourt, na Clínica, sedimentou também os alicerces do que viria a ser em 1977 o InCor, o Instituto do Coração do HCFMSUP.
Para comemorar os 50 anos do 1º transplante cardíaco, o InCor realizou, no dia 25 de maio, evento com a presença de autoridades e médicos que viveram essa história em 1968 e cuja linhagem de inovações levou o Instituto do Coração a romper a barreira dos 1.000 transplantados cardíacos em 2016 e a ser o 7º centro que mais transplanta coração de adultos no mundo, desde 2014.
Há muito para comemorar
Os avanços no transplante cardíaco nessas cinco décadas são consideráveis, diz o Dr. Roberto Kalil Filho, presidente do InCor, e o futuro aponta para possibilidades ainda mais surpreendentes, como as pesquisas com xenotransplantes, utilizando órgãos de porcos geneticamente modificados. “Nesse meio tempo também surgiram medicamentos contra a rejeição mais eficazes e com menos efeitos colaterais, além de máquinas de suporte ao coração mais eficientes, tendo à frente os modernos ventrículos artificiais portáteis, aparelhos que prologam por mais de cinco anos a vida de pacientes que esperam por um órgão ou que não podem se submeter ao transplante”.
A gestão do sistema de transplante cardíaco no País também conheceu um novo capítulo, a partir de 2013, com a criação do Núcleo de Transplantes do InCor, equipe de médicos, cirurgiões e enfermeiros dedicados exclusivamente ao transplante de coração e de pulmão, setes dias por semana, 24 horas por dia.
Um dos resultados do Núcleo, de acordo com o Dr. Fábio Jatene, diretor da Divisão de Cirurgia Cardiovascular, foi a potencialização da logística de captação, tanto de coração quanto de pulmão, levando o Instituto a ampliar seu raio de busca de órgãos até outros estados. Esse movimento culminou, em outubro de 2017, na captação de um coração na fronteira sul do país, mais precisamente em Uruguaiana, próximo à Argentina e Uruguai. “Essa talvez tenha sido a captação de coração de mais longa distância feita no Brasil”, diz o Dr. Jatene.
O detalhe é que a janela de captação do coração (momento entre a retirada do órgão do doador e seu implante no receptor) idealmente não deve ultrapassar quatro horas. Para que tudo isso dê certo, a logística inclui uma operação de transporte complexa, incluindo o uso de ambulâncias, voos fretados e helicópteros.
E as inovações não param aí. O InCor implementa hoje mais uma inovação, em caráter inédito no país, que aumentará a versatilidade da captação. Trata-se de uma maleta térmica especial, já usada na Europa, capaz de manter a temperatura do coração doado em condições ideais para a conservação do órgão para transplante (8°C a 10°C), sem a utilização de gelo.
Todos esses avanços são uma boa notícia para as centenas de brasileiros que aguardam um novo coração para viver e, especialmente, para as 62 pessoas que estão na fila de espera do InCor – 10% delas em alta prioridade, dependentes de medicamentos e aparelhos hospitalares para se manterem vivas.