Fundação do Câncer forma 554 profissionais na primeira fase do Programa Nacional de Formação em Radioterapia

“Esse curso, para existir, exigiu muita coragem e disposição de todos. Uma brilhante equipe, técnica e docente, e nós, que escolhemos nos dedicar a esse curso com todas as nossas forças. Já começamos em pleno ano de Olimpíadas, em agosto de 2016. Enquanto o Rio de Janeiro estava de recesso e em festa, estávamos nos dividindo entre uma sala no nono andar da Fundação do Câncer e a Uerj”. A fala da oradora Camila Costa Ribeiro resume bem o espírito da primeira turma do mestrado profissional em Física Médica, promovido pela Fundação do Câncer, em parceria com a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e o Instituto Nacional de Câncer (Inca). No total, a iniciativa certificou 554 profissionais, sendo 20 mestres em Física médica, 80 técnicos em radioterapia, além de atualizar 229 médicos em radiologia e outros 244 em física médica. Todos retornam para seus estados de origem com a missão de multiplicar o conhecimento adquirido.

A cerimônia de formatura do curso, realizada na última quinta-feira (21), na Uerj, reuniu os físicos mestrandos e a quarta turma de técnicos em radioterapia. O evento teve como marco a conclusão da primeira fase do Programa Nacional de Formação em Radioterapia, idealizado pela Fundação. A iniciativa é parte do Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon), do Ministério da Saúde, que tem o intuito de expandir a prestação de serviços médico-assistenciais e apoiar a formação, o treinamento e o aperfeiçoamento de recursos humanos.

Ao longo de dois anos, a primeira fase do Programa Nacional de Radioterapia formou 20 mestrandos; 80 técnicos em radioterapia, divididos em quatro turmas, com seis meses de duração cada; e qualificou 244 médicos nos cinco cursos de Atualização em Física Médica realizados. O projeto enriquece a expertise em educação da Fundação do Câncer, desenvolvida ao longo de 26 anos. Para o Dr. Maltoni, diretor executivo da Fundação do Câncer, a experiência bem-sucedida reafirma o propósito da instituição: “a ideia é que a gente contribua com o país como um todo, onde precisa e onde há pacientes com câncer. Sabemos que são mais de meio milhão de novos pacientes de câncer por ano no Brasil, temos que estar com o nosso pé lá, juntos, para ajudar no controle da doença”.

O Professor Carlos Eduardo de Almeida, coordenador científico do Programa Nacional de Formação em Radioterapia e coordenador geral do programa de Pós-graduação em Física Médica da Uerj, esclarece que o projeto nasceu a partir do lançamento do Programa Nacional de Extensão em Radioterapia, em 2012, pelo Ministério da Saúde. “Sabemos que entre 40 e 50 mil pacientes não têm acesso à radioterapia por falta de equipamentos e serviços. É um plano ambicioso e a nossa preocupação dentro desse projeto foi formar recursos humanos para suprir essa demanda. Só temos a agradecer a toda a equipe da Fundação do Câncer, à Uerj e aos alunos por terem tornado isso possível”.

Peter Rodenbeck, diretor presidente do Conselho de Diretores da Fundação do Câncer, descreveu o evento como a concretização de um outro campo de atividades da Fundação, a educação. “O Professor Carlos Eduardo Almeida elevou o nível de organização das iniciativas de ensino. O sucesso do projeto mostra a qualidade das pessoas que estão ao redor e dentro da Fundação, e que podem nos ajudar a evoluir nessa direção. Ninguém sobrevive sem educação no cardápio”.

Medicina humanizada num país de profundas desigualdades

As profundas desigualdades que marcam o Brasil foram mais um motivo para investir numa qualificação que contemple a medicina humanizada. Sobre isso, na cerimônia de formatura da primeira fase do Programa Nacional de Formação em Radioterapia, Dr. Maltoni declarou que a sensação é de dever cumprido, já que os formandos vão replicar o conhecimento adquirido ao longo do curso. “Estamos preparando pessoas pra cuidar de pessoas num país tão grande como o nosso, que precisa de gente capacitada atuando na área da radioterapia. Mais do que formar 20 mestrandos e quatro turmas de técnicos com 20 alunos cada, criamos entre eles uma rede de colaboração. Independente de onde estejam, eles podem comparar casos e tirar dúvidas”.

Paulo Leonardo de Souza Ferri, também orador da turma de físicos médicos, reforçou a relevância do curso para o cenário nacional da radioterapia. “2017 foi o ano dos estágios. Alguns de nós, que se afastaram das famílias para estudar no Rio, retornaram para suas cidades, mas a maioria foi conhecer novos lugares. Nossa formação ganhou outra dimensão, ganhou o Brasil. Um país muito desigual, com muitos avanços, mas também de muitas carências, como descobrimos em outros estados. Aliás, um objetivo desse curso, que nunca devemos esquecer, é contribuir para diminuir essas carências”.

Os técnicos Raimundo Nonato Silveira de Lima e Josimar de Azevedo Soares podem falar com propriedade sobre essa desigualdade entre as regiões do Brasil. Nonato trabalhava em Rio Branco, no Acre, com aparelhos obsoletos. Durante a prática do curso, teve a oportunidade de operar aceleradores lineares, a tecnologia mais atualizada em radioterapia. A intensidade teórica também impactou Nonato. De acordo com ele, grande parte dos técnicos sequer recebe explicações sobre o que é a radioterapia em suas formações de base. O cearense Josimar também se impressionou com a diferença entre a realidade vista no curso e a do exercício da profissão na sua cidade natal, Fortaleza, onde, segundo ele, os técnicos recebem um treinamento precário.

Nonato e Josimar também estão de acordo sobre outro ponto: o diferencial do curso oferecido pela Fundação. “É a preocupação com a humanização do atendimento. Nós estamos lidando com vidas que já estão sensibilizadas e precisam da gente. Além de profissionais da área, técnicos e físicos, tivemos aulas com psicólogos. É um curso tão completo que agregamos conhecimento de outras áreas, que não necessariamente vamos executar, mas que contribuem para a nossa compreensão do tratamento como um todo”, observa Nonato.

Redação

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