Para levantarmos e caminharmos no nosso dia a dia é preciso ter uma condição de sustentação, apoiada sobre nossas pernas, quadris e coluna. Se alguma dessas partes de nosso corpo não funciona adequadamente, necessitamos identificar e corrigir o problema para nos mantermos de pé. É uma correlação, de caráter livre, que faço sobre o tema que aqui se propõe abordar nesse material.
Também para as empresas é preciso ter condições adequadas para que essas mantenham sua sustentabilidade. Diferentes fatores e contextos podem comprometer essa capacidade, especialmente quando se trata de países ainda considerados em desenvolvimento, como o caso do Brasil.
Fatores políticos, econômicos e sociais têm interferência direta quando tratamos de sustentabilidade, especialmente quando as empresas são da área de prestação de serviços de saúde. Saúde é condição básica de vida, até mesmo tratando-se de sobrevivência, o que se torna relevante diante do recente cenário de dificuldades que o país vem atravessando nos últimos anos. Segundo estudos produzidos e divulgados pela consultoria Ideia Sustentável (www.ideiasustentavel.com.br/sustentabilidade-na-area-de-saude) “muitas doenças que assolam a população mundial poderiam ser minimizadas com países mais sustentáveis; segundo o Instituto Trata Brasil, numa lista de 200 países, o Brasil é o 112º no ranking em qualidade de saneamento básico. A falta de um sistema de saneamento adequado gera uma série de doenças na população, como Diarreia, Cólera, Hepatites, Leptospirose, entre outras”.
A sustentabilidade empresarial deve ser pautada por estratégias e iniciativas definidas de forma estruturada e de aplicação perene. Considerar os fatores acima citados, políticos, econômicos e sociais, assim como também os ambientais, tecnológicos e especificamente de saúde, é fator-chave de sucesso para garantir algum êxito nessa direção da sustentabilidade.
O aumento progressivo e desordenado dos custos em saúde tem sido um dos desafios de destaque no fator economia. Ao mesmo tempo em que, por exemplo, a incorporação de novas tecnologias traz vantagens competitivas em alguma medida junto à concorrência, a incapacidade de recuperar os investimentos em médio prazo e o uso inapropriado ou excessivo dessas tecnologias têm causado dificuldades financeiras para muitas instituições de saúde. Nesse mesmo contexto também se incluem os custos de natureza trabalhista, impostos por uma legislação e regulamentos tributários complexos e de grande impacto nas instituições.
Para essas instituições de saúde, tendo como produto principal a assistência à pacientes/clientes, a qualidade tem sido um fator diferencial na sustentabilidade dos negócios. O cliente atual mudou de perfil e tem novas referências e exigências. Sua segurança ou de seus familiares é o elemento essencial para avaliar bem a prestação do serviço, mesmo quando não dispõe de instalações de nível elevado ou diferenciado.
O uso de metodologias de avaliação contínua e de reconhecimento de qualidade e segurança, como as de Acreditação têm sido cada vez mais entendidas como critério de escolha, especialmente as que trabalham com padrões e métodos internacionais. Essas metodologias permitem aos gestores conhecer e utilizar conceitos, padrões, referências, ferramentas, assim como indicadores objetivos, plenamente aplicáveis aos processos e métodos de gestão e operação das instituições de saúde. O ganho de efetividade tem sido avaliado e registrado como uma real ocorrência nas instituições acreditadas/certificadas.
No mais recente manual de acreditação hospitalar, publicado em 2017 pela Joint Commission International (JCI), representada no Brasil por seu associado, o Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), foram incluídos padrões e requisitos em seu programa global de acreditação que tratam especificamente dos aspectos de sustentabilidade da instituição. Nos capítulos que tratam do Governo, Liderança e Direção e de Melhoria da Qualidade e Segurança do Paciente foram incluídos padrões que tratam da avaliação e do monitoramento da eficácia de processos assistenciais e de gestão, também relacionados com aspectos de custos e efetividades. Exemplo é o padrão que diz: “O diretor geral e a liderança do hospital priorizam quais processos considerados abrangentes no hospital serão medidos, quais atividades de melhoria e segurança do paciente consideradas abrangentes no hospital serão implementadas e como o sucesso desses esforços gerais serão mensurados”. Outro exemplo inclui requisitos como: “…diretor geral e a liderança do hospital também avaliam o impacto das melhorias. Medir a melhoria na eficiência de um processo clínico complexo e/ou identificar reduções no custo e no uso de recursos após a melhoria de um processo, são exemplos. Medir o impacto de uma melhoria ajuda a compreender os custos relativos do investimento em qualidade e o retorno humano, financeiro e outros retornos sobre esse investimento. O diretor geral e a liderança do hospital apoiam a criação de ferramentas simples para determinar o uso de recursos do processo antigo e para avaliar um processo novo. É importante compreender como o impacto de uma melhoria no resultado do paciente, o custo relativo e a resultante eficiência do processo contribuem para o estabelecimento de prioridades melhores no futuro, no nível organização e no nível do departamento/serviço”.
Portanto, retomando o raciocínio inicial, é preciso ter atenção e tomar cuidados para manter um satisfatório grau de sustentabilidade. Para as empresas, aqui com destaque para as de saúde, novamente utilizando a correlação livre, as pernas podem ser comparadas com condições estruturais e ambientais sólidas; os quadris, modelos e condutas de políticas que sejam articuláveis ou adaptáveis, se adequando aos movimentos ou contextos dos cenários políticos, econômicos ou sociais nos quais estão inseridas, e a coluna, certamente a capacidade de configurar e manter uma estratégia de governança e de planejamento equilibrada e consistente com o perfil ou o negócio estabelecido. Ressalvo, para finalizar, que ferramentas estruturadas, como a metodologia de acreditação, propiciam estabelecer diagnósticos reais e atuais, indicando parâmetros, padrões e referências que podem ser, efetiva e objetivamente, capazes de dar perenidade aos princípios da governança, como aqueles estabelecidos pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa: transparência, equidade, prestação de contas (accountability) e responsabilidade corporativa.
Heleno Costa Júnior é mestre em Avaliação de Sistemas pela Fundação Cesgranrio/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especialista em Administração Hospitalar pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e em Acreditação Internacional pela Joint Commission International (JCI). Atualmente, ocupa o cargo de assessor da Superintendência do Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA)